NEGÓCIOS DIVERSIFICADOS, por JOÃO MARQUES.

 

Desde que foram revelados os escândalos de assédio sexual envolvendo o produtor de Hollywood Harvey Weinstein multiplicaram-se as denúncias, tanto na Europa, como nos Estados-Unidos de todas as tipologias de abusos a que a mulher tem sido sujeita, desde o seu local de trabalho, com os tribunais a condenarem os infratores, mas sem conseguirem escapar a nebulosas processuais.

Pena é que isto só aconteça num número restrito de países, pois avolumam-se os casos de violações de mulheres e crianças em África, no Médio Oriente, na Ásia e na América Latina, seja porque o país se encontra em guerras internas, pela pobreza generalizada em que as populações vivem ou fruto de perseguições étnicas, crimes que gozam de uma total impunidade, surgindo, agora, os casos verificados em organizações não-governamentais (Oxfam, Médicos sem Fronteiras) e, certamente, que não ficaremos por aqui.

Ainda muito recentemente uma menina francesa de onze anos foi obrigada a ter uma relação com um homem casado, com mais do dobro da sua idade, tendo o tribunal considerado que se tratou de um “abuso” e não de “uma violação”, estando agora o parlamento a tentar definir uma idade mínima para a aceitabilidade e não penalização de tais atos.

Mas, regressemos a Hollywood, agora com uma película ainda inacabada, realizada pelo FBI e tendo treze russos como intérpretes, num cenário que se identifica com o período das últimas eleições presidenciais americanas, o mesmo FBI que se revelou incapaz de travar o assassinato de 17 jovens, num liceu de Parkland (Flórida), quando um mês antes recebera informações detalhadas do que se iria passar.

Quanto aos russos, eu que por aqui habito e não conheço nenhum, desde o verão passado que sei das estreitas relações entre o Presidente americano e os oligarcas russos, a começar pelo senhor Dmitri Rybolovlev, ex-magnata do potássio e a viver tranquilamente no Mónaco, onde também é proprietário do principal clube de futebol. Foi ele que adquiriu a moradia de Trump em Palm Beach, conhecida estância turística da Flórida, por 95 milhões de dólares, em plena crise dos “subprimes” (2008), proporcionando um lucro de 54 milhões ao que, na época, era um promotor imobiliário em falência total, já com o seu grupo hoteleiro em cessação de pagamentos, com vários processos em tribunal, e com o Deutsche Bank a exigir o pagamento de 40 milhões que concedera a Trump para a construção de um edifício (torre), na cidade de Chicago.

Tal moradia tão dispendiosa, acabaria por ser demolida e transformada em dois lotes de construção, transacionados nos últimos trimestres de 2016/7 a sociedades com sedes em paraísos fiscais, como revela o “JDD” (Journal de Dimanche), na sua última edição dominical. Portanto, estamos no mundo dos negócios, agora com a estratégica ação do genro e do filho de Trump.

Todavia e como ainda há jornalismo de investigação, Luke Harding (Collusion, Flammarion, 2017) já demonstrara as ligações no Banco de Chipre, entre o magnata russo e o atual responsável pela pasta do comércio no governo de Washington.

Entre outras questões que superam o enunciado deste texto, surge uma, inevitavelmente: como é possível que alguém com esta “dimensão”, não só seja sufragado como Presidente dos Estados-Unidos da América, como determine, nesta condição, as opções estratégicas geopolíticas mundiais. Percebe-se melhor – no meu entendimento – as razões para o descalabro incontrolável em que nos encontramos em termos planetários, com um Médio e Grande Orientes em guerra há sete anos, uma África sugada no seu potencial, agora com uma intervenção chinesa relembrando velhos tempos e a consagração impetuosa das desigualdades que proliferam e todos nós sentimos.

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