Trickle down ou trickle up eis a questão. E qual tem sido a opção? Parte II – 19. “O questionário do futuro grande colapso”  e “Os lamentáveis arranjos de Mario Draghi” Por Simone Wapler

Uma nova série sobre as novas tempestades que se vislumbram já no horizonte

Imagem 2 Trickle-Down CADILLAC

 Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

Parte II – 19. “O questionário do futuro grande colapso”  e “Os lamentáveis arranjos de Mario Draghi”

Por Simone Wapler Parte II texto 18 simone wapler

Agora newLogo2018 , em 22 de fevereiro de 2018

O questionário do futuro grande colapso

O mundo financeiro ter-se-á tornado suficientemente bizarro ao ponto de que as mesmas causas não produzam os mesmos efeitos?

Comecemos por um pequeno questionário, caro leitor.

Lembre-se das suas memórias respeitantes à crise de crédito subprime.

Consideremos que o início desta crise foi em 9 de agosto de 2007: o BNP Paribas suspende os levantamentos dos seus clientes em três dos seus fundos.

-1- Quanto tempo decorreu entre o momento em que a FED começou a aumentar as suas taxas diretoras e o momento em que a crise estalou?

Um mês? Um ano? Dois anos?

-2- A que nível de taxas diretoras explodiram os créditos subprime ont-il?

2,5%? 3%? 5%? Superior a 5%?

-3- Qual era o rendimento dos títulos do Tesouro americano a 10 anos?

1%? 2%? 3%? 4%? Superior a 4%?

-4- Qual era então o endividamento mundial?

110 000 milhares de milhões de dólares? 150 000 milhares de milhões de dólares? 200 000 milhares de milhões de dólares?

Eis as respostas.

A FED aumentou as suas taxas diretoras de 2004 a 2006 durante um pouco menos de dois anos, passando-as de 1% a 5%. Assim que surgiram os primeiros sinais alarmantes, a FED parou os aumentos. O rendimento do título do Tesouro americano ultrapassou ligeiramente 5% antes de voltar a descer em 2007 para 4,5%. O endividamento mundial era um pouco menos de 140 000 milhares de milhões de dólares.

A bolha de maus créditos amontoados desde 2001 desapareceu sob o efeito da subida das taxas de juro.

Admitamos que – mesmo no mundo delirante dos banqueiros centrais e dos economistas intervencionistas – as mesmas causas produzem os mesmos efeitos.

Questão subsidiária ao meu questionário do dia:

Quanto tempo e que taxas serão necessárias desta vez para que a pirâmide de créditos apodrecidos desapareça?

Um indicador: a pirâmide de maus créditos atinge agora 233 000 milhares de milhões de dólares.

Portanto a priori, é menos tempo e vai estalar a uma taxa inferior…

Trickle down Parte II Texto 18 1

Dito isto, Jerome Powell [presidente da FED] é diferente de Ben Bernanke e de Janet Yellen. Não é um académico, tem experiência na banca. É um iniciado.

Bernanke e Yellen viviam no melhor mundo ilusório dos grandes planificadores, pretendendo que controlavam os mercados financeiros e a economia.

O discurso inaugural de Powell não fez menção «aos mercados» mas à responsabilidade da Fed (1) em relação «à estabilidade do sistema financeiro e à integridade do sistema de pagamentos». Ele considera também que (2) «o sistema financeiro é agora bem mais sólido que antes da crise financeira que teve início há uma década».

Powell é ele um impostor também, ou um infiltrado muito bem informado? Será possível que apesar do crescimento dos créditos aos estudantes, do crédito automóvel subprime, dos créditos ao consumo, o sistema financeiro de 2018 seja mais sólido que o de 2007?

As taxas diretoras sobem desde dezembro de 2015. Há mais de dois anos mas apenas 1,5%…

As mesmas causas produzem os mesmos efeitos…

Aquilo que é anormal regressa à normalidade…

O que é anormal, hoje, é a pirâmide de dívidas. Ela regressará a zero, de uma maneira ou outra. Eis o que deve guiar a vossa estratégia. E chamo a vossa atenção para a crónica de Bill [Bonner] sobre o que representa o ouro.

 

Texto original aqui.

(1) We play a key role in ensuring the stability of our financial system, and the integrity of our payment system.

(2) Our financial system is now far stronger and more resilient than it was before the financial crisisthat began about a decade ago. We intend to keep it that way.

 

Os lamentáveis arranjos de Mario Draghi

A redução de recompras de obrigações pelo BCE leva a danos colaterais inesperados: a ascensão das taxas de longa duração nos Estados Unidos, o que ameaça os zombies.

Se as taxas longas sobem nos Estados Unidos, a culpa é do Banco Central Europeu, explicou-nos a Bloomberg ontem.

Em resumo: as compras de Mario Draghi têm secado o mercado europeu de obrigações; os investidores institucionais (ditos zinzins) por estarem em dificuldades de investimentos líquidos e não-arriscados na Europa, têm então comprado títulos do Tesouro americano; Mario Draghi reduz as suas compras o que deixa mais títulos em euros disponíveis no mercado; por isso, os zinzins da zona euro deixam as obrigações americanas e retomam a compra de  títulos europeus.

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De facto, as aquisições de Draghi eram tão massivas que excederam a capacidade de emissão de títulos de alguns governos; o movimento dos zinzins para a zona do dólar era consequentemente importante. Bloomberg refere-se a uma cifra de 1.200 milhares de milhões de dólares de compras vindas da zona euro.

O volume do mercado europeu de obrigações atingia mais de 3,5 milhares de milhões de euros no início de 2015 antes do BCE intervir. Está agora reduzido a 1,6 milhares de milhões de euros.

A politica monetária de flexibilização quantitativa (quantitative easing) tem, portanto, também forçado as taxas à baixa nos Estados Unidos. A sobrevivência dos zombies incapazes de honrar suas dívidas depende de taxas longas baixas. Parece que, no momento, os zombies americanos estão mais em perigo do que os zombies europeus.

O índice de ações S&P 500 começa a reconhecer a mudança no mercado de obrigações. Com os rendimentos a 10 anos acima de 2,8%, as ações, são encaradas como estando muito caras (demasiado caras) e as suas cotações caem.

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O que é que Jerome Powell vai fazer? Será que ele terá a coragem de não agir e deixar o mercado marchar por si-próprio? Será que os zombies vão finalmente morrer?

Ninguém tem a resposta a estas perguntas (e certamente não os zombies do Office of Financial Research que é suposto alertar o público em caso de perigo, como Bill Bonner explica).

Mas três coisas são seguras:

  • A volatilidade dos mercados financeiros está a progredir.
  • A sobrevivência do atual sistema financeiro parasita depende de taxas baixas.
  • O leitor não tem nada a ganhar deixando o seu dinheiro exposto a estes riscos em troca de uma remuneração patética.

 

Texto original aqui.

 

A autora:

Simone Wapler, redatora chefe de Publications Agora, é engenheira e jornalista de formação, especialista em metais, matérias primas e setor de energia.

 

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