CARTA DE BRAGA – “atenção aos semáforos!” – por ANTÓNIO OLIVEIRA

 

 

Estamos a viver tempos de risco em que se procura a melhor segurança que se possa instalar, tanto interior ou exteriormente, por se ter a noção de um futuro incerto e absolutamente incompreensível.

Olha-se em volta e damos conta das novas formas de comunicação como modo de censurar ou cortar com o passado, vemos o populismo e a incultura a crescer em tudo quanto é sítio, os novos senhores da política com que nos confrontamos (confronto é o conceito certo neste caso!) dando-se a conhecer através de selfies e episódios totalmente distintos daquilo a que, ainda não há muito tempo, se dizia sabedoria ou conhecimento.

As formas da democracia baseiam-se em tweets e somos cada vez mais controlados e dominados por uma globalização facebookiana, que vem tentando destruir as conquistas democráticas como a separação de poderes (os exemplos são demasiados e universais), com as redes a assumirem-se mandantes desta novel (por nova, jovem e inexperiente) sociedade!

Ainda tenho Nietzsche presente, não há factos, só interpretações! até por me parecer não ter já razão de ser porque, da interpretação filosófica individual se caiu numa interpretação colectiva, determinada por um máximo de cento e quarenta caracteres.

O problema é que essa interpretação colectiva, ligada directamente a fenómenos de massas, se mostra empinocada e alcandorada a barreira ideológica, embelezada com o afectivo e o emotivo das interpretações, fortalecida pela impreparação e incultura, maioritárias em quem as frequenta.

Uma sociedade de comunicação generalizada que nos arrasta, diz Vattimo, para a fabulação do mundo, porque as imagens transmitidas se constituem na própria objectividade desse mundo e não apenas na sua interpretação!

Deste modo, ao avaliarmos a mudança do discurso social nos últimos anos, não podemos afastar ou negar a importância do ecrã em detrimento do livro e das práticas que ele impunha, tanto o controlo sobre o próprio livro como o favorecer da criação e pensamento abstracto.

Se pensarmos bem, o ecrã visto como o espaço de representação do real, já manipulador pela garantia de veracidade da imagem, pode ainda ser acusado de não passar de um simples mostruário de fantasias, vivências de desejos, fobias e muito convívio com o alheio.

Ao ver-se a grande maioria sempre colada ao ecrã do telemóvel, do iPad ou do computador, só não se lê em dispositivos electrónicos por que as editoras não o entendem bem! garante George Steiner.

Lembro-me que, quando garoto, sonhava ser invisível para poder viver aventuras de assombrar, a imaginação a correr livre e sem freios por terras fantásticas e entre coisas impossíveis, tudo à boa maneira de Chesterton, o homem dos paradoxos, posso acreditar no impossível, mas não no improvável!

Aliás, uma das frases que o Maio de 68 festejou (e já lá vão cinquenta anos!), gritava “Vamos ser realistas! Vamos pedir sempre o impossível!”

Hoje, ninguém se atreve a negar a liberdade de sonhar mas, se andar com os pés na terra, não se esqueça de colocar os auscultadores, nem de que não pode tirar os olhos do ecrã do telemóvel, mas…

atenção aos semáforos!

António M. Oliveira

 

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

3 Comments

  1. POIS, MEU AMIGO…hOJE, O RISCO DE NOS ESBARRARMOS EM TUDO, CONTRA TUDO…Já não basta a miopia que se vai instalando, vamos, também, deixando de VER o que há para ver…Tudo é ecran, tudo é virtual, a realidade está no que nos quiserem “servir” no momento…Valha-nos a lucidez !!!Ler-te é . exactamente, olhar, com mais lucidez o mundo que nos rodeia… ????
    Um abraço!! CL

  2. É meu querido Amigo, o nosso mundo está tão virtual, que vamos ficando indiferentes a tudo, como se as guerras , “de verdade”, fossem apenas as dos jogos de computador…pobre caminho este para a humanidade, que tanto se desumaniza e se vai demitindo de pensar e de viver a sério!
    Grande abraço.
    M.M.

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