CARTA DE BRAGA – “O pobre está na moda!” – por ANTÓNIO OLIVEIRA

 

 

Um império, a saber pelo que li num sítio qualquer, é um território em expansão, integrando mesmo uma grande variedade de línguas e culturas, mas regido e regimentado por uma elite que faz questão de estar bem distante dos governados.

Ainda de acordo com aquele texto, são só as classes médias a permitir a mantença de tal império, por serem amantes de instituições baseadas na lei e na ordem, aliás a garantia basilar da mantença das elites no poder.

Aparentemente, a diminuição e cortes nos vencimentos e pagas de serviços (versão desandada de pagamentos) não se coadunam com essas instituições, dando origem ao aparecimento de personagens tragicómicas, as que agora se podem apontar um pouco por todo o mundo, tentando impor soluções alternativas, das austeridades às rábulas como ‘o meu botão é maior que o teu!

Acontece que essas personagens geram figuras menores, assumindo caricaturas mais ou menos grotescas e ridículas, tanto pela forma como pelo conteúdo e também sem sustentáculo histórico ou cultural, mas a fomentar e aumentar o demérito das democracias, já roídas internamente por lobbies e corrupções de todo o tipo.

As consequências do aparecimento e publicitação dessas formas da anticultura são difíceis de quantificar e qualificar, tanto mais que são os media a ‘legitimar’ que elas próprias se assumam como inspiradoras das correntes impositivas de ‘estilos’ e modos de viver.

E encontra-se de tudo na promoção desses ‘novos estilos’, desde apartamentos onde só se pode entrar de lado, àquilo a que já vi chamar ‘trabacações’ ou maneiras de combinar trabalho com tempos livres, ao ‘nesting’ que não é mais do que ficar em casa o fim-de-semana todo para não gastar dinheiro e mais uma a que chamam ‘wardrobing’ – usar roupa com etiqueta para a poder devolver depois.

Penso, tal como mais gente estudiosa destas questões, que se trata de uma poderosa e genial operação global de manipulação, provocada pela mudança de paradigma no ventre dos impérios referidos inicialmente, com a generalidade de povos e gentes a passar por situações de enorme precariedade. Os impérios buscam assim, que eles aceitem essa precariedade tão ordeiramente como os caloiros aceitam as humilhações daquilo a que ‘chamam’ praxes e dos cortejos.

E são os próprios donos das finanças a alertar toda a gente para os problemas que sempre chegam, quando as elites dos impérios, as tais que vivem longe dos governados, fazem as suas próprias guerras, hoje maioritariamente comerciais.

Os pobres serão quem mais sofrerá com uma guerra comercial, disse a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, reagindo ao anúncio de Washington de suspender a isenção de taxas na importação do aço e alumínio da UE, México e Canadá’, traziam os jornais há uns dias atrás.

E como a vida é feita de pequenos nadas, a mudança de paradigma já em vigor é bem notória nas calças de ganga vendidas (muito caras como é devido!) agora grandemente usadas por gente de todas as condições. Os rasgões tanto permitem o uso das etiquetas originais como pespegar-lhes as wardrobingadas de outras calças quaisquer.

O problema só virá a acontecer quando os rasgões ocuparem mais espaço que o tecido!

Talvez quando voltarem a aumentar as austeridades porque, pelo que se vê, o pobre está na moda!

 

Nota Enquanto isto, as merkeys e os salvinis da Europa esquecem a Ética, a Estética, a Justiça Universal, a Caridade e a Humanidade, ao recusarem socorro, ajuda e sobrevivência a milhares de fugidos das guerras que os impérios a que pertencem fomentaram sempre – António Oliveira.

 

António M. Oliveira

 

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

1 Comment

  1. O teu saber , a tua sabedoria faz-nos reflecir…Usas a ironia pondo a nu o grotesco do nosso mundo!!!!
    Gosto de te ler…Na verdade, por onde andarão a Justiça, a Fratenidade, o bom senso? Não sou incrédula, mas que a coisa está preta, é bem verdade!!!!!Abração, meu amigo!!!

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