IMAGEM E POESIA – Por José Magalhães (130)

SE EU NÃO EXISTISSE

 

 

Não me importa morrer,

Fisicamente,

Morrer,

Não faz mal,

É assim, é natural,

O que me chateia, claramente,

É deixar de viver,

Facto que é para mim, vital,

E, como é evidente,

Um assunto letal.

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Se eu não existisse

Que falta faria?

Onde estaria?

Para onde iria?

Na verdade não sei, já o disse.

Não me interessa ser famoso

Conhecido, prestigioso,

Isso é coisa efémera, passageira,

Que em toda a existência

Não é mais que brincadeira.

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Quero ser sempiterno!

Não quero ir,

Desistir de viver, falir,

Quero ficar,

Montar no cavalo da lembrança, e cavalgar,

Não quero morrer

Para os que me amam,

Emudecer,

Nem quero ser esquecido,

Iria sentir-me mal, perdido…

Quero ser importante,

Quero fazer falta,

Como se existisse para sempre,

Ser recordado em cada instante,

Sem pena, nem repente,

Como se me mantivesse na ribalta.

.

Olhem para mim, e vejam!

Os adjectivos sobejam.

Não sou morno,

Nem amorfo,

Não sou nem quente nem frio,

Nem quem não cheira e quem não pede,

Serei como a corrente de um rio

Que trás o bom e o mau, mas que o não mede.

Não sou gente que não presta

Não sou inútil

Nem economizo afectos.

Dou tudo o que me resta

Sem ser fútil

Ou de falsa modéstia.

Quero estar presente em quem me quer bem.

Em quem me aprecia o nada

Que tenho e que sou

E de onde tudo vem.

Que do meu nada sai tudo.

Do meu vazio, crio a estrutura

Que provoca as ideias que depois eu estudo

Umas vezes mal, outras por vezes também,

E que criam em mim uma cultura

Que dá frutos com pele de veludo

E faziam sorrir a minha mãe.

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Se eu não existisse, que falta faria?

Nenhuma, por certo,

Assim eu o ouviria.

E da minha existência e do meu caminho errante e incerto,

Do meu meridiano, e do meu amado caderno

Ninguém saberia.

Nem a quem eu, para sempre, amaria

Nem tão pouco a quem jurei ser eterno!

 

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