“FLORINHAS DE SOROR NADA” de LUISA COSTA GOMES por Clara Castilho

Este livro conta a história de uma criança que quer ser santa. De seu nome Teresa Maria, nascida numa família da burguesia do interior de Portugal, na segunda metade do século XX, vive a infância obcecada pelas vidas e exemplos dos santos, nomeadamente da sua homónima Teresa d’Ávila.

Da casa familiar ao colégio de freiras, de onde é expulsa, até à sua fuga da casa materna, acompanhamos a vida singular de Teresa Maria, a santa que não quer sê-lo. E somos surpreendidos com episódios extraordinários da vida de alguns santos, muitos deles desconhecidos da maioria dos leitores.

“Teresa, a jovem Teresa, sozinha algures  numa igreja, num colégio de província, tentando evitar a todo o custo o ressentimento por se ser bom e não se ser amado, por se procurar o bem e não se ser recompensado. É neste devaneio que ela vive, da mente que não consegue manter-se solidamente ancorada no amor de Deus, nem no sentimento de não ser digna do olhar de Deus. Não sabe que ais fazer para ser vista por Ele senão exibir a sua dor, trabalhar para obter uma graça caprichosa, que nunca se merece, nem se pode forçar; lutar para não sentir esse capricho como uma injustiça, e aceitar, como Job, estas e todas as outras desgraças que não merece”.

Luísa Costa Gomes é licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa. Foi por vários anos professora do Ensino Secundário e trabalhou ainda no programa Escritores nas Escolas. Traduziu livros, traduziu e legendou filmes. Tem colaborado em vários jornais e revistas, programas de rádio e televisão.
A sua obra literária começou com a publicação, em 1981, do livro “Treze Contos de Sobressalto”. Desde aí já lá vai dezena e meia de títulos, entre o conto, o romance, o teatro e a crónica, com variados prémios, e traduções no estrangeiro. Várias das suas peças subiram ao palco. Escreveu o libretto de algumas óperas, entre elas o célebre “Corvo Branco”, de Philip Glass, com encenação de Robert Wilson, apresentado por ocasião da Expo 98 (e também em Madrid e em Nova Iorque). Criou a revista de contos FICÇÕES, que dirige e coordena.

Luísa Costa Gomes não aparece em festivais, encontros literário, sessões de leitura.  Diz ao Jornal “Sol” (30 de Abril 2018) Eu não sou capaz. Há o recato. Há também a preguiça, pura e simples. …Não é uma coisa que me diga muito. Não estou a esnobar. Do que eu gosto mesmo é de estar em casa a escrever.” E descreve Teresa, a sua personagem: “enquanto criança, tem uma grande necessidade de liderança, um grande sentimento de si, e que se identifica e se revê naqueles modelos que estão disponíveis na sua cultura, a ideia do olho de Deus incluída.

Claro, ser permanentemente vigiada, estar sempre na cabeça de outra pessoa, no seu olhar maligno, a ideia de alguém que está permanentemente a imaginar o mal que nós estaríamos a imaginar fazer. E, depois, é extremamente libertador quando percebemos que ninguém está a pensar em nós, que o pai tem a vida dele, que a mãe está também noutra. Tudo isto é sentido como um abandono, assim como a questão de não ter a presença de Deus. É algo que lhe cria perplexidade.”

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