A minha neta e a crise no Serviço Nacional de Saúde. Ainda algumas reflexões mais sobre a democracia, em Portugal e na União Europeia – Anexo 4 : A política económica e o custo de nada fazer – Parte B: Os princípios e os instrumentos de política económica como resposta à crise em Franklin Roosevelt

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Anexo 4 : A política económica e o custo de nada fazer – Parte B: Os princípios e os instrumentos de política económica como resposta à crise em Franklin Roosevelt

Retomemos três momentos fundamentais, para o que aqui nos interessa, da Administração Roosevelt:

  1. O discurso de Pittsburg
  2. Discurso sobre o Estado da União 1938 (excertos)
  3. Discurso sobre o Estado da União 1944 (excertos)

 

Sublinho que no discurso de Pittsburg, Rooselevet ataca a opção de nada fazer, de deixar andar para ver, ou seja, o oposto do que a Administração Portuguesa, por imposição de Bruxelas e agora também por opção, tem feito. Ataca igualmente a visão do défice zero em situação de crise económica e social. Em destaque duas pequenas frases e foi a memória destas que me incentivou em muito a fazer esta carta aberta e a criar os anexos à mesma.

 

Eu adoptei, por conseguinte, a outra alternativa. Eu deixei de lado a hipótese de nada fazer ou a de esperar para ver.

Como um primeiro passo no nosso programa tivemos que parar rapidamente a espiral da deflação e da queda do rendimento nacional. Tendo-as parado, passámos a procurar restaurar o poder de compra, a aumentar os valores, a colocar as pessoas de volta ao trabalho e a iniciar a subida do rendimento nacional.

 

 

E agora uma palavra para esse medo insensato à volta do peso esmagador que a dívida irá impor aos filhos de todos nós, aos vossos e aos meus. Esta dívida não vai ser paga por tributação opressiva sobre as gerações futuras. Ela não vai ser paga pela extorsão das poupanças duramente adquiridas da geração atual.

Ela vai ser paga pelo acréscimo do rendimento nacional e pelo aumento dos rendimentos individuais gerados pelo aumento da prosperidade nacional.

 

 

Anexo 4 B 1 – O discurso de Pittsburg (em 1 de outubro de 1936) (excertos retirados de http://www.fdrlibrary.marist.edu/_resources/images/msf/msf00955)

“A situação quando a Administração Democrática chega ao poder em 1933 mostrava-se com um défice líquido nas nossas contas nacionais de cerca de 3 mil milhões dólares, acumulados nos últimos três anos sob a direcção do meu antecessor.

O rendimento nacional estava numa espiral descendente. As receitas do governo federal estavam numa espiral descendente. O querer aumentar e significativamente novos impostos não nos levaria a lugar nenhum porque os valores estavam a cair.

Para além de ter que responder às despesas ordinárias de governo, eu reconheci a obrigação do Governo Federal dever alimentar e cuidar do crescente exército de desempregados e milhões de gente sem-abrigo, sem casa.

Alguma coisa tinha de ser feita. Uma escolha nacional tinha de ser feita. Poderíamos fazer uma de duas coisas. Algumas pessoas que estavam sentadas à minha frente junto à minha secretária de trabalho pediram-me, nessa época, para que deixasse a natureza seguir o seu curso e continuar então a política de não fazer nada. Eu rejeitei esse conselho porque a natureza estava com um humor de muito zangada.

Ter aceite esse conselho teria significado continuar a exterminar as pessoas de pequenos meios – a continuarem a perder as suas casas, as suas pequenas quintas e os seus pequenos negócios para caírem nas mãos de pessoas que ainda tinham capital suficiente de lado para as adquirir, as casas, as fazendas agrícolas, as pequenas empresas, mas a preços de falência. Ter aceite esse conselho teria significado, num curto espaço de tempo, a perda de todos os recursos de uma multidão de indivíduos, de famílias e de pequenas empresas. E teríamos assistido, por todo o país, à concentração da propriedade nas mãos de um ou dois por cento da população, uma concentração inigualável em qualquer grande nação desde os tempos do Império Romano.

E assim o programa desta Administração foi estabelecido com a finalidade de proteger os pequenos negócios, a pequena empresa, o pequeno estabelecimento comercial da vaga de deflação que os ameaçava. Percebemos, então, como fazemos agora, que o vasto exército dos homens de pequenos negócios e os donos de pequenas fábricas e de lojas, juntamente com os nossos agricultores e os nossos trabalhadores, formam a espinha dorsal da vida industrial da América. No nosso plano de longo prazo, reconhecemos que a prosperidade da América dependia, e continuaria a depender, da prosperidade de todos eles.

Rejeitei o conselho que me foi dado para não fazer nada por uma razão adicional. Eu tinha prometido, e a minha administração nisso estava determinada, a proteger o povo dos Estados Unidos da fome.

Recusei-me a deixar a satisfação das necessidades humanas unicamente nas mãos de comunidades locais, comunidades locais essas que estavam elas próprias quase falidas.

Ter aceite esse conselho teria consistido em oferecer mais uma vez a sopa dos pobres ao povo americano, sabendo desta vez, no entanto, que em muitos lugares as bichas para a sopa dos pobres iriam durar muito mais tempo do que a própria sopa. Naqueles dias sombrios, entre nós e um orçamento equilibrado estavam milhões de americanos necessitados a quem era negada a promessa de uma vida decente na América.

Equilibrar então o nosso orçamento em 1933 ou 1934 ou 1935 teria sido um crime contra o povo americano. Para o fazermos teríamos que aplicar uma carga de impostos que seria uma pura confiscação ou deveríamos então virar as costas ao sofrimento humano com uma empedernida indiferença. Quando os americanos sofreram, nós recusámo-nos a passar para o outro lado. A Humanidade está primeiro.

Ninguém de ânimo leve coloca um fardo sobre o rendimento de uma nação. Mas esse círculo vicioso da queda do nosso rendimento nacional simplesmente tinha que ser cortado. Os banqueiros e os industriais da Nação gritaram em voz alta que os negócios privados eram impotentes para o cortar. Eles voltaram-se então, como eles tinham o direito de se virarem, para o Governo. Nós aceitámos a responsabilidade última do Governo, depois de tudo o mais ter falhado, de gastar o dinheiro quando ninguém mais tinha dinheiro de sobra para gastar.

I adotei, por conseguinte, a outra alternativa. Eu deixei de lado a hipótese de nada fazer ou a de esperar para ver.

Como um primeiro passo no nosso programa tivemos que parar rapidamente a espiral da deflação e da queda do rendimento nacional. Tendo-as parado, passámos a procurar restaurar o poder de compra, a aumentar os valores, a colocar as pessoas de volta ao trabalho e a iniciar a subida do rendimento nacional.

Em 1933, invertemos a política da administração anterior. Pela primeira vez desde a depressão teve-se um Congresso e uma administração em Washington, que tiveram a coragem de possibilitar os recursos necessários que os interesses privados não tinham ou não se atreveram a arriscar.

Isso custa dinheiro. Sabíamos, e todos o sabiam, em março de 1933, que iria custar muito dinheiro. Sabíamos, e todos o sabiam, que iria custar muito dinheiro e por vários anos.

As pessoas compreenderam em 1933. Elas compreenderam-no em 1934, quando deram à Administração um total apoio à sua política. Elas sabiam em 1935 e elas sabem em 1936, que o plano está a funcionar.

Tudo bem, meus amigos, vamos olhar para os custos. Uma vez que não poderíamos receber o dinheiro através de impostos, pedimo-lo emprestado e com isso aumentou a dívida pública.

O governo do presidente Hoover aumentou a dívida nacional no montante líquido de mais de três mil milhões de dólares, em três anos de depressão e havia muito pouco onde se pudesse mostrar como foi ele gasto. A minha Administração tem aumentado a dívida nacional no montante líquido de cerca de oito mil milhões de dólares e há muito para mostrar sobre isso.

Coloquem esse valor de oito mil milhões aqui no cartaz e deixem-me dizer-lhes onde foram os dólares aplicados.

Mais de um milhar e meio de milhões foram para o pagamento de bónus aos veteranos da Primeira Guerra Mundial este ano, em vez de o ser em 1945. Este pagamento está agora já arrumado e deixou pois de constituir uma obrigação futura do Governo.

Quanto aos outros seis mil milhões e meio de défices nós não nos limitámos a gastar o dinheiro; nós gastámo-lo nalguma coisa. A América tem algo com o que nós gastámos, na conservação de recursos humanos através do programa Civilian Conservation Corps nos campos e na assistência ao trabalho, na conservação dos recursos naturais da água, do solo e das florestas; milhares de milhões para a segurança e para uma vida melhor na América. Enquanto muitos que criticam hoje tudo isto estavam a vender a América a curto prazo, nós estivemos a investir no futuro da América.

Comparemos estas despesas e o que temos feito e ganho com elas contra outras despesas do povo americano entre os anos de 1920 e 1930. Durante esse período, não apenas oito mil milhões, mas muitos mais milhares de milhões saíram do bolso dos americanos e foram enviados para o exterior, para países estrangeiros onde o dinheiro foi usado para aumentar os armamentos estrangeiros, para a construção de fábricas no exterior para depois concorrerem connosco, para a construção de habitações no estrangeiro, para a construção de piscinas e matadouros, para dar emprego aos desempregados estrangeiros – estrangeiros inúteis, se assim se quiser.

Esses dólares, milhares de milhões deles, são tão bons como o dinheiro americano – ganho com o suor do seu povo – exactamente como a recompensa da nossa poupança – como os dólares que gastámos durante estes três anos no nosso país a dar trabalho para os desempregados. A maioria desses dólares enviados para o exterior foram-se para sempre, nunca mais voltam. Esses milhares de milhões, perdidos para nós sob as administrações anteriores, não incluem, aliás, os outros milhares de milhões emprestados pelos Estados Unidos aos governos estrangeiros durante e imediatamente após a Guerra.

Faço-lhes uma simples pergunta: será que não foi um investimento mais sólido para nós, durante estes últimos três anos, gastar oito mil milhões de dólares na indústria americana, nas explorações agrícolas americanas, nas famílias americanas e nos cuidados de saúde dos cidadãos norte-americanos?

Eu utilizei o montante de oito mil milhões de dólares que representa o aumento da nossa dívida nacional. Imediatamente haverá pessoas que irão a correr para os jornais ou para o microfone a dizerem que a minha aritmética está toda ela errada. Eles dir-vos-ão que o aumento da dívida nacional é de treze mil milhões, em vez de oito. Isso é técnica e moralmente tão correcto como se alguém estivesse a tentar assustar-vos sobre a condição do vosso banco, apontando os seus passivos mas não vos dizendo nada sobre os seus ativos.

Isso é técnica e moralmente tão correto como dizer que aqui na Pensilvânia, não há nenhum dos vossos depósitos bancários ou apólices de seguro que estejam em segurança. Isso é técnica e moralmente tão correto como dizer às pessoas aqui da Pennsylvania que nenhum dos seus depósitos bancários ou apólices de seguro são sólidos.

Quando lhes disserem que o Tesouro dos Estados Unidos tem mais de treze mil milhões de passivos do que tinha em 1933, também lhes deverão dizer que têm seis mil milhões de dólares de aumento no valor dos ativos, aumentos esses imputados a esses passivos.

Em três anos, a nossa dívida pública líquida aumentou de oito mil milhões de dólares. Mas em dois anos da última guerra ela aumentou tanto quanto 25 mil milhões de dólares. A defesa nacional e o futuro da América estavam em jogo em 1917. A defesa nacional e o futuro da América também estavam em jogo em 1933. Não acham que salvar a América por este preço tem estado barato? Era mais do que a defesa, era mais do que um resgate. Isto foi um investimento no futuro da América.

E, aliás, hoje é um aniversário nos trabalhos do nosso Governo, que eu gostaria de comemorar com todos vós e com o povo americano. É o primeiro de outubro e que marca o fim de todo um ano inteiro em que não houve nem uma única falência bancária nacional em todos os Estados Unidos. E foi há 55 anos que esse tipo de registo se verificou. Todos vós e eu mesmo podemos aproveitar esta ocasião para nos regozijarmos com este registo. É a prova de que o programa funcionou.

Comparem os dados que têm sobre Pittsburgh agora com os dados que tinham quando eu estive aqui há quatro anos. Naquele momento, enquanto eu atravessava estes grandes vales, eu podia ver milha após milha desta enorme área de oficinas e fábricas, um panorama de morte feito de estruturas negras silenciosas e de chaminés sem deitarem fumo. Eu vi aqui a falta de trabalho e a fome, em vez de ver e ouvir o turbilhão das máquinas. Hoje, cheguei ao norte vindo da Virgínia Ocidental e vi minas a funcionarem, vi azáfama e vida, ouvi o silvo das máquinas a vapor, o bater de aço com aço – o crepitante cantar da indústria.

E agora uma palavra para esse medo insensato à volta do peso esmagador que a dívida irá impor os filhos de todos nós, aos vossos e aos meus. Esta dívida não vai ser paga por tributação opressiva sobre as gerações futuras. Ela não vai ser paga pela extorsão das poupanças duramente adquiridas da geração actual.

Ela vai ser paga pelo acréscimo do rendimento nacional e pelo aumento dos rendimentos individuais gerados pelo aumento da prosperidade nacional.

O défice governamental nacional tem vindo a diminuir de forma sustentada nestes três últimos anos, embora tecnicamente este ano ele não tenha diminuído porque pagámos o bónus [Adjusted Compensation Payment Act ou Bonus Act] este ano em vez de o pagar em 1945. Sem isso, o défice teria diminuído este ano também.

A verdade é que estamos melhor do que esperávamos em 1933. O rendimento nacional subiu mais rápido do que ousámos na altura antecipar. Os défices têm sido menores do que esperávamos. As receitas fiscais também estão a aumentar. A dívida nacional hoje em relação ao rendimento nacional é muito menos do que o era em 1933, quando esta administração tomou posse.

O rendimento nacional era de trinta e oito mil milhões em 1932. Em 1935 foi 53 mil milhões e este ano vai estar bem acima dos sessenta mil milhões. Se continuar a subir ao ritmo atual, como estou confiante de que assim vai acontecer, as receitas do governo, sem impor quaisquer impostos adicionais, dentro de um ano ou dois serão suficientes para responder a todas as despesas ordinárias e aos apoios sociais do governo — em outras palavras, para equilibrar o orçamento anual.

O governo desta grande Nação, solvente, sólido em crédito, tem estado a emergir através de uma enorme crise tão grave como uma guerra sem com isso ter sacrificado a democracia americana ou os ideais da vida americana.”

Sobre o período 1936-1938, assinala o documento “FDR: From Budget Balancer to Keynesian” do Instituto Roosevelt (https://fdrlibrary.org/budget):

“(…) Como a economia melhorou, mais americanos estavam já a trabalhar e houve uma antecipação do aumento de receitas fiscais como resultado da retoma económica. De 1933 a 1937, o desemprego tinha sido reduzido de 25% para 14%, ainda uma grande percentagem, mas uma grande melhoria. A reacção de FDR foi de regressar à ortodoxia orçamental do seu tempo, e começou a reduzir o apoio social de emergência e a despesa feita em obras públicas, num esforço para verdadeiramente equilibrar o orçamento. O país foi então lançado naquilo que é hoje conhecido como a recessão de Roosevelt de 1937-1938. O desemprego ameaçou subir para os níveis do pré-New Deal e a economia dava sinais claros de parar de crescer.

O Secretário do Tesouro Henry Morgenthau, Jr., e os seus assessores no departamento do Tesouro, defendiam uma abordagem que procurava equilibrar o orçamento federal. Mas outros conselheiros no círculo íntimo do Presidente, incluindo Harry Hopkins, Marriner Eccles e Henry Wallace, tinham aceite as recentes teorias do economista britânico John Maynard Keynes, que defendia que as economias tecnicamente avançadas precisariam de ter défices orçamentais permanentes ou outras medidas (tais como a redistribuição de rendimento por tributação dos ricos) para estimular o consumo de bens e manter o pleno emprego. Foi a redução da despesa federal que estes conselheiros viram como a causa da recessão.

FDR considerou estes argumentos como convincentes na sequência da recessão. Na sua mensagem anual ao Congresso em 3 de janeiro de 1938, o presidente Roosevelt manifestou a sua intenção de procurar financiamento em grande escala para financiar as despesas públicas sem aumentos de impostos e desafiou os conservadores em matéria de orçamento que não ofereciam alternativas convincentes durante esse tempo de crise económica nacional. (…)”.

E aqui chegamos pois ao Discurso sobre o estado da União de 1938.

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Anexo 4 B 2 – Discurso sobre o estado da União em 3 de janeiro de 1938 (excertos retirados de http://www.let.rug.nl/usa/presidents/franklin-delano-roosevelt/state-of-the-union-1938.php)

Senhor Primeiro-ministro, mais uma vez a política de Roosevelt e a política praticada na Europa neste tempo de crise estão em clara oposição nos factos e nos princípios.

 

Estou tão ansioso como qualquer banqueiro ou industrial ou homem de negócios ou investidor ou economista que o orçamento público dos Estados Unidos seja posto em equilíbrio o mais rapidamente possível. Mas coloco na mesa certas condições que parecem razoáveis e que eu acredito que todos irão aceitar.

A primeira condição é que continuamos a política de não permitir que todo e qualquer americano carente que pode e está disposto a trabalhar possa morrer de fome, porque o governo federal não lhe fornece trabalho.

A segunda condição é que o Congresso e a Administração Americana se deem as mãos para eliminar ou reduzir qualquer atividade federal que possa ser eliminada ou restringida ou mesmo adiada sem prejudicar as funções governamentais necessárias ou a segurança da nação a partir de um ponto de vista nacional.

A terceira condição é elevar o poder de compra da nação a ponto de que os impostos sobre este poder de compra -ou, por outras palavras, sobre o rendimento da nação – sejam suficientes para satisfazer as despesas públicas necessárias do governo nacional.

” (…) Nós fizemos subir o rendimento nacional $38 mil milhões no ano 1932 para aproximadamente $68 mil milhões no ano de 1937. A nossa meta, o nosso objetivo, é que ele aumente para 90 ou 100 mil milhões de dólares.

Ouvimos falar muito sobre um orçamento equilibrado, e é interessante notar que muitos daqueles que defenderam a existência de um orçamento equilibrado como a única necessidade, vêm agora ter comigo a defender o aumento das despesas públicas à custa do desequilíbrio do orçamento. Como o Congresso está plenamente consciente, o défice anual, grande desde há vários anos, tem vindo a diminuir durante o último exercício. O orçamento proposto para 1939, que enviarei em breve ao Congresso, vai apresentar uma nova diminuição do défice, embora não um equilíbrio entre receitas e despesas.

A muitos daqueles que me têm defendido um imediato equilíbrio do orçamento, através de uma acentuada redução ou mesmo eliminação de funções de governo, fiz-lhes a pergunta: “quais os gastos presentes que proporia reduzir ou eliminar?” E a invariável resposta tem sido “que não é essa a minha função – eu não sei nada dos detalhes, mas tenho a certeza de que poderia ser feito.” Isto não é o que poderia chamar de cidadania útil.

Num só ponto, a maioria deles me deu uma sugestão. Eles pensam que aliviar a situação dos desempregados dando-lhes trabalho é um desperdício, e quando os pressiono para que se definam descubro que, no fundo, são a favor de substituir um trabalho útil pelo subsídio de desemprego. Quanto a isso, nem eu nem, estou certo, os senadores e Representantes no Congresso, daremos alguma vez o nosso consentimento.

Estou tão ansioso como qualquer banqueiro ou industrial ou homem de negócios ou investidor ou economista que o orçamento público dos Estados Unidos seja posto em equilíbrio o mais rapidamente possível. Mas coloco na mesa certas condições que parecem razoáveis e que penso que todos devem aceitar.

A primeira condição é que continuamos a política de não permitir que todo e qualquer americano carente que pode e está disposto a trabalhar possa morrer de fome, porque o governo federal não lhe fornece trabalho.

A segunda condição é que o Congresso e a Administração Americana se deem as mãos para eliminar ou reduzir qualquer atividade federal que possa ser eliminada ou restringida ou mesmo adiada sem prejudicar as funções governamentais necessárias ou a segurança da nação a partir de um ponto de vista nacional.

A terceira condição é elevar o poder de compra da nação a ponto de que os impostos sobre este poder de compra -ou, por outras palavras, sobre o rendimento da nação – sejam suficientes para satisfazer as despesas públicas necessárias do governo nacional.

Até agora tenho expresso que, na minha opinião, as despesas públicas não podem ser cortadas muito abaixo de 7 mil milhões de dólares num ano sem destruir funções essenciais que podem evitar que as pessoas possam morrer de fome. Essa mesma soma pode ser obtida e será concedida com muita satisfação pelo povo americano, se pudermos aumentar o rendimento da nação para um valor bem acima do nível atual.

Isto não significa que à medida que o rendimento da nação aumenta, que as despesas publicas devam aumentar na mesma proporção. Pelo contrário, o Congresso e o Executivo devem fazer todos os esforços possíveis para manter o nível das despesas públicas normais aproximadamente ao nível atual, tornando possível, com um aumento no rendimento da nação e o aumento resultante das receitas fiscais, não só equilibrar os orçamentos futuros mas também reduzir a dívida.

(…)

O governo tem uma responsabilidade última pelo bem-estar dos seus cidadãos. Se os esforços de cooperação do setor privado não conseguem fornecer trabalho para aqueles que desejam trabalhar nem aliviar os infelizes, todos aqueles que sofrem sem que isso seja da sua própria responsabilidade têm o direito de apelar ao Governo para que os ajudemos; e um governo digno desse nome deve dar-lhes a resposta adequada.

É a oportunidade e o dever de todos aqueles que têm fé nos métodos e processos democráticos aplicados na indústria, na agricultura, e nos negócios, bem como no domínio da política, de se emprenharem ao máximo para cooperar com o governo – sem considerar a filiação política, interesses especiais, ou preconceitos económicos- em todo e qualquer programa que os representantes escolhidos do povo possam aprovar.

Isso pressupõe pela parte dos representantes do povo, um programa, a sua aprovação e a sua administração.

Isto não é somente por causa das promessas dos programas do partido, não por causa das claras políticas seguidas nestes últimos 5 anos, mas principalmente por causa da necessidade da unidade nacional em acabar com os erros do passado e em satisfazer as necessidades de hoje, nós devemos seguir em frente.

Eu não tenciono defraudar o povo americano.

Estou certo de que o Congresso dos Estados Unidos não defraudará o povo americano.”

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Anexo 4 B 3 – Discurso sobre o estado da União em 11 de janeiro de 1944 (excertos retirados de https://fdrlibrary.org/address-text)

 

O único objetivo supremo para o futuro, em cada nação individualmente considerada, e para todas as Nações Unidas, pode ser resumido numa só palavra: segurança.

E isso significa não só a segurança física que nos garante a segurança contra ataques de agressores. Significa também segurança económica, segurança social, segurança moral — numa família de nações.

 

” (…) O único objetivo supremo para o futuro, em cada nação individualmente considerada, e para todas as Nações Unidas, pode ser resumido numa só palavra: segurança.

E isso significa não só a segurança física que nos garante a segurança contra ataques de agressores. Significa também segurança económica, segurança social, segurança moral — numa família de nações.

(…)

É nosso dever começar agora a lançar os planos e a determinar a estratégia para a conquista de uma paz duradoura e o estabelecimento de um padrão americano de vida mais alto do que nunca antes conhecido. Não nos podemos satisfazer, não importa o quão alto esse padrão de vida possa ser, se alguma fração do nosso povo, seja um terço ou um quinto ou um décimo, está mal alimentado, mal vestido, mal abrigado e vive inseguro.

Esta República viu a luz do dia e cresceu até atingir a sua força atual, sob a proteção de certos direitos políticos inalienáveis – entre eles o direito de liberdade de expressão, imprensa livre, liberdade de culto, o direito de ser julgado por um júri, e o direito de não ser objeto de buscas e apreensões injustificadas. Estes eram os nossos direitos à vida e à liberdade.

Como a nossa nação cresceu em dimensão e em estatura – ao mesmo tempo que a nossa economia industrial se expandia – estes direitos políticos mostraram-se inadequados para nos assegurar a igualdade na busca do bem-estar.

Ganhámos uma clara consciência do facto de que a verdadeira liberdade individual não pode existir sem segurança económica e sem independência. “Os homens necessitados não são homens livres”. As pessoas que estão com fome e estão sem trabalho são a base em que assentam as ditaduras.

Nos nossos dias, estas verdades económicas tornaram-se aceites como evidentes. Aceitámos, por assim dizer, uma segunda Declaração de Direitos a partir da qual uma nova base de segurança e prosperidade pode ser estabelecida para todos, independentemente da posição, raça ou credo.

Entre estes, estão os seguintes:

O direito a um trabalho útil e remuneração adequada nas indústrias, lojas, agricultura ou nas minas do país;

O direito de ganhar o suficiente para adequadamente se alimentar, vestir e ter tempos livres;

O direito de cada agricultor colher e vender os seus produtos a um preço que lhes dará um rendimento que lhes permita, a eles e às suas famílias levar uma vida decente;

O direito de todos os empresários, grandes e pequenos, negociarem numa atmosfera de liberdade sem concorrência desleal e sem dominação pelos monopólios, tanto no plano nacional como internacional;

O direito de cada família a ter um lar decente;

O direito à assistência médica adequada e a oportunidade de alcançar e gozar de boa saúde;

O direito à proteção adequada livre dos receios económicos da velhice, da doença, dos acidentes e do desemprego;

O direito a uma boa educação.

Todos estes direitos são sinónimos de segurança. E depois desta guerra ter sido ganha, devemos estar preparados para avançar, na implementação destes direitos, para novos objetivos de felicidade humana e bem-estar.

O lugar legítimo da América no mundo depende, em grande parte, da maneira como estes, e outros direitos semelhantes, são levados à prática aos nossos cidadãos. Porque sem segurança aqui, na nossa casa, não pode haver paz duradoura no mundo.

Um dos grandes industriais americanos dos nossos dias – um homem que prestou grandes serviços ao seu país nesta crise – recentemente sublinhou os graves perigos da “reação de direita ” nesta nação. Todos os empresários lúcidos partilham a sua preocupação. Na verdade, se uma tal reação se desenvolvesse – se a história se repetir e nós voltarmos para a chamada “normalidade ” da década de 1920 – então é certo que, embora tenhamos vencido os nossos inimigos nos campos de batalha no estrangeiro, teríamos então cedido ao espírito do fascismo aqui, na nossa própria casa. (…)”

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