A responsabilidade da esquerda na trajetória de ascensão do neoliberalismo – algumas grelhas de leitura – 3. A leitura de Robert Kuttner – B. Como os defensores da globalização cederam o campo a Donald Trump

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Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

B – Como os defensores da globalização cederam o campo a Donald Trump

A menos que o mainstream ofereça algo melhor, ele será a voz do nacionalismo económico.

Robert Kuttner Por Robert Kuttner

Publicado por The American Prospect em 19 de março de 2018

Quando se trata de compreender a dinâmica da globalização e a reação contra ela, a descrição mediática das guerras tarifárias de Donald Trump mostra que a visão dominante neoliberal sobre o comércio internacional é tão louca à sua maneira quanto Donald Trump é – e em que Trump é o beneficiário da sua miopia. Deixem-me explicar.

Durante três décadas, a ala presidencial de ambos os partidos dos EUA, apoiada por economistas e elites financeiras ortodoxas, patrocinaram uma marca de globalização que serve às grandes empresas e aos banqueiros, mas ignora o impacto sobre as pessoas comuns. Esse impacto díspar é invariavelmente posto de lado com as banalidades habituais sobre o livre comércio ser eficiente e o protecionismo ser uma prática economicamente irracional própria de mentalidades retrógradas e irracionais. Fomos tratados com essas homilias, ad nauseam, depois de Trump ter imposto tarifas sobre o aço e o alumínio.

O que é esquecido é o facto de haver mais do que uma forma de globalização. Em contraste com a marca actual, o sistema económico global criado em Bretton Woods em 1944 foi uma rutura radical com o laissez-faire. Os fundadores do sistema do pós-guerra tinham memórias vivas dos frutos amargos do capitalismo desenfreado – a depressão, o fascismo e a guerra. Eles queriam construir uma forma estável e igualitária de economia mista, para que esta história nunca se repetisse. Mas, tragicamente, ela está a ser repetida hoje, à medida que os mercados globais alastram e semeiam uma reação neo-fascista.

Não foi por acaso que o principal arquiteto de Bretton Woods foi John Maynard Keynes. A arquitetura global concebida em Bretton Woods destinava-se a complementar e apoiar economias de elevado crescimento e pleno emprego internamente. A especulação financeira privada foi contida e os fundos de reconstrução eram substancialmente públicos. Durante três décadas, o Ocidente combinou altas taxas de crescimento com o aumento da igualdade e da segurança para os cidadãos comuns.

Mas uma grande mudança no poder e na ideologia dominante transformou o mercado global em algo mais parecido com o sistema pré-Roosevelt. Os acordos “de comércio” foram implantados para desmantelar o capitalismo administrado. Os trabalhadores não só sofreram; eles perderam a confiança nas elites globalistas – e pior ainda, no próprio governo e até mesmo na democracia.

Quanto mais os bem-pensantes se debruçam sobre a globalização, mais são as deserções que eles geram e mais são os líderes que nós recebemos como Donald Trump.

Esta é uma patologia que abrange todo o sistema. É por isso que a reação negativa e a adesão aos homens fortes ultra-nacionalistas são tão semelhantes em todo o Ocidente. Quanto mais os bem-pensantes se debruçam sobre a globalização, mais são as deserções que eles geram e mais são os líderes que nós recebemos, como Donald Trump.

Esta história é o tema do meu livro recente, Can Democracy Survive Global Capitalism? Como observo, o contrato social do pós-guerra foi único na história do capitalismo – uma combinação de acidentes felizes e de mudanças de poder. Isso incluiu a desgraça do laissez-faire e do Partido Republicano no Grande Colapso de 1929; o radicalismo de Franklin Roosevelt; o maior prestígio do governo ao ultrapassar a Grande Depressão  e a vitória na Segunda Guerra Mundial (num país normalmente suspeito de tudo que é o Estado); o legado do planeamento em tempo de guerra; o maior poder do trabalho organizado e a repressão regulatória sobre o capital organizado; o papel do dólar num sistema de taxa de câmbio fixa; e a ameaça do bolchevismo, que levou a América a apoiar urgentemente a reconstrução europeia usando um planeamento estatal substancial.

A experiência do pós-guerra demonstrou que uma economia mista pode ser socialmente mais justa e economicamente mais eficiente do que uma economia de laissez-faire. Assumimos que essa revolução na teoria económica e na política era permanente e a nova normalidade. Mas ignorámos o poder latente do capital numa economia que permanece fundamentalmente capitalista. Quando os banqueiros e as grandes empresas recuperaram o seu poder político habitual após a turbulência económica da década de 1970, eles foram capazes de derrubar grande parte do que constituía o capitalismo onde o Estado é economicamente determinante.

O novo globalismo – a utilização de acordos “de comércio” para minar a regulação interna e a proteção dos trabalhadores – tornou-se um instrumento fundamental. As elites políticas não levaram em conta as consequências políticas que se foram lentamente acumulando e que culminaram na eleição de Trump e dos seus homólogos. Os marxistas costumavam assumir que os excessos do capitalismo uniriam os trabalhadores do mundo. A história mostra que o resultado é mais tipicamente uma adesão ao fascismo.

Em suma, todo o paradigma da “livre-troca” como ótimo está errado. Nenhum progressista lúcido alguma vez terá procurado ver o mercado mais livre possível como um fim em si mesmo.

As diatribes contra o “protecionismo” são alheias à história económica num outro aspeto. Todas as grandes potências industriais, incluindo a América do século XIX, utilizado desvios flagrantes relativamente ao laissez-faire para desenvolverem a sua respetiva base industrial. Isso inclui subsídios, investimentos públicos, aquisições preferenciais e, é claro, tarifas. A ideia de que uma tarifa é ineficiente assenta numa visão estática, em vez de uma apreciação do valor dinâmico de ganhar proficiência industrial ao longo do tempo.

Se o Japão tivesse seguido o conselho dos defensores da livre-troca na década de 1950, exportando produtos em que então tinha uma vantagem (como brinquedos baratos) e  comprando produtos industriais que não produzia aos Estados Unidos, o Japão nunca teria desenvolvido o seu prodigioso sucesso em carros, aço, semicondutores, máquinas-ferramentas e toda a gama de produtos avançados de produção e de consumo. Tudo isso exigia proteção. O Japão utilizou um sistema de cartéis, de subsídios às exportações, de restrição de importações e outros dispositivos para tornar praticamente impossível para os grandes produtores americanos venderem no Japão. Mas quando o congressista Dick Gephardt se queixou da economia protegida do Japão, ele foi insultado como protecionista.

O que é verdade para o Japão (e em graus variados para o Brasil, Coreia, França, Alemanha, os Estados Unidos e até mesmo a Grã-Bretanha) é verdade, de sobra, para a China. Pequim usa um sistema de capitalismo de Estado, também conhecido como neomercantilismo, que desafia tudo o que as elites ocidentais consideram como sendo a superioridade dos mercados livres. O governo chinês, trabalhando com industriais favoráveis ao regime, fornece capital barato. Protege -os contra as importações e subsidia as exportações. Aos rivais ocidentais são oferecidas parcerias com os seus homólogos chineses, mas em termos coercitivos que desafiam o comércio normal.

As empresas ocidentais obtêm fábricas subsidiadas e mão-de-obra chinesa barata, competente e reprimida. Mas o parceiro ocidental é muitas vezes proibido de vender no mercado interno chinês e está restrito à produção para exportação. A China coage abertamente ou furta secretamente os segredos comerciais sensíveis aos seus parceiros.

Com esse sistema, a China ganhou uma liderança comercial setor industrial após setor industrial, muitas vezes utilizando subsídios para subvalorizar os rivais ocidentais e colocá-los fora da atividade em causa. Apenas para estar segura do seu sucesso nas exportações, a China interveio por períodos prolongados nos mercados monetários para manter a sua moeda subvalorizada.

De um ponto de vista económico, um tal sistema é suposto não funcionar. Por um lado, viola de forma flagrante os mecanismos de preços de mercado. Por outro lado, ao confiar em acordos entre um Estado chinês não democrático e empresários chineses, o sistema convida à corrupção. Mas qualquer que seja a sua impossibilidade em teoria, o sistema funciona na prática, o suficiente para ter impulsionado a China à liderança económica mundial.

Ao contrário dos soviéticos, cujo sistema de empresa estatal produzia bens de má qualidade em quantidade insuficiente,  ou os argentinos, cujos esforços de proteção resultaram em produtos não competitivos, os chineses acertaram no mercantilismo. De facto, em apenas duas décadas, a China tornou-se o produtor dominante não apenas em indústrias convergindo nas tecnologias utilizadas a Ocidente mas também em tecnologias inovadoras. Em breve será líder em veículos elétricos e internet 5G, e tem um excedente comercial crónico sobre o resto do mundo.

A China rapidamente transformou os seus ganhos económicos em força geopolítica, tornando-se o parceiro económico dominante com grande parte do mundo em desenvolvimento. Como um sistema autocrático, começou a flexibilizar geopoliticamente os seus músculos económicos.

A ascensão da China criou uma crise de ideologia e de política para a elite governante americana. O fracasso abjeto da política americana na China foi uma mistura de cegueira ideológica e de conflitos de interesses. Os líderes políticos, apoiados por economistas ortodoxos, convenceram-se de que, permitindo a entrada da China no sistema global através da sua admissão na OMC, levariam a China na direção da democracia liberal de mercado livre. As pessoas-chave em Wall Street, nomeadamente os habitantes das portas giratórias como Robert Rubin, podem ter tido receios ideológicos ou ansiedades geopolíticas sobre a ascensão da ainda comunista China. Mas as suas empresas estavam a fazer uma fortuna intermediando os negócios da China ou com a China.  Na Universidade, ser apologista de Pequim era receber bons honorários para conferências e generosos apoios para os centros de investigação.

As afirmações de figuras proeminentes dessa época são embaraçosas. George W. Bush poderia insistir: “A liberdade económica cria hábitos de liberdade. E os hábitos de liberdade criam expectativas de democracia. …. Negociemos livremente  com a China, e o tempo está do nosso lado”. Tom Friedman previu claramente, no seu livro The Lexus and the Olive Tree: “A China vai ter uma imprensa livre. A globalização vai levá-la a isso.”

Nenhum desses dignitários pareceu notar que a economia semi-mercado liderada pelo estado da China estava a ter práticas que eram algo diferente da livre-troca. Mas era conveniente acreditar que tudo se passava como pensavam e que os reptos ao protecionismo praticado pela China eram, de alguma forma, protecionistas.

Na edição de Março/Abril da Foreign Affairs, uma revista emblemática do establishment da política externa, dois notáveis admitem muito tardiamente que pessoas como eles se enganaram totalmente sobre a China. Kurt Campbell, ex-Subsecretário de Estado Adjunto para os Assuntos da Ásia Oriental e do Pacífico, e Ely Ratner, um alto funcionário, especialista em questões sobre a China, ambos a servirem na Administração de Barack Obama, escrevem:

O empenhamento diplomático e comercial não trouxe abertura política e económica. Nem o poder militar dos EUA nem o equilíbrio regional impediram Pequim de procurar deslocar componentes centrais do sistema liderado pelos EUA. E a ordem internacional liberal não conseguiu atrair ou vincular a China com tanta força quanto se esperava.

Mais vale tarde do que nunca, suponho, mas já foram feitos danos enormes. E se as ilusões sobre a China estão a ser desfeitas tardiamente, o mesmo não está a acontecer quanto às ilusões sobre a “livre-troca”.

Aqueles conhecedores da China que tinham uma visão dissidente eram um pequeno grupo. Escrevendo em Prospect em 2007, James Mann, ex-correspondente em Pequim do Los Angeles Times, alertou:

O problema fundamental com essa estratégia de integração é que ela levanta a questão óbvia: Quem é que está integrar quem? Estão os Estados Unidos a integrar a China numa nova ordem económica internacional baseada nos princípios do mercado livre? Ou é a China que está agora a integrar os Estados Unidos numa nova ordem política internacional onde a democracia deixa de ser favorecida e onde a contínua erradicação de toda oposição política organizada levada a cabo por um governo é aceite ou ignorada?

Mas as pessoas que tinham tais pontos de vista simplesmente não foram admitidas no establishment da política externa. A Comissão de Análise Económica e de Segurança EUA-China, órgão criado por uma lei do Congresso em 2000, reuniu enciclopédicas evidências sobre os detalhes do capitalismo de Estado da China e as graves consequências para a indústria americana. O seu trabalho foi amplamente ignorado.

O fracasso em abordar o mercantilismo da China foi apenas parte da miopia em torno da marca do globalismo construído por e para as elites económicas. Havia uma desconexão fundamental entre o apoio irrefletido ao comércio internacional desregulamentado e a aceitação, mesmo pelos economistas tradicionais, de que os mercados estão longe de ser perfeitamente eficientes. Os mercados de trabalho precisam de ser regulados para impedir a exploração dos trabalhadores; os mercados de capitais precisam ser regulados para evitar a fraude financeira e as depressões periódicas; o meio ambiente precisa ser regulado para evitar que a indústria o trate como um lava loiças grátis; e o governo precisa de investimento público para suprir quebras na procura agregada e para desenvolver as economias regionais. Portanto, se os mercados estão longe de ser perfeitos internamente, porque razão é que voltam a ser, repentinamente, mercados de eficiência perfeita só porque o comércio atravessa fronteiras? Obviamente, não o são.

As elites de ambos os partidos [Republicano e Democrata] ganharam os debates políticos sobre o comércio internacional, mas perderam as pessoas. Em 2016, milhões de trabalhadores cujas famílias já tinham apoiado os democratas de forma confiável desertaram para o Tea Party e depois para Trump. Do outro lado do Atlântico, os seus homólogos estavam a abandonar os sociais-democratas para apoiar os partidos nacionalistas de extrema-direita. Os conflitos sobre refugiados e sobre as identidades agravaram a reação, mas esta reação era sobretudo económica.

Havia – e há – uma forma diferente de conduzir o comércio internacional. A Organização de Comércio Internacional originalmente proposta em Bretton Woods pretendia um regime que promovesse o comércio mas que, ao mesmo tempo, defendesse a aplicação de normas de trabalho com força de lei na defesa das condições de trabalho condignas. Um tratado criando a OIT foi negociado em 1947, mas nunca foi ratificado. Nós precisamos de revisitar essa abordagem para o comércio internacional. Um imposto sobre transações financeiras desaceleraria o casino financeiro especulativo global. Uma posição muito mais dura sobre a China deixaria claro que se a China não jogar de acordo com as regras do mercado, não pode esperar a entrada dos seus produtos no mercado livre. Um conjunto diferente de normas comerciais deixaria muito espaço para as políticas industriais nacionais. O objetivo geral deveria ser o de recuperar espaço para as nações protegerem as normas sociais e restaurarem um contrato social equilibrado.

Isto significa um tipo de nacionalismo económico, mas o tipo de nacionalismo benigno que prevaleceu durante o boom do pós-guerra, e uma forma de patriotismo legítimo que lembra a solidariedade da Segunda Guerra Mundial. Tem pouco em comum com a versão do nacionalismo de Trump. Muitos democratas no Congresso tentaram seguir essa abordagem, mas eles foram insultados pela ala presidencial do seu partido e ridicularizados pela imprensa.

A adoção bipartidária da globalização das elites, rejeitada visceralmente por dezenas de milhões de cidadãos e contraditada pela história económica, criou um vácuo que foi explorado por Donald Trump. O problema é que Trump pode ser bom a canalizar o descontentamento, mas ele é um fracasso e um farsante a fornecer soluções reais.

A recente zaragata quanto à aplicação de tarifas sobre aço e alumínio ilustra perfeitamente o que Trump faz certo e o que ele faz errado, e como o establishment comercial erra o alvo. Quando Trump ordenou as tarifas, a resposta foi um coro quase universal de ridicularizações. O homem é, obviamente, um ignorante da economia básica. A proteção de um número relativamente pequeno de empregos a nível interno que produzem aço e alumínio seria anulada pela perda de muito mais empregos em indústrias que fabricam produtos que utilizam aço e alumínio – desde carros a latas de cerveja. Trump estava a desencadear uma guerra comercial. Trump, impulsivamente, havia anunciado essas tarifas para surpresa até dos seus assessores mais próximos.

A maior parte desta história estava errada. De facto, um volumoso relatório técnico de Janeiro documentou a abundância mundial de aço e alumínio, a ameaça existencial a essas duas indústrias domésticas importantes, e identificou a China como o principal culpado pela sua enorme sobreprodução subsidiada pelo Estado. As siderúrgicas americanas produzem cerca de 75 milhões de toneladas métricas por ano. A sobrecapacidade da China, que cresceu de praticamente nada em duas décadas, é hoje de mais de 300 milhões de toneladas.

Nem Trump ordenou essas tarifas impulsiva ou abruptamente. O seu Secretário para o Comércio, Wilbur Ross, apresentou-lhe um memorando de decisão onde se mostravam várias opções, incluindo ações mais direcionadas. Trump, sendo Trump, simplesmente avançou com a opção mais burra, tarifas contra todos.

A probabilidade de uma “guerra comercial”, assunto de muita histeria por parte da imprensa, também é sumamente improvável. Na segunda semana de março, Robert Lighthizer, principal funcionário comercial de Trump, já estava em Bruxelas, a reunir-se com os seus homólogos europeus e japoneses. Lighthizer é um especialista sério e bem informado em matérias de comércio internacional. Ele serviu como um dos principais funcionários comerciais de Ronald Reagan, no seio da última administração que considerava o mercantilismo de outras nações como uma potencial ameaça à segurança nacional. Lighthizer passou então a ser um advogado comercial respeitado na prática privada, representando as vítimas do mercantilismo de outras nações.

A história recente das tarifas não é de guerras comerciais mas sim de negociações sobre moedas de troca. Podemos esperar que as negociações nas próximas semanas recuem quanto ao risco de uma guerra tarifária geral, e se Trump ouvir os seus assessores comerciais, o alvo das tarifas e outras ameaças de retaliação deslocar-se-ão contra a China. O que é necessário é uma estratégia geral em que o Ocidente não tolere o capitalismo de estado da China como uma tática para dominar a produção mundial de indústrias-chave, ainda menos quando o mercantilismo económico se transforma numa arma a ser utilizada como parte de um grande projeto geopolítico.

Nas suas decisões iniciais sobre tarifas, a inépcia do próprio Trump foi demasiado longe com a China, afrouxando as rédeas demasiado. Mas até mesmo Trump pode tropeçar no seu caminho até se dar conta de qual é o verdadeiro problema. Em Março, o pouco conhecido Comité de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos (CFIUS) emitiu um relatório recomendando que o governo bloqueie, por razões de segurança nacional, uma proposta de aquisição hostil da fabricante de chips Qualcomm pela Broadcom, uma empresa com sede em Singapura e próxima do governo da China. Trump vetou devidamente a aquisição.

A versão de nacionalismo económico de Trump é uma mistura de táticas erradas, de panaceias demasiado simplificadas e de remédios que não irão reconstruir a indústria americana. Ocasionalmente, como no pedido do CFIUS, Trump faz algo certo. Mesmo as suas tarifas, embora mal direcionadas, abriram a porta para o que deveria ser uma reavaliação muito mais ampla das teorias, metas e políticas geoeconómicas americanas. Se a corrente dominante não levar esse desafio a sério, e especialmente se os Democratas não conseguirem definir uma forma construtiva de nacionalismo económico ao serviço da recuperação do capitalismo onde o Estado é verdadeiramente regulador, ficaremos com a versão de Trump – que é mais feia, mais demagógica e menos eficaz – mas a única oferecida a uma população frustrada.

 

Texto disponível em https://prospect.org/article/how-globalists-ceded-field-donald-trump

O autor: Robert L. Kuttner(1943-) é um jornalista americano e escritor cujos livros apresentam pontos de vista liberal/progressistas. Kuttner é o co-fundador e atual co-editor de The American Prospect, que foi criado em 1990 as an “um magazine qualificado de ideias liberais,” segundo a sua declaração de missão. É professor na Brandeis University’s Heller School. Durante 20 anos foi colunista no Business Week e no The Boston Globe. Atualmente continua aescrever no Huffington Post. É também um dos cinco fundadores do Economic Policy Institute em 1986, integrando presentemente o seu comité executivo. Entre 2007 e 2014, Kuttner aderiu ao centro liberal de investigação e política Demos como ilustree membro senior. O seu último livro é Can democracy Survive Global Capitalism?

 

3 Comments

  1. Durante muito tempo as elites políticas das democracias burguesas vazias do conhecimento do funcionamento da economia e respectiva interligação com a coesão social e apenas olhando para a liberdade de expressão de ideias, muitas delas estéreis, tornaram-se presas fáceis de uma maçonaria liberal que apenas tinham como objectivo parar o movimento comunista esse sim um inimigo a abater pelo ideal de combate à desigualdade de tratamento de integridade entre ricos e pobres. Foi nesta linha de raciocínio e prática que tais movimentos liberais foram habilmente manipulados pela maçonaria para o seguidismo acrítico das teorias do capitalismo monopolista.

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