Que mais há a dizer sobre a violência que as mulheres e crianças e, quantas vezes também, idosos e deficientes, sofrem dentro das suas casas.
Não são raras as vezes em que os vizinhos, os companheiros do café relatam que o agressor era uma pessoa muito simpática e que o casal não discutia.
Muito há ainda a estudar sobre estes comportamentos que não existem só porque sim.
A violência contra as mulheres perde-se no tempo, no entanto, em Portugal estamos ainda longe do seu conhecimento real.
Há, hoje, uma maior consciência deste problema social.
E porque esta violência saiu do foro exclusivamente privado e se tornou num problema social?
A pesar de tudo podemos dizer que hoje a sensibilidade à dor do outro e a intolerância social relativamente à violência têm maior expressão, por vezes inconsequente, é verdade.
As Organizações Não Governamentais que se têm batido contra a violência sobre as mulheres e as crianças têm dado um contributo essencial para a denúncia deste problema e para a pressão exercida sobre as agendas políticas e debates públicos.
As forças de segurança e a legislação a aplicar têm demonstrado, por vezes, uma ineficácia inqualificável que tem levado à morte muitas mulheres e crianças.
Os serviços sociais de apoio e de protecção à vítima são ainda insuficientes e violentos, também, para as vítimas, pois são elas que têm que se afastar das suas vidas, enquanto cidadãs livres, e não os agressores que continuam a desfrutar de todo o seu conforto.
Fomos habituados a acreditar que a família é um local securitário e feito de afectos. Durante muito tempo a violência contra mulheres, crianças, idosos e deficientes só aconteciam nas famílias desestruturadas, com pessoas no desemprego, com homens alcoólicos, com pessoas não escolarizadas.
Hoje já ninguém ignora que a violência se pode encontrar em qualquer casa, em qualquer família.
Os agressores já não são “tontinhos” ou “doentes mentais”, qualquer um o pode ser.
Há, no entanto, algo que faz despoletar esta violência. A sociedade machista, a sociedade feita por homens e para homens baseada na desigualdade de género, sendo sempre a mulher o elo mais fraco desta sociedade?
É preciso mudar as leis pelas quais se regem as penas a aplicar a estes agressores.
Será que só por si, penas mais pesadas diminuem o número de mulheres assassinadas ou maltratadas? Não me consta que onde há pena de morte haja menos violência!
É preciso sim uma outra educação, outros valores de respeito pelo outro, uma educação voltada para a aceitação da frustração, saber que uma relação pode não ser para sempre,
ter apoio social e de protecção na proximidade…
É preciso uma comunidade inteira para educar homens e mulheres. A responsabilidade é de todos.
Quantos serão os casos silenciados pelas vítimas e porquê?