A GALIZA COMO TAREFA – pintadas – Ernesto V. Souza

Escrever protestos a grafitti ou a escova, nos monumentos arqueológicos, nas paredes dos edifícios considerados património é delito e também – vox- populi – uma barbaridade. Danar o património artístico, natural e arqueológico propositadamente e sem motivo é, evidentemente, uma manifestação de vandalismo.

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Imagem de Arcana mundi
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Tomada de El Correo Gallego

 

 

 

 

 

 

 

Porém boa parte dessas mesmas manifestações, bem rechamantes nos muros, entram numa lógica democrática, dentro do protesto admitido, e estão ao amparo e nos limites do direito de expressão. Para além de paredes e muros sem conflito ou incomodo por decoração e com cuidado artístico, a pintada política ou social, o panfleto colado em e contra espaços simbólicos e lugares de memória, tem uma lógica comunicativa direita e evidente.

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Do mesmo jeito e não poucas vezes a correção da pintada por sobreposição de mensagens opostas ou apagamento discriminado e multas por parte da autoridade competente vai configurando um debate gráfico e documentando uma evidente escalada de confrontação e advertência de uma agressividade latente, na rua, marcado pelo nacionalismo galego e espanhol.

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Fonte Galiza Nova via Sermos Galiza
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Em Sermos Galiza

 

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Fundaçom Artárbia

 

Porém, não é do aumento da violência discursiva e do seu correlato gráfico e vandálico-destrutivo que falamos. Senão do conflito que entra em foco quando a reivindicação acontece nos espaços simbólicos, memorísticos e patrimoniais.

Aí, fora a ideologia da pintada e o gosto pessoal por coincidência ou discrepância reivindicativa, as cousas se complicam. Em princípio ambas as questões parecem claras: umas são um vandalismo gratuito, um atentado contra a cultura e o património; outras um modo gritante de protesta.

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Fonte: Europa Press. Via Galicia Confidencial.

A questão é que, sem a justificar mas também não sem ecoar a anedota, a variante reivindicativa talvez não pode ser tratada por igual que a variante vandálica. O vandalismo obedece a uma vontade individual de chamar a atenção, de procurar notoriedade com o ato ou a destruição; mas a reivindicativa procura colocar com escándalo uma mensagem, e também um protesto contra o espaço no que se fixa. Não diretamente contra o espaço (patrimonial) quanto contra o uso e valor simbólico que se dá a este.

E normalmente esse uso, quer dizer que está em uso pela administração e pelo governo: correios, bibliotecas, museus, universidades, delegações do governo, da justiça, da fazenda, das autonomias, ministérios, diputações, municípios, pelas forças militares, policiais e até pela monarquia.

E também o edifício símbolo e património pode estar em uso como espaço de culto religioso. No caso da Espanha portanto em mãos e uso pela igreja católica.

A questão que se evidencia não é apenas a consideração de atentado, destruição intencionada de um bem público e patrimonial, ou contra uma propriedade privada, senão o quê se prioriza no protesto: o uso atual do símbolo ou a realidade patrimonial?

Porém não deixa de resultar curioso, o muito que se magnificam este tipo de sucesso, o jeito em que se espalha e reproduz, como questão palpitante e urgente, desde essa nossa imprensa criadora de realismo mágico propagandístico de imersão.

Nomeadamente resulta curioso num país em que o desrespeito e a destruição dos bens arqueológicos, do património mais singular, do urbanismo, dos espaços naturais, das árvores monumentais e a paisagem é – o património documental, arquivístico e bibliográfico deixamos para outro dia – uma constante; tanto por parte do Estado, das grandes construtoras, quanto dos particulares, no saqueio incontrolado e apropriação (sem irmos mui longe para documentar), sem que exista muito interesse sancionador, ou controlo urbanístico ou paisagístico por parte das autoridades. O desleixo institucional é constante.

Talvez um debate a abrir é também porque o Estado e nomeadamente a Igreja católica, despatrimonializam e usufruem tantos dos monumentos intocáveis com a sua apropriação e presença histórica, simbólica, mensagem e uso particular, por enquanto sobre outros passam sem escándalo, as grandes máquinas e sobre tantos outros que estão à venda em internet não existe qualquer controle ou traçabilidade.

 

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