O ‘velhinho’ Bertrand Russel, que nunca entrou em telenovela nem jogou futebol, costumava dizer, apoiado pela sua imensa sabedoria, ‘os cientistas esforçam-se por fazer possível o impossível. Os políticos por fazer o possível impossível’.
E, a seguir, tinha o cuidado de afirmar ‘parece desonesto e nocivo para a integridade intelectual, acreditar em algo só porque beneficia e não por pensar ser verdade’.
Vem isto a propósito de uma entrevista feita a Ricardo Garcia, jornalista freelancer hoje especialista em questões do ambiente, fundador do ‘Público’ onde trabalhou largos anos, que afirmou, em respostas à pergunta ‘O capitalismo não é verde?’
-‘É verde sempre que alguém ganhe dinheiro com as soluções.O grande motor da mudança é o mercado e não a boa vontade das pessoas. No sistema capitalista, as soluções só aparecem quando alguém ganha dinheiro com elas’.
E, para o bem ou para o mal, creio que não podemos nem devemos esquecer aquele provérbio bem antigo ‘segue o cheiro do dinheiro, se queres saber o que se passa’.
Todo um conjunto de questões, sustentadas por um problema maior, uma sociedade onde é evidente a ausência de reflexão, maioritariamente favorecida pelos órgãos de comunicação que temos, mais preocupados em manter os seus níveis de audiências do que levá-las a regras de aprendizagem, de análise e crítica, a reconsiderar certezas e a tentar saltar fórmulas e hábitos, estabelecidos apenas pelo entretenimento puro e duro.
Não há muito tempo, Ivan Krastev, politólogo num país do leste europeu, referiu este estado de coisas de uma maneira bem rude ‘passámos de uma república de cidadãos a uma república de adeptos, tratam-se os cidadãos como fanáticos do futebol porque, quando perdem, as derrotas nunca são justas. Alguém terá culpa, nunca a sua equipa’.
A letargia da reflexão e da razão é o pilar onde assenta o sistema dos não pensadores, alienados por uma maquinaria social e económica que os leva a acreditar que a filosofia é inútil, que não tem saídas profissionais, que é um luxo cultural e nem dá dinheiro.
Também ‘não foi por acaso que o governo do bolsonaro se propôs reduzir o investimento público nas ciências sociais e na filosofia’, garante Antoni Aguiló, filósofo na Universidade de Coimbra.
Talvez seja bom recordar uma pequena estória de Gabriel Garcia Marquez, a contar de uma senhora que, ao aproximar-se do protagonista num dia de sol, o vê de guarda-chuva e cachecol, pergunta se está constipado e tem como resposta ‘Não, senhora, estou a preparar-me para a tempestade que aí vem’.
Na verdade o descontrolo é enorme, as previsões já não seguras por mais de umas horas, a qualquer altura podemos ser ‘atacados’ por uma daquelas intempéries com nome incríveis, a fazer esquecer o tempo em que as estações do ano eram previsíveis, as frutas apanhadas e comidas na data certa e os saldos marcados com antecedência.
Tudo está a mudar e, aqui, derrota e a culpa são da nossa equipa mas, para não finalizar esta Carta num hino revolucionário, prefiro terminar com uma reflexão do poeta brasileiro Mário Quintana, que diz assim:
“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…”
Só para pensar em pouco!
António M. Oliveira
Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor