CARTA DE BRAGA – “a Austrália e a lixeira” – por ANTÓNIO OLIVEIRA

 

 

 

Os incêndios na Austrália provocaram até agora, a morte de mais de mil milhões de animais das mais variadas espécies.

Ao mesmo tempo a ciência confirma a extinção do peixe-espátula, a espécie emblemática da China, em consequência da sobrepesca e da fragmentação do seu habitat natural.

A crise da biodiversidade é uma realidade não escamoteável que se alimenta da alteração climática e que, por sua vez, a alimenta também.

Os especialistas assinalam o modelo de crescimento capitalista como o responsável primeiro de toda esta conjuntura.

Atendendo ao último relatório do Intergovernmental Platform on Biodiversity and Ecosystem Services (IPBES), a mudança do uso da terra e do mar, a sobreexploração intensiva dos recursos naturais, a alteração climática, a contaminação e a introdução de espécies invasoras, são os factores que mais contribuem para o aumento desregrado da crise actual.

E salientam os especialistas ‘o sistema capitalista, baseado em ritmos rápidos e trepidantes e no consumo «depredador e desaforado» são os elementos que estruturam esta situação de emergência ecológica em que se afundou o planeta e todas as formas de vida’.

E Robert Watson, presidente do IPBES, referiu na apresentação do relatório ‘a saúde dos ecossistemas de que dependemos nós e as demais espécies, deteriora-se mais rapidamente que nunca. Estamos a corroer os sustentáculos das nossas economias, formas de vida, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida em todo o mundo’.

A jornalista e autora Naomi Klein, referindo a escassa rentabilidade da crise da biodiversidade, salienta que ‘o capitalismo do desastre’ leva a que as inversões financeiras se movimentem apenas para as oportunidades económicas abertas pela própria crise.

Já no ano passado, Jason Clay, vice-presidente executivo do World Wildlife Fund, a ONG que actua nas áreas da conservação, investigação e recuperação ambiental, afirmou ‘só a produção de 15 matérias-primas essenciais, é responsável pelos problemas ambientais mais prementes, a deflorestação, o uso de pesticidas e a sobreexploração pesqueira’.

Mais salienta que 70% do comércio internacional desses produtos é liderado por menos de 500 empresas e, nalguns casos, uma única empresa controla a quarta parte de todos o mercado, como a ‘Cargill’ no que se refere ao óleo de palma.

E a ‘Coca-Cola’ é a maior compradora de alumínio à face da terra, a maior compradora de cana do açúcar, a terceira de cítricos, a segunda de vidros e a quinta maior de café.

Não há dúvida alguma de que quando chegar a hora avaliarem as questões da sustentabilidade, a ´Coca-Cola’ é mais importante que as Nações Unidas, afirma a propósito Gerald Butts, que foi director executivo da World Wildlife Fund Canada.

Alguém deveria explicar ao mundo como alguns fulanos continuam a mandar no pequeno pedaço do universo onde vivemos, nem será preciso nomeá-los, mas por vezes lembro Julio Cortázar ‘Deve haver um lugar com uma lixeira onde estão amontoadas todas as explicações

 

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

2 Comments

  1. Finalmente há alguém que, com toda a frontalidade, acusa o capitalismo pela sua responsabilidade na destruição do meio ambiente e consequentemente na aceleração da evolução das alterações climáticas. CLV

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