CARTA DE BRAGA – “da economia da atenção” por António Oliveira

Perseguir a actualidade é uma obsessão quantitativa, muito mais que qualitativa, por ser ‘mania’ generalizada e não exclusiva dos profissionais dos media, sejam eles quais forem.

Queremos saber a qualquer momento como e onde estão os nossos ‘amigos’, esperamos a toda a hora um tweet ou um like como resposta a alguma actualização nossa e ‘confesso com algum desgosto que não sou capaz de resistir a qualquer toque do telemóvel’ dizia-me há poucos dias, um amigo e ex-colega.

Mas esta obsessão quantitativa pela actualidade, também arrasta para debates na caixa das cores, das mentiras e das novidades, para nos perdermos depois no meio de muitas e variadas patetices.

Atrás, já todos penámos um desgosto igual ao do meu amigo, como vamos esquecendo ou desleixando outros hábitos mais agradáveis e modestos, conversar ou ‘beber um copo’ ou ‘tomar um chá’ com amigos e amigas, ouvir um concerto em silêncio, ler um livro, passear ao fim da tarde, olhar um pôr-do-sol e as outras ‘bagatelas’ que nos faziam a existência.

Desenvolvemos e encurtámos sim, o tempo de resposta à pressão excitante das actualizações, a maior parte das vezes cópias mixurucas do que já sabíamos, só que ditas por outro ‘amigo’. E, logo de manhã, ao levantar, agarramos na maquineta, olhamos ou ecrã e desatamos a teclar furiosamente, como se tivéssemos perdido o ‘Alfa’ para a capital!

E a pensar em tudo o que ouço e leio no que se refere aos adictos à actualidade, creio que estamos a viver num mundo administrado pela economia da atenção, sugestões, por um real e autêntico bombardeio de informação, excesso de dados (a ver depois!) e entretenimento, que acaba por nos esgotar, mantendo o cérebro em alerta permanente.

Então, põe-se de lado a leitura, a começar pela do jornal, ouvir ou ‘ouver’ notícias e perder tempo a falar do mundo porque, também o li um dia destes, ‘tudo isto pode provocar um real efeito de estufa’ na cabeça e na vida.

Ainda bem que deixam de parte o coração porque, disse alguém que nem me lembro ‘ter razões que a razão não entende’.

Na verdade, o coração alimenta-se de geografia, biologia, química, lendas, mitos, mentiras e enganos próprios, todo um cocktail que nos altera e estimula os desejos!

Mas não esqueço, a terminar esta Carta sobre a economia da atenção, o título de uma entrevista feita por um jornal diário a Luís Miguel Cintra ‘Há uma vontade do sistema político de estupidificar as pessoas’, garantiu este grande actor português.

Ámen!

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

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