The COVID-19 story: mistakes were made, por Larry Kummer
Fabius Maximus, 3 de Março de 2020
Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Resumo: Sobreviver a uma crise nacional requer uma visão clara do mundo, mas essa é a primeira coisa que perdemos. Aqui estão exemplos das perspectivas confusas e politicamente tendenciosas da população em geral sobre a epidemia da COVID-19. Não nos podemos permitir estar assim .
(1) Deixem-nos utilizar o COVID-19 como arma para atacar Trump!
Do Daily Kos: “Juntamente com o CDC, a USAMRIID tem estado a sofrer cortes no financiamento. Isto não parece muito brilhante. Atualizações.” [1] Quase tudo neste contexto é falso ou enganador, como deveria ser óbvio quando o autor abre com referências a “Fuckthrump”. Os sites esquerdistas transbordam de “histórias” como esta.
– O CDC não está a ter agora cortes de financiamento. Trump propôs reduzir o seu orçamento em 16% (e não “torná-lo deficitário”), como tem feito todos os anos. Mas o Congresso – não sendo tolo, como Trump é – ao invés disso aumentou-o. Veja os detalhes.
– A história que foi contada sobre os americanos evacuados do navio cruzeiro Diamond Princess é um disparate. A história do WaPo dá informações reais sobre as complexas decisões envolvidas. Esta história descreve o seu tratamento após o regresso aos EUA (“Todos estão sob uma quarentena federal de 14 dias nas bases”).
– A afirmação de que “é extremamente provável que uma destas pessoas espalhe o vírus” é apenas inventada. A área da Baía de São Francisco tem centenas ou milhares de pessoas recentemente regressadas da China (300 só no condado de Santa Clara).
– Sobre o “caso índice” de transmissão comunitária. Os grandes títulos das media ignoraram a declaração oficial de que este era um “caso possível” – o veredicto só vem após a conclusão do rastreamento dos contactos (iniciado aproximadamente em 27 de fevereiro) para determinar com quem a pessoa infetada entrou em contato.
– A história da USAMRIID é unilateral; o escritor nem sequer tentou descobrir a razão do corte de financiamento.
(2) Têm sido cometidos erros
Esta é uma notícia preferida dos jornalistas que fingem estar indignados (presumo que estejam a fingir, e não apenas a serem ignorantes). Milhares de instituições em todo o mundo estão a lidar com possíveis casos de COVID-19 (é difícil de distinguir da gripe). E erros foram cometidos. Este Business Insider é típico: “15 erros de funcionários da saúde pública e pessoas comuns que ajudaram a espalhar o coronavírus pelo mundo“, por Sophia Ankel. Apenas 15! Isso é bastante impressionante numa epidemia global causada por um novo vírus.
A Sra. Ankel não pergunta que nível de financiamento criaria a máquina de saúde pública capaz de lidar com uma epidemia como esta com a eficácia quase perfeita que ela considera apropriada. Ou se alguém a pagaria, especialmente nas nações menos desenvolvidas do mundo. Como a China.
(3) A China é incompetente, corrupta e mentirosa!
Naturalmente, depois de uma década de propaganda do governo dos EUA diabolizando a China, a epidemia da COVID-19 provocou um tsunami de ódio para com a China. A China desperdiçou a sua resposta inicial. Será que outras nações com um PIB per capita semelhante, como o México ou a Argentina, teriam feito melhor?
As nações pobres têm sistemas de saúde pública mais fracos do que as ricas. O PIB per capita da China é de 10 mil dólares; o dos Estados Unidos é de 65 mil dólares. Os nossos padrões não podem ser os padrões deles.
Mais importante ainda, embora os seus passos iniciais tenham sido um pouco atrapalhados – a sua resposta depois foi a melhor de sempre – para todos. Eles rapidamente sequenciaram o genoma do vírus e desenvolveram quatro kits de diagnóstico. As quarentenas deles contiveram a epidemia numa província (até agora), de modo que parece ter atingido um pico aproximadamente em 1 de fevereiro.
A minha ideia é que a história não se lembrará dos erros iniciais, mas fará muitos elogios ao que se seguirá. Os americanos podem gozar com isto, mas esta é a resposta de uma superpotência emergente. Será que também o faremos, com a nossa maior riqueza e recursos?
(4) O CDC é incompetente!
Veja a Nota Informativa do CDC para comparar as suas responsabilidades com o seu financiamento. O orçamento do CDC para 2019 era de 7,3 mil milhões de dólares. Do seu orçamento para 2020, 2,6 mil milhões de dólares financiam as suas operações de “Proteção dos Americanos contra Doenças Infeciosas”
– $1.3 mil milhões para HIV/AIDS, Hepatite, STI e TB (STI- doenças sexualmente transmissíveis).
– $730 milhões para Imunização e Doenças Respiratórias (incluindo aquelas como a gripe e a COVID-19).
– $509 milhões para Doenças Infeciosas Emergentes e Zoonóticas.
Por comparação, um submarino classe Virgínia custa 1,8 mil milhões (não incluindo os pesados custos em Investigação e desenvolvimento). A produção leva em média mais de 10 meses de atraso face ao tempo previsto.
Grande parte da máquina da saúde pública é a nível estatal e local. O CDC não tem uma autoridade divina sobre eles. Além disso, a FDA e os Health and Human Services são atores importantes, e muitas vezes têm pouca compreensão dos imperativos de uma epidemia. A coordenação é muitas vezes difícil. A tomada de decisões racionais é por vezes impossível, mesmo antes de os nomeados políticos virem para a mesa.
A grande queixa contra o CDC é que eles optam por não usar os kits de teste desenvolvidos na China, Alemanha e Hong Kong – como a maioria das outras nações desenvolvidas têm feito (muitos mais kits estão em desenvolvimento) – e então o seu kit produziu demasiados resultados inconclusivos. A FDA então (inexplicavelmente) impediu o uso de kits produzidos por outros. Veja mais sobre isso nestes artigos: NY Times,, Nature, e Science. Aqui está um tópico no Twitter com a análise de um especialista sobre como é que isso aconteceu.
Como foi explicado na conferência de imprensa do CDC de 28 de fevereiro, os kits estão agora em produção em massa. Combinados com outros reagentes que o CDC adquiriu, há agora kits de teste suficientes nos EUA para testar mais de 75.000 pessoas. Mais estão a ser fabricados rapidamente. Além disso, o CDC tem dois laboratórios a fazerem testes para o vírus que causa, a COVID-19. O CDC pode testar aproximadamente 350 espécimes por dia.
O seu relatório da situação de 29 de fevereiro diz que “os laboratórios comerciais estão a trabalhar para desenvolver os seus próprios testes que, espera-se, estarão disponíveis em breve”. Isso permitirá que um maior número de testes aconteça perto de onde os casos potenciais se verificam”.
A FDA mudou a sua política, permitindo que centenas de laboratórios pudessem testar a doença.
O panorama geral
Perdidos em toda esta histeria de andar a apontar o dedo é o quadro geral. Esta epidemia é um marco na história em termos da resposta rápida e poderosa das agências de saúde pública do mundo. A China parece ter contido a epidemia para a província de Hubei, e atingiu o seu auge aproximadamente a 1 de Fevereiro (claro, isso pode mudar). Idem para o rápido desenvolvimento de kits de testes. Os kits foram distribuídos um mês depois do COVID-19 ter sido identificada. Para comparação, foram necessários seis meses para o coronavírus responsável pelo surto do vírus SARS de 2002-2003 (detalhes aqui).
Quanto a todos estes erros, as epidemias são como as guerras. Cada uma tem os seus próprios desafios. Não são frequentes, por isso há poucas práticas – que saiam perfeitas. As pressões são imensas para tomar decisões rápidas, com consequências horríveis por estar errado. Os erros são inevitáveis. Como Clausewitz disse no início do Capítulo 7 em “Sobre a Guerra“…
“Enquanto não tivermos conhecimento pessoal da guerra, não podemos conceber onde se encontram essas dificuldades de que tanto se fala, e o que é que esse génio, e esses extraordinários poderes mentais necessários num general devem na verdade fazer. Tudo parece tão simples, todos os ramos do conhecimento necessários parecem tão simples, todas as combinações tão sem importância, que, em comparação com elas, o problema mais fácil da matemática superior impressiona-nos com uma certa dignidade científica.
Mas se vemos a guerra, tudo se torna inteligível; e ainda assim, afinal, é extremamente difícil descrever o que é que traz esta mudança, para especificar este Fator invisível e completamente eficiente. Tudo é muito simples na guerra, mas a coisa mais simples é ela difícil. Essas dificuldades acumulam-se e produzem um atrito, que nenhum homem que não tenha visto a guerra pode exatamente imaginar”.
Expectativas irrealistas
As nossas expectativas irrealistas – especialmente os serviços que desejamos e pelos quais não vamos pagar – põem em causa a nossa capacidade de nos governarmos a nós próprios. As companhias aéreas são um exemplo dos nossos valores em ação. Um grande número escolhe os voos com base no preço, de modo que pequenas diferenças de preço significam grandes diferenças nas receitas de uma companhia aérea. Portanto, eles devem cortar os preços até ao osso, levando as pessoas nos aviões em condições que nenhum fazendeiro que se respeite infligiria aos seus animais. E então lamentamo-nos sobre as condições disponibilizadas.
Este é o tipo de coisa que faz com que o grupo dos 1% acredite que eles são mais aptos a governar do que nós. Mas nós podemos fazer melhor. Vamos responder racionalmente a esta crise e provar que eles estão errados.
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