FRATERNIZAR – PORQUÊ BARRACÃO DE CULTURA E NÃO FUNDAÇÃO PRIVADA DE SOLIDARIEDADE SOCIAL? – por MÁRIO DE OLIVEIRA

 

A primeira luta a travar com êxito é logo no momento em que, aqui em Macieira de Lixa, concelho de Felgueiras, um pequeno núcleo de membros da então Comunidade de Base, decide fundar uma Associação sem fins lucrativos, com o principal objectivo de construir na freguesia um Espaço Cultural que vem depois a receber o nome de Barracão de Cultura (BC). Motivados por uma fecunda palavra de ordem escutada num dos encontros mensais dinamizados por mim, então ainda a viver em S. Pedro da Cova. Esta, É pela Cultura que somos e vamos, não pela Religião nem pela Caridadezinha. Na ocasião, há quem prefira uma Fundação, mas depressa todos percebem que numa Fundação, o Estado tem as portas escancaradas para a levar para onde muito bem entender, a troco, é claro, de benesses, entre as quais se destacam certas isenções fiscais e muitos apoios.

Ao optar por Associação sem fins lucrativos, levanta-se na hora a questão se ela há-de ser Cultural ou Social. Felizmente, no dia do registo notarial, fica a chamar-se Associação Cultural e Recreativa As Formigas de Macieira (ACR). Com o Cultural como pedra angular. De modo que até o Recreativo acaba marcado pelo Cultural. É assim registada e assim se tem mantido até hoje. Se bem que, poucos anos depois da sua criação, já alguns dos fundadores, tidos como traves mestras da ACR, demitem-se com estrondo, quando Maria Laura, uma das fundadoras, animada pelo carisma de Presbítera não-ordenada da Comunidade de Base, anuncia, para surpresa dos demais, a sua determinação de doar um campo para a obra a construir. E, logo, acrescenta, feliz e sorridente, Terreno para o BC já há, falta agora o Projecto da obra e a sua construção!

Estas inspiradas palavras de Maria Laura caem como pedrada no charco nesse Encontro mensal, onde também estou como Presbítero animador. E são seguidas de um prolongado e ensurdecedor silêncio. Os dias e os meses que se lhe seguem vêm a ser de grande pressão sobre Maria Laura e seus 3 filhos, para que de modo algum levem por diante aquele anunciado propósito. A todas, porém, ela e os 3 filhos resistem. E, quando, por fim, a anunciada doação é consumada no Notariado de Felgueiras e registada com número próprio no Registo Predial e nas Finanças, esses membros da Direcção, simultaneamente activistas políticos de Esquerda, batem com a porta de saída. Convictos de que, sem eles, a ACR e o sonho da construção do BC vão por água abaixo.

E porque o fazem? Percebem bem que, se Maria Laura, ao tempo já viúva de Francisco Carvalho, esmagado por uma grua, quando trabalha na construção da Escola E-B da cidade da Lixa, onde este ano acaba de entrar a sua neta Francisca, filha do Vento, da Cristina e do Isidro, partilha o campo, o que não têm eles, com muito mais teres e haveres e mais estudos, de partilhar, para que o BC chegue a ser erguido. O que vem pôr a nu que, afinal, todo aquele seu activismo político-partidário não passa de inflamados e panfletários discursos, práticas políticas consequentes, nenhumas. E a prova é que recusam rotundamente a via da Partilha dos bens, que é a via política de Jesus histórico.

Hoje, com o BC já a funcionar, percebemos bem todo o heroísmo da actual Direcção da ACR, presidida por Alberto Carvalho, cuja dedicação de todas e todos os seus membros é voluntária, gratuita e ainda cofinanciada por eles e demais associados. Fosse uma IPSS, ou uma Fundação Privada de Solidariedade Social e receberia apoios do Estado e estaria isenta do IMI que o BC tem de pagar, cada ano, em duas prestações semestrais. Prova provada de que o Poder, todo o Poder, do religioso ao Financeiro, odeia a Cultura e a sua promoção. Mas a verdade é que só pela Cultura somos e vamos.

Mas só pelo BC ter o Poder bem longe, é que é o espaço de liberdade e de criatividade, de afectos partilhados e de Crescimento de dentro para fora de quantas, quantos o frequentamos e às suas múltiplas actividades. Um pequeno-grande Sinal de Contradição nesta pequena aldeia de Felgueiras e do País. Porém, as populações nem sonham os obstáculos que se levantaram à sua concretização e, agora, à sua manutenção. Felizmente, a lúcida determinação de um núcleo de pessoas fecundamente ligadas entre si como os ramos da videira, derruba-os a todos com as armas do Humor e do Amor!

Venham, pois, ao BC. São acolhidos, logo à entrada, por um enorme Painel de Pintura de Marina Leão, actual vice-presidente da Direcção e por um painel-azulejo concebido, desenhado e oferecido pelo Arq. Siza Viera, a que se junta depois um mecenas cultural, José Francisco Morgado, de seu nome, que paga à fábrica o custo da transformação do desenho em azulejo. E, por estes dias de outono, vão também surpreender-se e extasiar-se com uma Exposição de Fotografia de se lhe tirar o chapéu, tamanha a precisão das fotos que trazem para dentro do BC Aldeias do interior do País em vias de desertificação. Uma obra de arte do Amigo BC, Davide Pinheiro, de Amarante. É ver para crer. Ah! E espera-Vos também o aconchego de um Mini-Bar Cultural, a funcionar sempre que há actividades. Uma coisa é certa, Se vierem uma vez, vão sentir-se de imediato melhor do que na vossa própria casa. Porque outro, muito outro, é o fecundo Sopro-Vento, com tudo de recíproco Cuidar, que nele se respira. Mesmo em tempos de Covid-19!

 

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