CARTA DE BRAGA – “evocando Alberto Pimenta” por António Oliveira

A minha esposa mandou-me este texto, tirado de um grupo de amigos no Facebook, que não uso nem pratico.

Mas merece um reparo, pela qualidade dos gestores que por cá temos à frente de instituições, tanto públicas como privadas.

Alguma coisa terá de mudar, como salienta o autor do texto pois, a saber pelo número e qualidade dos exemplos apresentados, não parece haver futuro para este país!

Parece-me que selfies e sorrisos não são solução para coisa nenhuma, com ou sem camisa!

António Oliveira

Entrevistas trabalho

Situação muito actual do que é o valor do trabalho!!!

Isto só tem um nome: F….. da ….!!!

O texto que – com autorização do seu autor – publico a seguir – descreve entrevistas que manteve nas circunstâncias indicadas.

Ele, David Ramos Silva, tem um doutoramento e uma obra publicada, além de relevante experiência na investigação e no ensino. O que dá a conhecer é medonho.

Um lugar onde isto acontece impunemente não é um país, é – como diria Eça de Queiroz – uma choldra.

Os responsáveis – entre o Estado que se desinteressa pelo futuro do País e os mercantilistas do conhecimento, corja feita de sanguessugas insaciáveis do património público, até nesta modalidade de roubar a comunidade e não apenas os profissionais qualificados – ficarão impunes, mas os cidadãos portugueses pagam isto muito caro, em servidão e pobreza. Assim também se alimenta o descontentamento em que fermenta a reacção. É preciso dizer não!

Mas é preciso também escolher outra gente para governar. À esquerda.

«Deixo aqui alguns ‘tesourinhos’ de entrevistas de trabalho em que estive presente, em Portugal, para posições de doutorado:

Universidade pública (região Norte, posição investigador júnior):

“É assim, a posição é para investigador, mas isto é para fazer muito mais, basicamente é preciso tapar muitos buracos, se é que me faço entender…”

Grande Celulose (região Centro, posição investigador):

“O contrato contempla as 40h semanais, mas não se iluda, é para fazer muitoooooo mais horas como toda gente aqui faz.”

Universidade pública (região Centro, posição gestor ciência):

O contrato é para o projecto XYZ, mas o trabalho é mais para o departamento, porque temos falta de pessoal administrativo.”

Escola Politécnica pública (região Norte, posição gestor ciência):

“Não sei se sabe, mas aqui pica-se cartão, os bolseiros e investigadores não são mais que ninguém.”

Empresa de Consultoria e Formação (Aveiro, posição técnico especializado superior):

“Só conseguimos pagar 4€/hora, mas queremos você, ainda por mais sendo doutorado e com currículo de mais 60 páginas. Será uma grande valia para a nossa empresa.”

Escola Privada do Ensino Secundário (Porto, posição Direcção Pedagógica e Professor de Ciências):

“Como sabe vivemos uma crise profunda e nós ainda não conseguimos sequer erguer desde a crise de 2011… queríamos saber se aceita a condição de tempo parcial, embora estará a tempo inteiro… isto porque o valor será 75% do que pagávamos ao professor anterior. Mas se não concordar, amigos na mesma, o que não falta é gente por aí que até dá o dito cujo por 5 tostões (risos).”

Empresa exportadora de renováveis (região Centro, posição doutorado para análise de dados e gestão):

“Meu caro você foi o premiado, o escolhido, o sortudo – calhou-lhe o euromilhões (risos). (…) nós só pagamos 1200€ brutos, porque hoje em dia um doutorado no mercado está ao nível de um licenciado, perdeu valor, porque muitos dos seus colegas nem escrever sabem. Não é o seu caso, porque até tem livros publicados. Mas o valor de mercado é este.”

Universidade pública (região Lisboa, posição investigador júnior):

“Queremos deixar claro a todos os candidatos, que nas publicações é obrigatório incluir o nome de todos da Equipa, mesmo que nunca tenham lido ou participado no projecto; o investigador não tem autonomia para decidir, ou seja, tem que ser tudo validado e aprovado por mim, por vezes demoro dias ou semanas a responder porque sou muito requisitada, mas tem de ter paciência.”

Empresa exportadora do PSI-20 (Coimbra, posição gestor ciência):

“Temos 70 candidatos, 20 são brasileiros que até não se importam de receber salário mínimo nem segurança social. E nós pagamos imensos impostos neste País Socialista, por isso, o valor dos impostos no rendimento do trabalho  têm de ser descontados de alguma forma no seu salário. Mas não se preocupe, não se mexe no salário, basta fazer mais horas. Tem de dar ao litro para pagar o seu próprio salário.”

Instituto privado de investigação (região Norte, posição investigador):

“Temos aqui só uma pequena situação de tesouraria para ver – haveria algum problema em o doutor apresentar facturas e recibos seus pessoais com o NIF do instituto? Pode ser mapa de km, refeições, transportes públicos, hotéis, voos, portáteis, tecnologias, livros, etc.? Não vai ser prejudicado em nada… Assim declaramos menor salário, senão o seu salário fica o dobro do custo para nós e é incomportável.”

Este é o País da Iniciativa Liberal, claramente.”

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

 

 

 

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