CARTA DE BRAGA – “idosos e UCI’s” por António Oliveira

A Suíça estabeleceu uma série de critérios para os ingressos hospitalares pelo Covid, entre os quais se inclui a negativa de ingresso às pessoas maiores, por serem prioritários todos os doentes que tenham possibilidade de recuperação’.

A notícia que aqui transcrevo, tirei-a do ‘Diario 16’ de 24 de Outubro e reflecte, como o mesmo jornal diz, ‘uma enorme barbaridade contra os direitos humanos, só comparável com o que os nazis fizeram nos campos de extermínio’ e, na sua essência, baseia-se nos nas formulações do partido nazi nos governos de Hitler.

E como nestas Cartas já foi afirmado, «A pandemia leva o mercado a estabelecer novos parâmetros e, tudo leva a crer, que os idosos se tenham convertido numa pedra no sapato, por serem os mais vulneráveis, estabelecendo ainda a necessidade urgente de optar entre economia e velhos.

Uma posição já devidamente assumida e interiorizada nalguns sectores, a ver pelas palavras do vice-governador do Texas à Fox News ‘Os mais velhos preferem morrer a deixar a economia afundar’».

Uma decisão como aquela não é mais do que a aplicação do mercantilismo a todos os aspectos da vida, desprezando, nos limites, a própria existência humana.

Temos assistido, por notícias quase sempre em números, à quantidade enorme dos depósitos de velhos a que, eufemisticamente, denominam ‘lares da terceira idade’, onde se vão registando baixas, dos residentes aos cuidadores, sem nunca apanharem os responsáveis por tais depósitos nem pela sua concessão.

E repito, uma vez mais, o que já aqui afirmei «convém não esquecer que se Mozart foi embora aos 35 anos e Schubert apenas com 31, Darwin só partiu aos 73, Einstein aos 76, Goethe acabou de escrever o ‘Fausto’ aos 83, Chaplin abalou aos 88 e sabemos e vemos Isabel II abrilhantar chapéus e sorrisos aos 94, apesar de até ter como primeiro ministro um súbdito como o ‘coronaboris’».

E no limite também, a ideia de que as pessoas mais velhas, se já não úteis para uma sociedade ideada pelo capitalismo, pode levar a uma situação em que ‘em vez de se considerar uma idade de jubilação, se considerará uma idade de morte’ afirma-se na mesma notícia e no mesmo jornal.

Não posso deixar de aqui citar as palavras ao diário ‘Le Monde’, de Jean-Marie Delarue, Presidente da Comissão Nacional Consultiva dos Direitos do Homem, em França, Em nome da segurança, todas as nossas liberdades serão ameaçadas’, que aqui também pode ser perfeitamente aplicada.

Uma ideia vista por outro lado pelo Nobel de Medicina, Randy Schekman, director de investigação em Berkeley, ‘Tenho 70 anos. Devemos investigar como alargar a vida, tanto como para a melhorar e, por isso, aqui continuo. Se tivéssemos investigado mais, com inversão pública e privada outros vírus, não estaríamos confinados e temo que a vacina mais rápida seja também a mais cara’.

Sem pretender ajuntar aqui qualquer reflexão moral, não esqueço que Marco António no monólogo ‘Júlio César’ de Shakespeare, ‘O mal que os homens fazem sobrevive-lhes, o bem costuma ficar sepultado com os seus ossos’.

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

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