CARTA DE BRAGA – “Dart Vader 21” por António Oliveira

Perguntava-se o jornalista e escritor John Carlin, no ‘La Vanguardia’, repetindo a pergunta que tinha lido no ‘Financial Times’, havia alguns dias, ‘Quem manda no mundo: os governos eleitos pelos seus cidadãos e controlados pela lei, ou pessoas corruptas que transformam em riqueza o abuso do poder?

Pergunta que terá nascido do assalto a um avião da Ryanair por um caça de origem soviético, obedecendo às ordens de Lukashenko, o tirano que está à frente do destinos da Bielorrússia há 27 anos, sem qualquer oposição organizada e autorizada, para prender um jornalista conhecido pelos escritos que ia fazendo contra tal sujeito. 

E a crónica terminava ‘Quantas mais represálias toma um Estado contra a imprensa, mais mafioso é – lógico, operam sem lei. Os monstros vigiam-nos. Há que estar alerta. A democracia é algo que vale a pena defender’. 

Mas os ‘modelos’ estão aí, por todo este mundo, um trumpa que não aceita a derrota e mantém a popularidade quase intacta nos states, Xi Jinping com um poder que nos remete cada vez mais para Mao, um Putin com assento garantido até 36, um Erdogan, como um novo sultão na Turquia, um Duterte que confessa os seus crimes nas Filipinas e um despenteado Boris, que cada vez mais centraliza o poder em Inglaterra. 

Perante este belíssimo panorama, John Carlin limita-se a dar outra dimensão a um aforismo de outro jornalista, ‘A liberdade de imprensa é a democracia’. Vejo-me forçado a continuar no mesmo artigo e no mesmo assunto, porque liberdade significa pensar, opinar e criticar o poder sem medo de ser preso, ou mesmo de ser abatido, como acontece no Brasil ou no México, até porque ‘vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar’, escreveu Sophia e cantou Fanhais. 

Mas este assunto alarga-se obrigatoriamente a um outro, tão próximos que até se confundem, mas também merecem uma pergunta de outro cronista, Cándido Milán, ‘Se os representantes políticos jogam tudo nas urnas, que sucede com os representantes da comunicação? Onde é que eles, os media, jogam tudo, a quem respondem?’ Penso que saber a resposta exacta seria fundamental pois, aparentemente, os meios de comunicação ou os seus mentores, não respondem nunca perante a cidadania, respondem apenas perante as empresas publicitárias ou outras que eles mesmos promovem, mas que são apenas uma minúscula parte da cidadania. 

Um tema complicado e de difícil abordagem, na também minúscula dimensão desta Carta porque, nas últimas décadas, temos vivido às ordens, mas também à imagem e semelhança dos esquemas montados e disseminados pelos mentores de uma sociedade neoliberal, baseada na competitividade, no individualismo e no narcisismo, que pôs de lado completamente, a noção de comunidade e até de solidariedade. 

Mas além dos publicistas, os neoliberais também aprenderam que podiam sempre contar com uma nova guarda pretoriana de escribas, como pedra angular para ‘mexer’ numa sociedade já devidamente normalizada pelos ecrãs, grandes ou pequenos, para difundir a meritocracia mais a sua máxima preferida, ‘se queres, também podes’ em vez de ‘se podes talvez também queiras’.

Esta aparenta ser já a altura de o tempo começar a mudar de feição, de se vestirem roupas mais leves e menos escuras e, se não houver mais ‘finais’ por cá, com ou sem ‘bolhas’, também se poderá sair sem nos encontrarmos com os desequilibrados da cerveja e outros, até ter tempo de pensar e ver como Pepe Mujica tem razão em afirmar, ‘As forças conservadoras, estão a substituir os velhos golpes de estado por campanhas publicitárias’.

Depois, também será esta a altura, para se poder confirmar como ‘O nosso destino nunca será um lugar, mas apenas uma nova maneira de ver as coisas’, palavras do escritor norte americano Henry Miller. 

Prefiro ficar a pensar nisso, a imaginar Dart Vader a sorrir debaixo da sua tenebrosa máscara, sem sequer pretender esconder todo o malismo que nos parece rodear, que toda aquela gente, apontada por Carlin no princípio, mais a sua guarda pretoriana, tão bem representa. 

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 
 

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