FRATERNIZAR – Porque no BC não há temas tabu, o Espiritismo esteve em debate – SISTEMAS DE DOUTRINA, OU PRÁTICAS POLÍTICAS AO MODO DA PARTEIRA? – por MÁRIO DE OLIVEIRA

 

O Espiritismo esteve em debate no BC, da ACR AS FORMIGAS DE MACIEIRA, onde não há temas tabu e onde a Palavra anda sempre à solta. Aconteceu na noite de sábado 19. Em boa verdade, o debate quase não aconteceu, uma vez que o Professor, espírita convicto, relativamente recente, mas fanático q.b, aproveitou a oportunidade que lhe foi dada para fazer uma longa dissertação videoprojectada sobre o Espiritismo, segundo Allan Kardec. Sem nunca se aperceber que tudo o que disse, e muito foi, era uma fraude. Como é uma fraude tudo o que os sistemas de doutrina terminados em ‘ismo’ dizem e fazem. No caso do Espiritismo, a fraude começa logo no nome do fundador, Allan Kardec, pseudónimo de origem druída, de uma encarnação anterior, no dizer de um ‘medium’, tido por infalível, como se diz do papa de Roma, sempre que ele fala ‘ex cathedra’. Sem nada a ver, portanto, com Hippolyte Léon, nascido em 1803 de Jeanne-Louise, em França. E falecido 64 anos depois, vítima de um aneurisma, quando, cheio de novos projectos, se preparava para mudar de residência. Sem que os ‘Espíritos’ que, pelos vistos, lhe ditaram os textos dos muitos Livros escritos por ele, o avisassem, muito menos, lhe valessem!

Ia já longuíssima a sua dissertação videoprojectada, quando o pequeno comando com que o Professor fazia avançar na tela o respectivo conteúdo, resolveu não obedecer ao seu utilizador. E, também aqui, nenhum ‘espírito’ lhe valeu. Para espanto meu e dos demais presentes no BC, vejo o Professor descer do palco de onde nos fala, de pé, e dirigir-se à respectiva régie. O bastante para provocar uma inesperada pausa na dissertação que só terá sido arreliadora para as muitas pessoas presentes, porque o Professor conseguiu manter, do princípio ao fim, uma pose serena ou ‘paz’, no seu douto dizer. Um dos presentes aproveitou para perguntar se podia formular uma questão. O Professor consentiu, mas continuou na régie e só regressou ao palco, quando conseguiu ter o comando de novo a funcionar e o vídeo recolocado no ponto em que havia parado. E o que, a partir do palco, disse sobre a questão que, de tão profunda, havia tirado o chão à sua dissertação, foi o mesmo que nada, já que toda a sua preocupação era levar ao fim a dissertação videoprojectada. E, aí chegado, o mais surpreendente, pelo menos, para mim, sempre atento aos pormenores, foi ver que a última página videoprojectada na tela fechava com uma fotografia. De quem? Do próprio Professor que, assim, por momentos, ficou presente em duplicado no BC! Como se só ele existisse e nós fôssemos ninguém.

A partir daí e apesar do adiantado da hora, mais pessoas levantaram questões, entre as quais também eu. Só que, ao contrário da do Professor, super-formatado pelo Espiritismo, a minha intervenção foi a de um ser humano, nascido de mulher, consciente, desde a minha ordenação de Presbítero, aos 25 anos de idade, que todos os sistemas de doutrina são intrinsecamente maus, porque encobridores da realidade /verdade. São holofote apontado aos olhos da mente das pessoas e dos povos, não luz que nos faz ver a realidade. Por isso apresentam-se-nos sempre da mesma maneira, como se as pessoas e os povos com seus dramas e suas aspirações não existissem. Na minha curta e exaltada intervenção, fiz questão que a realidade mais real que é a Humanidade ‘pé-descalço’, sadicamente mantida na injustiça pelos sistemas de doutrina, Espiritismo incluído, falasse mais alto. E falou, mas nem assim conseguiu quebrar a pose de ‘paz’ do Professor.

De modo que entre mim e ele ficou escancarado um abismo intransponível. Alargado, por instantes, a alguns dos presentes no BC, anestesiados que já estavam pela longuíssima dissertação videoprojectada e sibilinamente dita naquele tom monocórdico de robô, a que o Professor reiteradamente chama ‘paz’. E paz será, mas a dos sistemas de doutrina intrinsecamente perversos, que estão por trás de todos os sistemas de Poder, a justificá-los. Só assim se compreende que a esmagadora maioria da Humanidade continue a ser carne para canhão e o mexilhão que vive lixado do nascer ao morrer. Sem nunca chegar a virar as armas contra as minorias privilegiadas do Poder, de tão formatadas que estão as mentes dela pelos templos e pelos quartéis, pelas escolas e pelos grandes media. Sempre as vira contra os seus irmãos de condição social e até de sangue.

O abraço que à despedida fiz questão de dar ao Professor foi um abraço de paz, mas da paz que é espada-que-abre caminhos-ainda-por-andar e chicote nos templos, covis de ladrões. Uma paz desarmada que as minorias privilegiadas, das quais o Professor faz parte, não têm nem podem dar. E, por isso, apenas nos dão sistemas de doutrina terminados em ‘ismo’, quando as pessoas e os povos das nações do que temos fome é de práticas económicas e políticas ao modo da parteira, as únicas que nos fazem crescer de dentro para fora religados uns aos outros em protagonismo político, até chegarmos a ser responsáveis pelos nossos próprios destinos e pelos destinos do planeta. Que para isto nascemos e viemos ao mundo. Não fora assim e melhor seria então não termos nascido!

www.jornalfraternizar.pt

 

Títulos dos temas desta semana nas outras Pastas:

 

1 Poema de cada vez

A DEFESA DO POETA

Natália Correia

Destaque

Paolo Benanti e Sebastiano Maffettone

DRONES JÁ DECIDEM SE E QUANDO MATAR

Documentos + extensos

Boaventura de Sousa Santos

15 TESES SOBRE O PARTIDO-MOVIMENTO

Entrevistas

Com Riane Eisler

‘AINDA PENSAMOS QUE A NORMA DOS HOMENS É A NORMA DAS MULHERES’

 

Outros TEXTOS de interesse

Delphine Horvilleur

A REVOLUÇÃO DAS MULHERES


TEXTOS de A. Pedro Ribeiro

É A HORA!

TEXTOS Frei Betto, Teólogo

TODOS ÀS RUAS!

TEXTOS de L. Boff, Teólogo

O ATUAL GOVERNO LEVOU MORTE AOS INDÍGENAS

Leave a Reply