CARLOS REIS – BOM DIA! – “HAITI”, por CAETANO VELOSO e GILBERTO GIL

Para quem não conhece.

Para quem não se lembra.

Para quem se recorda.

Da primeira vez que ouvi este tema (Caetano/Gil) há muitos, muitíssimos anos, não descansei enquanto não comprei o CD, de tão abalado fiquei. Hoje resolvi oferecê-lo a quem de direito ou faça parte de umas das três hipóteses acima apostas.

Não resisti, porém, a mostrar o comentário decididamente brasileiro de alguém que acompanhava o link onde o fui buscar e com o qual estou profunda e essencialmente de acordo.

Carlos

“Eu fico assustado cada vez que Caetano e Chico resolvem ser cronistas do nosso cotidiano. Informam melhor do que qualquer jornal e apelam para nossa sensibilidade e empatia. O silêncio da plateia é o silêncio dos que entenderam o recado. E como a língua portuguesa se faz perfeita na escrita e voz de nossos gênios”.
(autor desconhecido)

 

Obrigado a Gil Blues Velvet e ao youtube

 

Haiti

Caetano Veloso, Gilberto GIL

 

Quando você for convidado
Pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos

De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
E são quase todos pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos, quase pretos de tão pobres são tratados

E não importa se olhos do mundo inteiro possam
Estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados
De escola secundária em dia de parada

E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada
Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico

Nem o disco de Paul Simon
Ninguém
Ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do Pelô’
E se você não for

Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo
Qualquer, qualquer
Plano de educação

Que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino de primeiro grau

E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua
Sobre um saco brilhante de lixo do Leblon
E ao ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina

Cento e onze presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos, quase pretos de tão pobres

E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba

Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui…

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