UMA BATIDA NO NORTE DE ANGOLA
Uma das tarefas “obrigacionistas ” do pelotão de Reconhecimento, era o de dar apoio às companhias espalhadas pelo território atribuído ao BCaç 443 (e não só), quando estas tinhas de realizar batidas mais importantes que o normal ou mais perigosas, e para tal necessitavam de reforços.
Neste contexto, o nosso pelotão teve de se deslocar à CArt 422 estacionada na Fazenda Maria João no Quizalala, para colaborar numa operação a nível de sector.
Chegados ao Zalala e assim que os soldados ficaram instalados, foram o Alferes e os Furriéis chamados para uma reunião com o comandante da Companhia capitão Vila Chã, juntamente com os restantes responsáveis pelos pelotões da Companhia que iam efectuar a batida.
Nessa reunião foram escalpelizados todos os aspectos a ter em consideração, visto esta ser uma batida de alto risco. Como a saída ficara marcada para a madrugada do dia seguinte, fomos descansar, e á hora marcada partimos em coluna auto.
Algumas horas depois, ainda noite cerrada, e no local previamente combinado, as nossas tropas começaram a saltar das viaturas em andamento, tentando deste modo ludibriar o inimigo. Já com as viaturas longe, reagrupamo-nos e embrenhamo-nos na mata, deslocando-nos em direcção ao objectivo da missão. A certa altura do percurso ouvimos vozes, e sons que nos pareceu ser de machados a bater em árvores.
Lentamente aproximamo-nos e deparamos num morro fronteiro ao que nós estávamos, com alguns negros a cortar árvores. A excitação era geral, e um dos nossos (que não do nosso pelotão), perdeu a calma e, começou aos tiros, e logo de seguida foi um crepitar intenso das armas, e logo de seguida, numa corrida desenfreada, berrando e gritando, dando tiros sem quartel, descemos o morro onde nos encontrávamos à procura do inimigo.
Como era de prever, entre o descer o morro e subir o outro, o inimigo teve mais que tempo para desaparecer. Pode-se hoje dizer que aqueles tiros extemporâneos tinha quase abortado a missão.
Assim que nos reagrupamos, seguimos por uma picada que julgávamos nos levaria ao objectivo, mas não.
Depressa vimos que estávamos a andar em círculos. Em suma, tínhamos perdido o caminho para o nosso objectivo. Estávamos perdidos no mato.
As copas das árvores eram tão juntas e densas, as lianas entrelaçadas nas referidas árvores eram tantas que davam á mata um aspecto impressionante e fantasmagórico, não permitindo que a luz do Sol penetrasse dando-lhe aquele aspecto soturno e arrepiante, de tal modo a mata era tão densa que quando fomos sobrevoados pelo avião de abastecimento, este não nos conseguiu detectar, apesar de todos os nossos esforços para o contactar via rádio. E aqueles mantimentos (rações de combate) eram muito precisas para as nossas tropas que já tinham esgotado a comida contida nas rações trazidas do aquartelamento.
Assim que foi possível, saímos do mato e embrenhamo-nos no capim, contornando o mato, tentando reencontrar o caminho perdido.
Mas isso não aconteceu, cada vez estávamos mais perdidos.