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COMENTÁRIO À SITUAÇÃO POLÍTICA PORTUGUESA. Por JOÃO MACHADO

A tragédia portuguesa arrasta-se. Hoje Paulo Portas pediu a demissão, invocando discordar da nomeação de Maria Luís Albuquerque  para substituir Vítor Gaspar na pasta das Finanças. Passos Coelho, há pouco, veio anunciar que não aceita a demissão. E que não vai deixar de, amanhã, ir a Berlim a uma reunião de chefes de governo. A RTP transmitiu o seu curto discurso, foi a correr ao parlamento, ouviu Jerónimo de Sousa, Luís Montenegro e Heloísa Apolónio, passou ao Partido Socialista, ouviu António José Seguro, e ligou a Berlim. Daqui um senhor com voz forte (desculpem que não percebi o nome dele) recordou-nos que os alemães não gostam de incertezas, que Angela Merkel é a grande favorita das próximas eleições alemãs, que disse isto e aquilo, o ministro das finanças alemão também. Já vamos aqui? Vamos, vamos.

A exigência de novas eleições alarga-se. As pressões aumentam. Para além das declarações de responsáveis estrangeiros, vêm as notícias sobre a  bolsa,  as taxas de juro dos empréstimos a dispararem, e hão de voltar as famigeradas agências de notação. É perfeitamente normal que, numa democracia parlamentar, com uma situação caótica como aquela em que nos encontramos, se queiram eleições. E Passos Coelho já deixou claro, mesmo aos seus apoiantes mais ferventes, ser incapaz de governar o país.

Duas grandes questões: uma, Passos Coelho vai tentar continuar a todo o custo, é fácil de prever, apoiado por Cavaco Silva, pela Comissão Europeia e por Berlim.  O estado a que ele vai levar o país é inimaginável, tamanho é o seu afastamento da realidade. E vai substituir Paulo Portas quando regressar da Alemanha, se ele persistir no seu pedido de demissão.

Segunda grande questão: será preciso, se houver eleições, que delas saia um governo muito melhor. Melhor não chega. São indispensáveis grandes mudanças. A banca e o sistema financeiro têm de ser metidos na ordem, e postos ao serviço dos portugueses. Os serviços públicos terão de ser recuperados e melhorados rapidamente. Será preciso enfrentar hostilidades exteriores, de potências ciosas dos seus interesses. Mas é indispensável que os portugueses pensem em como é possível um país como o nosso, que poderia ter uma vida equilibrada, sem grandes espaventos, mas tranquila e com alguma prosperidade, viva em semelhante desatino. Como é possível que o seu governo tenha tido à sua frente, sucessivamente, pessoas como Durão Barroso, Santana Lopes, José Sócrates e Passos Coelho. Qual deles o pior? E antes deles António Guterres e Cavaco Silva? Seremos assim tão maus? Ou, antes, seremos pouco exigentes?

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