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Da Galiza, mensagem : Português não é português – por Isabel Rei

Da Galiza mensagem

Português não é português

Assisto, divertida e abrigada da chuva compostelana, à dialética estéril que envolve as discussões sobre a Lusofonia, quase sempre alimentadas por portugueses. Pretendem que seja conjunto de práticas do chamado Estado Novo (1933-1974) ou ditadura de Salazar, cujo rançoso colonialismo incluía, claro, o uso e imposição da língua portuguesa.

Porém Lusofonia tem de ser outra cousa. Talvez conjunto de pessoas que falam português. Os países africanos têm-no escolhido como uma das suas línguas de relacionamento. Uma delas, nem única, nem perfeita, nem imutável. E como língua de criação, onde os melhores escritores não são portugueses.

Digo isto por um detalhinho de nada que passa despercebido em toda a discussão. Os territórios outrora colonizados fazem-se coincidir com a relação de lugares onde se fala língua portuguesa. Como se Salazar ainda mandasse as suas consignas da ultratumba.

Representa Timor o colonialismo da África? É Angola uma representante do colonialismo no Brasil? É Moçambique um país colonizador para Cabo Verde? Devido a que os discutidores são portugueses a relação entre os países lusófonos não se concebe senão através da ideia de Portugal.

É que não dá para deixar de rir. Eu, aqui, na Galiza, terra mãe do português, a observar como galaicófonos portugueses puxam por dominar, ou rebentar de vez a Lusofonia, o céltico falar do Luso. Milenar fala das galegas. A minha língua, a da minha mãe, a da minha avó. Esta.

Fora de todos os mapas, as galegas não podemos representar a colonização da África. De que colonização poderíamos nós falar se não da nossa, a do nosso extermínio, o estupro, o roubo das nossas cousas??

Caramba, que a língua não nasceu em Portugal. Que o português não é português.

A. D. R. Castelão (1886-1950)

 

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