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EDITORIAL – Até onde se pode ir?

 

David Lodge,  um romancista britânico que se distingue pela abordagem irónica que faz aos temas mais sérios, autor que é conhecido sobretudo pelo seu livro Não há almoços grátis, numa  outra novela descreve o ambiente vivido num grupo de militantes católicos que , de repente (entre as décadas de 50 e 70 do século passado) são apanhados pela revolução sexual e ficam perante um dilema – perder o comboio da modernidade de que fazem alarde, imersos que estão num país onde o catolicismo é minoritário e o anglicanismo é dominante, ou trair princípios de comportamento ditados pela igreja de Roma? É uma sátira muito interessante, pois não querem parecer conservadores e desde o uso de preservativos até à altura das saias (a minissaia entrara em cena quase ao mesmo tempo em que abria o Concílio Vaticano II e encíclica papal Humanae Vitae ditava regras relativas á contracepção), tudo tem de ser ponderado – até onde pode ir uma bom católico para não trair a ICAR, não parecendo um jarreta de museu? Como se compatibiliza a virgindade com a permissividade sexual, os charros com a santa missa?

A democracia formal em que estamos imersos, cria aos «democratas formais» problemas semelhantes aos das personagens de Lodge. Divididos em famílias que se regem por liturgias diferentes – democratas-cristãos, social-democratas, socialistas… , não querem desapontar os  teóricos que regem as suas capelas – querem ser «democratas», respeitar a Constituição, «a vontade do povo expressa livremente nas urnas». Até onde podem ir?

No fundo, são todos muito parecidos, estudaram nas mesmas escolas e universidades… O que separa um adepto de um clube do adepto do clube rival? O cartão de sócio, o cachecol e pouco mais.

A coerência revolucionária deveria impedir pecepistas e bloquistas de estar na Assembleia da República. Porquê? Porque é um templo de traição â Democracia – senhores e senhoras eleitos para representarem os seus eleitores (que votaram seduzidos por programas eleitorais que depois nunca mais veem a luz do dia, fechados a sete chaves que estão, dando lugar às decisões que o secretário-geral definir. Os social-democratas (PS), que se comprometeram a implementar a Democracia (por meios não-violentos), favorecem negócios obscuros e, chegam mesmo a neles estar implicados. Os democratas-cristãos (PSD e CDS), mergulhados até aos cabelos em negociatas e cambalachos sujos. Damos a volta ao hemiciclo, e vamos novamente chocar com os pecepistas (que gostam de ser considerados comunistas) e com os bloquistas que são uma espécie híbrida – com trotsquistas, estalinistas, ecologistas, e socialistas a tratar por V.Exª os demais «democratas». Será que colocam a si mesmos e às suas consciências revolucionárias a questão – «até onde se pode ir?»

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