Site icon A Viagem dos Argonautas

EDITORIAL – O EGIPTO À BEIRA DE UMA GUERRA CIVIL

Imagem2Não temos a presunção de ser adivinhos. Aliás, só adivinhamos o que é evidente e quando se festejava a queda de Mubarak dissemos por aqui que a alternativa à ditadura de Hosni Mubarak não iria ser uma democracia plena –  e aí temos o Egipto mergulhado no prelúdio de uma guerra civil. Forças Armadas com tradições na forma brutal como mantêm a ordem, manifestantes impregnados de um fanatismo que os leva a uma violência extrema. A Primavera Árabe foi uma ilusão. Alimentada por poderes exteriores? Ou será que ver  a mão da CIA a manipular os acontecimentos é enveredar pela «teoria da conspiração»?

Como quem lesse o Corão num tablet, os  muçulmanos são seres humanos apanhados entre dois fogos: por um lado,  as concepções retrógradas de um Islão que era tolerante há mil anos e que actualmente regrediu e, por outro lado, o fascínio pelas novidades tecnológicas e comportamentais do Ocidente. Quando se invocam princípios ocidentais, como o da famigerada «democracia representativa» para impor maiorias como as que, no Egipto, são influenciadas pelos «Irmãos muçulmanos» é como se um macho latino invocasse as suas liberdades constitucionais para exercer livremente a violência doméstica. A «Irmandade Muçulmana» invoca o direito democrático de impor um Estado antidemocrático. O Exército invoca o respeito pela ordem pública para chacinar manifestantes. E esses paradoxos estão a provocar uma hecatombe.

«O exército serve para defender um povo e não para o massacrar» diz com toda a razão um homem que saiu do acampamento para tomar banho e quando voltou encontrou tudo em chamas e mortos os seis amigos  com quem partilhava a tenda.  Mas há também declarações que testemunham a agressividade dos manifestantes para com os soldados e que estes matam para não ser chacinados. Uma grande maioria do povo egípcio condena o fanatismo da «Irmandade» e a brutalidade da repressão militar. Uma Guerra Civil à vista e uma carnificina consumada – centenas de mortos. Hosni Mubarak foi deposto e condenado a prisão perpétua pela repressão exercida contra manifestantes e que causou 850 mortos. Foi em Fevereiro de 2011. Dois anos e meio e muitas centenas de mortos depois, parece-nos que em nada se avançou. A não ser no caminho para um conflito armado generalizado.

O que se parece mais com um retrocesso.

Exit mobile version