Site icon A Viagem dos Argonautas

GIRO DO HORIZONTE- MALABARICES DE PAULO PORTAS – por Pedro de Pezarat Correia

01

 

Aproveitemos o neologismo inadvertidamente – já que era óbvio que ia voltar-se contra si – lançado por Passos Coelho e que tanto tem sido glosado por analistas e comentadores, porque associa malabarismos e aldrabices e, já agora, “malandrices” semânticas, artifícios em que, aos olhos dos portugueses, há no seu séquito fartura de especialistas.

Este desgoverno é um insulto à inteligência dos cidadãos, nomeadamente à conta daquilo a que, há muito, venho chamando de “discurso simulado”, que mais não é do que uma acumulação de mentiras e omissões envoltas numa roupagem de subterfúgios, para ludibriar as pessoas menos atentas ou menos familiarizadas com a retórica política. O discurso simulado atinge, em períodos em que as eleições começam a ser preocupação dominante, dimensões grotescas. E nele pontificam algumas personagens mais hábeis na manipulação da palavra e da parábola discursiva, mas também menos escrupulosas e mais descaradas no atropelo da verdade, desmentindo-se a si próprias e afirmando hoje, com idêntico ênfase, o contrário do que disseram ontem. Neste particular destaca-se Paulo Portas, o ministro das “demissões irrevogáveis”, das “provas insofismáveis” que, na verdade, já ninguém leva a sério, mas que continuamos a suportar e a pagar. Estamos mais uma vez perante uma orquestração, seguramente sob a sua batuta, para tentar “safar” o CDS procurando demarcá-lo das malfeitorias com que o executivo nos vem penalizando.

Vários analistas, designadamente Pacheco Pereira, têm chamado a atenção para um comportamento insólito numa coligação que vem sendo uma constante nas intervenções das figuras públicas mais destacadas do CDS, ministros, secretários de estado, parlamentares, limitando-se a defender, explicar, justificar, louvar as medidas, os comportamentos, as atitudes dos responsáveis governamentais do seu partido, ignorando as do parceiro de coligação. É uma manobra destinada a fazer passar a ideia dos “governantes bons” (obviamente os do CDS) de um “governo mau” (fruto da maioria do PSD), bem instalada no espaço (cobrindo a generalidade da comunicação social) e bem programada no tempo (mantendo a pressão em continuo).

Nos últimos dias, depois de Portas e seus acólitos terem tropeçado estrondosamente na campanha por eles próprios anunciada de que se iria ficar a dever-lhes o alívio da carga fiscal, nomeadamente no IRS, no Orçamento de Estado para 2015, campanha propagandística que se viram forçados a engolir face à rigidez “austeritária” e ao fanatismo orçamental (desculpe lá Passos Coelho mas a sua boutade não convenceu ninguém!) de Pedro Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque que, como escreveu Pedro Santos Guerreiro no “Expresso” de sábado (18 out), deixaram Portas a fazer figura de tonto com a sobretaxa, os jovens turcos do CDS lançaram-se desesperadamente numa campanha justificativa, autêntica barragem de fogo. Portas vestiu o seu fato azul às riscas, apontou o dedo e deu o mote. E a sua corte avançou, disciplinada, fazendo eco da voz do dono. E lá tivemos, diariamente, de manhã, à tarde e à noite, de suportar os esforços oratórios procurando convencer-nos que, apesar do 1% atravessado na garganta, o CDS conseguira salvar um orçamento de alívio fiscal, pro-família, amigo dos pobrezinhos, de viragem, desenvolvimentista, inédito e inovador. Estamos perante uma autêntica tentativa de lavagem ao cérebro. E é uma campanha que, com a aproximação das eleições e das más perspetivas para a coligação, vai intensificar-se. Até porque Portas demarca-se deste governo porque já está a pensar no próximo. E quer manter abertas as vias para as piscadelas de olho ao PS, quando chegar a hora da facada nas costas do PSD.

 

20 de Outubro de 2014

 

 

Exit mobile version