Regionalismo, autonomismo, auto-governo, soberanismo, são palavras habituais nos discursos dos diversos grupos políticos e culturais que se entendem representantes das reivindicações de territórios e comunidades menorizadas ou sub-representadas, cultural, política ou economicamente num Estado.
Territórios ou comunidades étnicas, linguísticas, religiosas com umas características específicas que deram lugar a um reconhecimento histórico – equivalente ou não – a um reconhecimento político e legislativo em forma de região diferenciada ou autonomia concedida.
A reivindicação coletiva da idiossincrasia de uma comunidade estabelece-se no princípio de reconhecimento, de identificação dos membros da dita comunidade por meio de uma definição mais ou menos consagrada de elementos ou valores comuns. O fenómeno magistralmente definido por Bendict Anderson como “invenção de comunidades”, tem um destacado lugar na história política Ocidental e está fortemente associado ao fenómeno romanático da aparição do Nacionalismo e aos processos derivados das crises do capitalismo que iniciaram a queda do Imperialismo europeu (primeiro na Europa, depois na África e Ásia), a fins do século XIX.
A começos do século anterior e antes de 1917 (data arredor da que renasce o movimento galeguista sob o nome de Nacionalismo) houve na Espanha uma de tantas fases de agitação, por causa dos primeiros sucessos políticos do Catalanismo.
Na fase de ante-crise da Restauração Canovista e de última tentativa de reformulação “desde arriba”, modernização do Parlamentarismo rotativista por parte de Antonio Maura, a palavra “regionalista”, abrangendo desde o nacionalismo emergente das nações históricas até o movimento municipalista, passando pelos reformistas, agrarista e regeneracionistas, estava na moda, disputada tanto pelos que aspiravam à reforma do sistema da restauração (e tratavam de combater o centralismo e o caciquismo) como pelos que desejavam a sua permanência (cientes da importância do poder provincial e municipal).
O regionalismo, que nascera como protesta contra os políticos do sistema, contra o centralismo e contra o caciquismo, representava na primeira década do século XX, em paralelo a uma reivindicação folclórico, literária, histórica, arqueológica e musical, do passado e orgulho local uma das patas do descontento social e a resposta por parte das elites locais excluídas do sistema de grandes partidos rotativistas.
O “regionalismo” misturara-se, de Aragão a Castela, passando por Madrid, Galiza e Catalunha, com os movimentos “regeneracionistas” que após a crise de 1898 deflagraram por toda Espanha em movimentos diversos de caráter assembleário local e campanhas de protesto. Que deram lugar posteriormente a movimentos supra-partidistas reivindicativos e a frontes, nas que os partidos republicanos, reformistas e o socialismo, conseguiram agrupar pontualmente a oposição.
Mas a movimentação de tanta diversidade, não logrou salvo em episódios concretos, normalmente de carácter reivindicativo laicista, confrontar o sólido sistema bipartidista. Até que na primeira década do século, o regionalismo na Catalunha sim conformará uma verdadeira fronte e também as bases de um projeto nacional: Solidaritat Catalana.
Na Galiza, o maurismo reformista, o agrarismo, o republicanismo urbano federal nas suas fações e o movimento político regionalista serão até a politização das Irmandades da Fala (1917-18), as correntes dominantes da oposição política (sem contar o obreirismo anarquista) na Galiza ao sistema rotativista.
Depois do triunfo eleitoral da Solidaritat Catalana (1906), na Galiza tentou-se imitar o projeto de unificar a oposição progressista galega e aumentaram os contatos entre as forças da oposição para o estabelecimento duma força política que aglutinasse os setores contrários aos “Partidos do Turno”.
O principal discurso é a reforma do sistema político, o anticaciquismo, a reforma do sistema tributário, a administração, e o seu apoio principal e força política será o movimento agrarista, que chegaria a contar nos primeiros anos com 400 associações.
Nas eleições municipais de 1910, contra as dificuldades do artigo 29 da tristemente célebre lei de 1907, (desenhada justamente contra a unidade do catalanismo e o republicanismo como movimentos políticos anti-sistema) a Solidariedade obteve 258 vereadores na província da Crunha.
Porém e pese à sua força emergente e implantação na Crunha, não conseguiu converter-se num movimento para toda Galiza. Os conflitos, debilitaram rapidamente o projeto, que se prolongou ainda até 1912. Os protagonismos pessoais, as quotas de poder, as diferenças entre os setores republicanos, vazquezmellistas, e com os [proto-]nacionalistas, derivaram em ataques, polêmicas e conflitos que foram provocando a separação de muitos dos impulsores e protagonistas principais e uma crescente rotura entre os grupos, que se prolongariam nas décadas a seguir e definiriam até os anos prévios à II República o panorama político da esquerda na Galiza.
Esta experiência também marcaria a política de alianças externas do nascente nacionalismo das Irmandades desde o ano 1919, provocando conflitos a respeito entre o setor da Crunha (que seria tendente a repetir estas alianças) e o setor que terminaria conformando a ING, após a cisão da Assembleia de Monforte (1922).
No decurso desta aventura, aparecerá por primeira vez a histórica cabeceira do galeguismo A NOSA TERRA (1907) e desde os seus primeiros comícios “em campo aberto” o galego reaparecerá para ser usado em público no discurso político.