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CARTA DE BRAGA – “Ensino e Groucho” – por ANTÓNIO OLIVEIRA

 

 

“Ensino e Groucho”

Abri um jornal – já nem me lembro qual – e deparo-me com uma mancha bem assinalada em volta de uma declaração que me tocou fundo.

Só uma frase simples mas cheia de sabedoria – se um aluno não compreende bem o que lê, fracassa todo o ensino! É o que está a suceder, uma porta aberta a um rendimento menor, ao abandono escolar e à ingente quantidade de jovens que não estudam nem trabalham!

Mas uma frase que nos arrasta para considerações de todo o género, a maior das quais julgo ser a que envolve o futuro, o modo como o podemos imaginar, os dados que usamos e conseguimos analisar e a capacidade de cada um para o poder fazer.

Lembro-me que, muitas vezes, perguntei aos meus alunos com menores preocupações neste campo, Expliquem-me por que não estudam! Não estão preocupados com o vosso futuro? e a maioria das respostas era de uma modéstia espantosa, Quando lá chegar logo vejo!

Também me questionei muitas vezes e lhes perguntei sobre o que tinha estado menos bem antes daquele momento e alguns, com mais capacidade oratória ou mesmo de provocação, acrescentavam que a maior valia estava no presente e na maneira como o conseguiriam aproveitar.

Questões que nos levaram a algumas aulas bem proveitosas, sobre a maneira como a Europa se estava destruir a si própria, desde que começou a marginalizar o estudo da história e da filosofia. É um tema recorrente nestas Cartas (já alguém disse também que devia apresentar soluções), mas quem sou eu, apenas um modesto ex-professor, para me alcandorar a salvador da pátria?

Sabia apenas, como sei agora, que no mundo dos grandes, a China, o Japão e até os Estados Unidos não seguiram este caminho, por perceberem que só o crescimento do PIB não garante futuros e, muito menos, responder de cabeça baixa às impertinências dos senhores do presente-agora!

Uma ironia provocatória, reflectida num sorriso ou num esgar trocistas, foram por vezes, a única resposta que consegui obter.

E assim caímos, estamos mergulhados, no mundo incrível e nunca imaginado da pós-verdade, que também nos leva a pensar no que disse David Roberts, o primeiro a usar este termo, a era das epistemologias tribais, as realidades cognitivas e informativas paralelas, que nem se comunicam entre si, mas intervêm no debate político, motivadas apenas pela sua própria visão dos acontecimentos!

Será que vale a pena perder aqui tempo a apresentar soluções, ou será melhor limitar-me e perguntar, como o fez um dia o inigualável Groucho Marx, Por que teria de me preocupar com as gerações futuras? Por acaso alguma delas se preocupou comigo?

António M. Oliveira

 

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

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