Li isto muito bem já lá vão uns meses, escrito sem pontuação e todo de seguida, ordenei mas não quis mexer nas vírgulas nem nos pontos e decidi fazer uma cópia para poder usar numa altura qualquer que a justificasse.
Não sei quem será o senhor Fagner Carvalho, foi este o nome dado ao autor da sentença; o Google deu-me depois uma variedade de nomes para pesquisar no Facebook (não tenho nem pratico!), mas serve perfeitamente para tecer alguns comentários sobre a afirmada ‘incompreensão’ do senhor Fagner.
Admito que aquela falta de entendimento, posta aqui em tom irónico, pretenda ser uma censura talvez amarga, aos caminhos que a cultura está a trilhar nestes tempos, para dar origem a juízos semelhantes, não tão raros como se desejaria.
O impositivo da imagem mediática, não muito longe de tal polémica, garantiu e apoia o avanço de uma ‘civilização’ em que se multiplicam os ‘voyeurs’ e os contemplativos, porque ‘as mitologias revelam aquilo em que se não ousa mais acreditar’.
A afirmação pertence a Michel de Certeau, o filósofo francês autor do belíssimo ensaio ‘A cultura no plural’, referindo de algum modo as particularidades da experiência, a necessidade do retorno à instrução própria e ao património da linguagem, essenciais quando se fala de cultura.
Uma cultura que deveria ser sempre o somatório de todos os que nos antecederam, porque imaginário e memória colectiva se constituem numa totalidade simbólica, ‘por referência à qual o grupo se define e através da qual se reproduz de modo imaginário, ao longo das gerações’.
Não creio que os programas educativos actuais chamem a atenção para ‘niquices’ destas, tanto que, mais do que nunca, se notam bem os nem sempre escondidos ou encobertos confrontos pelo controlo e consequente interpretação das imagens, questões onde ninguém se pode afirmar inocente.
No fundo e, seguindo Daniel Innerarity, ‘a ignorância também pode ser um factor de democratização, porque a maneira humana de entendimento passa por não ficar fechado num quarto, mas sair ao encontro dos outros’
Difícil é ultrapassar este quadro quando, além do ‘corona’, a ERC, entidade reguladora para a Comunicação Social, terá registado como informativos, dois sites apontados publicamente como produtores e difusores de desinformação, o ‘Notícias Viriato’ e ‘Bombeiros 24’, como foi garantido por jornais diários cá do Eucaliptal.
Aligeiro esta Carta, voltando ao aforismo do princípio, ajuntando mais três asserções, a começar por Enzo Traverso, filósofo de História na Universidade de Cornell, ‘o intelectual é um vigilante de incêndios sem outro interesse além de servir a verdade’.
A segunda, do pianista James Rhodes, a propósito da música e da necessidade de sair para nos encontrarmos com outros, ‘A música clássica não é elitista; é mais cara uma entrada para o futebol do que uma entrada para o Auditório’.
E a última, do incomparável Groucho Marx, ‘A filosofia é a ciência que nos ensina a ser infelizes da maneira mais inteligente’.
Basta tentar saber como é e qual é, o nosso entendimento deste mundo!
António M. Oliveira
Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor