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UMA CARTA DO PORTO – Por José Fernando Magalhães (42)

CARTA DO PORTO

O PARQUE URBANO DE LORDELO DO OURO

Ter, a poucas centenas de metros, como vizinhos, o Parque da Cidade (a Noroeste) e o Jardim de Serralves (a sudoeste), dá-nos uma calma e uma alegria de viver muito acima do comum dos cidadãos da minha cidade. Se a isso, juntarmos o mar (a menos de dois quilómetros para poente), e o rio Douro (sensivelmente à mesma distância, para sul), obtemos um coquetel maravilhoso que muito eleva a qualidade de vida.
Como já tenho dito muitas vezes, sou um privilegiado.
Como eu, muitos milhares de pessoas vivem na minha zona, e, como a mim me acontecia, a maior parte delas nem se apercebe da benesse que é viver na parte Ocidental da cidade, mergulhadas nos seus problemas quotidianos (quase todos de cariz económico ou social), nos empregos que detestam, nos horários de trabalho que não lhes deixam tempo para distracções, ou muito simplesmente, porque se esquecem de respirar a vida.
E é lamentável, porque a beleza dos espaços, olhando-os nem que seja durante poucos minutos todos os dias, pode dar-nos uma perspectiva da vida muito mais agradável.
Aos poucos (isto não se consegue de um momento para o outro), tenho aprendido a olhar à minha volta e a apreciar o que de belo me rodeia, em vez de procurar o muito de feio que por aí há (não deixando, no entanto, de lutar se possível pela sua melhoria), e vou conseguindo ser cada vez mais feliz, e ter uma cada vez melhor qualidade de vida. O Porto está cheio de lugares mágicos.
E por falar em lugares mágicos e coisas belas, fui dar um passeio em direcção ao rio Douro. Da minha casa até lá, são cerca de dois quilómetros. Não fui pelo caminho mais curto. Fui pelo que me é mais agradável.
Passei junto aos portões do Jardim de Serralves (onde está instalado o Museu de Arte Contemporânea) que ainda vai ser alvo de uma das minhas crónicas, desci a avenida do Marechal Gomes da Costa, e quando cheguei ao monumento de homenagem ao político alemão Willy Brandt, virei à esquerda. Aquela passagem, muito recente na cidade, dá acesso ao espaço que ainda hoje se chama, os Pinhais da Foz. Já lá não há pinhal algum, hoje é uma zona residencial bonita, desafogada e … uma das preferidas das classes economicamente mais favorecidas.
Mas não foi sempre assim. Há alguns anos, esta zona era realmente um pinhal. Durante alguns anos, realizaram-se no seu interior corridas de automóveis. Eram corridas “baratas” que chamavam milhares de espectadores. A maioria dos automóveis que corriam eram da marca Citroën e dos modelos 2CV e Dyanne.
Chamavam a essas corridas POP CROSS.

Pop Cross nos Pinhais da Foz – Fotografia de LUÍS RAPOSO

Pop Cross nos Pinhais da Foz – Fotografia de LUÍS RAPOSO

Havia pó por todo o lado, e muitos dos corredores/pilotos eram nossos amigos ou tínhamos por eles uma amizade de fãs. Foram muitas as corridas a que assisti, e fotografei com a minha Petri FTEE, quase sempre na companhia do meu amigo Luís Raposo (autor das duas fotografias de Pop Cross que aqui mostro e de outra da zona do bairro da Pasteleira).

Bairro da Pasteleira – Fotografia de LUÍS RAPOSO

Foram alturas loucas, de uma loucura saudável e retemperadora.
Depois vieram os interesses económicos e imobiliários, e as corridas, e o pinhal, e o pulmão daquela zona, desapareceram como que por encanto. Nessa altura e pelo meio da mata da Pasteleira, já haviam construído bairros sociais, já havia torres no espaço onde esteve o Farol das Três Orelhas, e as Torres Vermelhas (estas de habitação social) também já marcavam presença, umas e outras com vistas soberbas sobre o rio e o mar. À frente destas, e na encosta da Cantareira, construíram depois, outras torres que não eram de índole social, sendo conhecidas na altura por serem das habitações mais caras do Porto.
Pelo meio ficava a Rua de Diogo Botelho (conhecida por Estrada Nova, pelos habitantes da Foz), que separava o que restava da mata da Pasteleira (desaparecido o pinhal da Foz) das torres das Varandas da Barra.
A mata da Pasteleira esteve para acabar, de uma vez por todas, no período em que o Dr. Fernando Gomes foi Presidente da Câmara do Porto. Os interesses imobiliários ganhavam força e influência no seio da Câmara, e não fora o interesse e empenho do NDMALO – GE (o Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro – Grupo Ecológico, apareceu em 1978 e ficou a dever-se ao inicio da luta em defesa do que restava dos pinhais da Pasteleira/Foz e da ribeira da Granja, e é a Associação Ambiental mais antiga da cidade do Porto), pela mão do Sr. Belmiro Cunha e dos seus apoiantes, por certo não teríamos hoje a beleza de parque que é o Parque Urbano da Pasteleira.
Existe no Parque, na zona nascente e muito próximo das pontes que unem as suas duas partes, o que resta de um monumento em pedra dedicado á luta do NDMALO – GE na defesa daquele pinhal, muito maltratado e já sem que se consigo saber a que diz respeito (à atenção da direcção do Parque e à Câmara Municipal do Porto, que muito bem faria em o reabilitar, como forma de marcar indelevelmente o reconhecimento devido pela cidade a esta associação ambiental).

Monumento – NDMALO-GE

Mas a beleza de parque que é este Parque Urbano da Pasteleira, cujo projecto é da autoria da Arquitecta Marisa Lavrador, não está isento de falhas.
Apesar do empenho que o encarregado, zelador e responsável pelos jardineiros do parque tem demonstrado (o trabalho desta equipa tem sido de modo a manter o recinto sempre primorosamente arranjado) e também do trabalho que os elementos da segurança têm efectuado no sentido de manter o parque seguro, e por certo, apesar do interesse da direcção do jardim/parque em manter o espaço como um dos mais aprazíveis da cidade, há coisas que não estão bem, mesmo nada bem.
Quem entra no parque, seja qual for a entrada escolhida, é recebido pelo arranjo e pela beleza do jardim. Os recantos, os bancos, os espaços abertos, a colocação das diversas peças de decoração, os espaços com sol e os com sombra, tudo está primorosamente espalhado, numa sequência muito agradável. A existência de patos, e de galinhas e galos e pintos, é uma mais- valia para a diversidade e singularidade do local. A existência de uma zona dedicada aos mais pequenos é um outro ponto de interesse e uma mais-valia.
Quem entra no parque, sabe, hoje, que a segurança é boa e permanente. A fama que no início teve, de ser um espaço inseguro e cheio de meliantes de várias espécies, desapareceu por completo. O parque, de acordo com o segurança que faz o seu trabalho pela manhã, das 6h às 16h, tem segurança 24h sobre 24h, incluindo no período da noite, em que está encerrado.

Zona do lago com a “suposta” cafetaria à direita

 

Mas, quem entra no parque, facilmente descobre a falta de um local para tomar um café, beber um refresco ou comer um bolo. Bem, não é que o dito local não exista, mas está fechado, desprezado, abandonado, e com mau aspecto. E, segundo sei, a responsabilidade é única e exclusivamente da Junta de Freguesia de Lordelo do Ouro, agora associada à de Massarelos numa União de Freguesias, que detém o espaço (que lhe está alugado por escassas dezenas de euros), e que o não explora nem faz explorar. Está feio e sem préstimo e é uma das “nódoas” do parque.
Quem chega até à zona da suposta cafetaria, encontra um lago, de desenho agradável e de aspecto não agradável, por causa da água, verde e com espuma. Nem dá vontade de o estar a apreciar. Sei, no entanto, que pouco se poderá fazer para lhe melhorar o aspecto nesta altura. A água, que estará em boas condições, captada num furo próximo da Ribeira da Granja, serve, no verão, para efectuar a rega de todo o parque, pelo que se tentassem efectuar qualquer obra de arranjo do lago, agora, no período estival, muitas das plantas acabariam por morrer. Só o poderão fazer no próximo Outono ou Inverno. Mas será que o vão fazer? É que não basta tirar a água e tentar limpar. O piso do lago parece ser feito de godos (pedras redondas e relativamente pequenas) o que impede a sua limpeza já que entre eles os detritos dos excrementos dos patos, e as folhas que apodrecem, se acumulam e à chegada de nova água (o lago demora cerca de uma semana a encher) rapidamente fazem com que volte a ter o mesmo mau aspecto.

zona do lago e da suposta cafetaria

 

Esperemos que dentro de 4 a 5 meses, efectuem as obras necessárias ao bom arranjo e aspecto deste lago (podiam aproveitar para colocar um chão liso e facilmente lavável).
Também, quem entra no parque pela entrada poente fica triste e desagradado com o que encontra. A par de um arranjo, quase diria, brilhante, com antigas fontes e material de condutas de água, em exposição, temos a antiga estação elevatória de águas, pertencente às Águas do Porto, que se encontra num estado miserável de abandono e degradação. Pichada com pinturas impróprias, com os vidros partidos, com as placas apostas nos fontanários que lhe estão à frente, sem que se perceba minimamente o que lá já esteve escrito, com um mau arranjo generalizado, é uma vergonhosa mostra do que nunca deveria ser mostrado. Por certo sem qualquer culpa neste estado da Estação Elevatória, bem que a direcção do parque poderia encetar esforços, no sentido de obrigar as Águas do Porto a promover o seu arranjo, bem assim como o dos arbustos que fazem fronteira com o parque e que também são da responsabilidade dessa mesma entidade.

Zona Poente
entrada poente
Estação Elevatória

Esquecendo estes três pontos menos agradáveis, um que poderia ser resolvido quase de imediato (bastando para tal que a Junta de Freguesia se empenhasse nisso), outro que poderá ser resolvido a breve prazo, e um terceiro que poderá ser resolvido com o empenhamento das Águas do Porto, este, é um dos parques mais bonitos da cidade do Porto.

 Porque estamos em plena época das Festas da Cidade, desejo-vos um óptimo São João

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