MARIA JOÃO CANTINHO
( 1963 )
SEARA INFINITA
É quando amanhece a seara
que se ateia o dia claro, o dia
que se faz canto, vasto e forte,
essa voz da liberdade que ecoa
em cada haste pequenina,
em cada pequeno ser,
que se curva na direcção da terra.
E os homens cavam o coração do tempo,
do tempo que se abre
do tempo que floresce,
do tempo que anuncia
os frutos da próxima estação,
como a esperança dos dias que hão de vir.
E é em cada olhar que o sinto,
em cada rosto tisnado,
como uma vibração íntima
e desesperada, universal,
o canto da liberdade
que ecoa na seara infinita: o tempo novo.
Strasbourg, 24/04/2008
(de “Antologia de Autores PEN-2010”)
Poetisa, crítica literária e ficcionista. Da sua obra poética: “A Garça” (2001), “Abrirás a Noite com um Sulco” (2002), “Sílabas de Água” (2005).