POESIA AO AMANHECER – 296 – por Manuel Simões

poesiaamanhecer

MARIA JOÃO CANTINHO

( 1963 )

SEARA INFINITA

É quando amanhece a seara

que se ateia o dia claro, o dia

que se faz canto, vasto e forte,

essa voz da liberdade que ecoa

em cada haste pequenina,

em cada pequeno ser,

que se curva na direcção da terra.

E os homens cavam o coração do tempo,

do tempo que se abre

do tempo que floresce,

do tempo que anuncia

os frutos da próxima estação,

como a esperança dos dias que hão de vir.

E é em cada olhar que o sinto,

em cada rosto tisnado,

como uma vibração íntima

e desesperada, universal,

o canto da liberdade

que ecoa na seara infinita: o tempo novo.

Strasbourg, 24/04/2008

(de “Antologia de Autores PEN-2010”)

Poetisa, crítica literária e ficcionista. Da sua obra poética: “A Garça” (2001), “Abrirás a Noite com um Sulco” (2002), “Sílabas de Água” (2005).

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