EDITORIAL – UM BANQUEIRO CENTRAL

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Daniel Bessa veio a público dizer que “O responsável número um da nossa desgraça é um banqueiro central”. Esta notícia vem nos jornais de hoje. Daniel Bessa não disse nada que já não se soubesse anteriormente. O problema reside na falta de tratamento adequado do assunto. Não houve responsabilização do tal banqueiro central, nem um esclarecimento adequado das entidades máximas do país sobre o que se passou para ter rebentado esta crise. Pelo contrário, procurou-se até diluir as responsabilidades por todo o povo português. Mas leiam a notícia no link abaixo.

http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=4021128

O problema contudo agrava-se  e não parece querer melhorar. Está aí o BES para o mostrar. Lá fora já se trata o caso como uma ameaça internacional. Teremos um novo Lehmann Brothers? Afastar a família Espírito Santo não chega, é preciso ir mais fundo. O sistema financeiro domina o sistema bancário (este hoje em dia é um mero agente daquele), exige não ser regulamentado, e vai provocando crises atrás de crises. As pessoas que dominam o sistema financeiro são pessoas reais, e têm, como todos nós de respeitar a vida em sociedade. Os juros exorbitantes que chegam a ser praticados merecem ser classificados com um simples palavra: extorsão.

Daniel Bessa também referiu que o actual director do Banco de Portugal disse que o caminho não é o consumo, mas as exportações (exportar, exportar, exportar…). Basta ler outras notícias nos jornais para perceber que o caso não é assim tão simples. Como se pode querer grandes aumentos de produção em pouco tempo num país exangue?

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/editorial.aspx?content_id=4020701

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/portugal-ja-e-o-pais-da-uniao-europeia-onde-nascem-menos-bebes-1662352

1 Comment

  1. Daniel Bessa não disse nada que já não se soubesse, como também nada disse sobre a essência da questão. Isto é, manteve-se no cerne do tumor maligno que invadiu o corpo social. Como seria de esperar, pois Bessa mais não é do que uma célula integrante desse tumor, nada reconhecendo que a ele seja estranho ou hostil, e trabalhando, como as suas congéneres, para expansão da doença e a destruição final do corpo de que se sustenta e com o qual morrerá.
    Acabei de ver o excelente filme “Le Capital”, de Costa-Gavras, de 2012. Como se trata de uma obra complexa, de leitura não linear, como a maioria dos filmes deste notável realizador, a interpretação da parábola que constitui não é de fácil compreensão para o público em geral, como, naturalmente, para a generalidade dos “críticos” cinematográficos, pelo que me foi dado avaliar em breve busca “googlítica”. As apreciações minimamente inteligentes do filme são raríssimas e predomina, como é comum, a tentativa de simular capacidades intelectuais de finíssimo e singular recorte, que não passam, porém, da mais vulgar repetição das vulgaridades do vulgaríssimo e mediaticamente vulgarizado “pensamento dominante”. Pelo menos dos críticos portugueses, seria de esperar uma outra abordagem, mais informada, pois têm à disposição, na versão original, “O Banqueiro Anarquista”, de F. Pessoa, assaz útil para a abordagem deste filme. Mas a ausência de vocação para a cultura é também doença pandémica e incurável…
    Na cena final do filme, o protagonista (notável Gad Elmaleh, que eu desconhecia), reeleito Presidente de um grande Banco francês que agentes do famigerado e tentacular grupo financeiro americano Goldman Sachs haviam tentado tomar – por métodos tão ilegais como os que todos os dias são cometidos dentro do “sistema”, com o consentimento dos governos ditos democráticos -, para o conduzir a uma plena integração na “filosofia” da Mafia financeira de que esse grupo é um dos principais “padrinhos” (senão o principal), dirige-se a uma assistência de banqueiros, accionistas e políticos e afirma “Sou o moderno Robin dos Bosques: tiro aos pobres para dar aos ricos”. A afirmação é acolhida com uma entusiástica salva de palmas (evidentemente metafórica: no mundo real, o aplauso existiria, mas silencioso, enquanto alguns beatíficos sorrisos sublinhariam a “blague”…), enquanto o protagonista, que derrotara as ilegalidades mas se mantém dentro do sistema (é aqui que eu remeto para Pessoa…), se vira para a câmara e comenta algo do género: “São crianças. Divertem-se. E vão continuar a divertir-se até que o Mundo rebente”.
    Tudo isto já se sabe, está estudado, investigado academicamente por gente séria e atenta. A doença está diagnosticada e prescritos os tratamentos adequados ou, pelo menos, as vias para os encontrar.
    Mas aqueles que poderiam desenvolvê-los e aplicá-los nunca ultrapassaram, afinal, a inconsciência da infância, como os que, no filme, aplaudem a tirada final: divertem-se, até que tudo rebente, que tudo se destrua, inscientes de que também eles serão destruídos…

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