Daniel Bessa veio a público dizer que “O responsável número um da nossa desgraça é um banqueiro central”. Esta notícia vem nos jornais de hoje. Daniel Bessa não disse nada que já não se soubesse anteriormente. O problema reside na falta de tratamento adequado do assunto. Não houve responsabilização do tal banqueiro central, nem um esclarecimento adequado das entidades máximas do país sobre o que se passou para ter rebentado esta crise. Pelo contrário, procurou-se até diluir as responsabilidades por todo o povo português. Mas leiam a notícia no link abaixo.
O problema contudo agrava-se e não parece querer melhorar. Está aí o BES para o mostrar. Lá fora já se trata o caso como uma ameaça internacional. Teremos um novo Lehmann Brothers? Afastar a família Espírito Santo não chega, é preciso ir mais fundo. O sistema financeiro domina o sistema bancário (este hoje em dia é um mero agente daquele), exige não ser regulamentado, e vai provocando crises atrás de crises. As pessoas que dominam o sistema financeiro são pessoas reais, e têm, como todos nós de respeitar a vida em sociedade. Os juros exorbitantes que chegam a ser praticados merecem ser classificados com um simples palavra: extorsão.
Daniel Bessa também referiu que o actual director do Banco de Portugal disse que o caminho não é o consumo, mas as exportações (exportar, exportar, exportar…). Basta ler outras notícias nos jornais para perceber que o caso não é assim tão simples. Como se pode querer grandes aumentos de produção em pouco tempo num país exangue?
Daniel Bessa não disse nada que já não se soubesse, como também nada disse sobre a essência da questão. Isto é, manteve-se no cerne do tumor maligno que invadiu o corpo social. Como seria de esperar, pois Bessa mais não é do que uma célula integrante desse tumor, nada reconhecendo que a ele seja estranho ou hostil, e trabalhando, como as suas congéneres, para expansão da doença e a destruição final do corpo de que se sustenta e com o qual morrerá.
Acabei de ver o excelente filme “Le Capital”, de Costa-Gavras, de 2012. Como se trata de uma obra complexa, de leitura não linear, como a maioria dos filmes deste notável realizador, a interpretação da parábola que constitui não é de fácil compreensão para o público em geral, como, naturalmente, para a generalidade dos “críticos” cinematográficos, pelo que me foi dado avaliar em breve busca “googlítica”. As apreciações minimamente inteligentes do filme são raríssimas e predomina, como é comum, a tentativa de simular capacidades intelectuais de finíssimo e singular recorte, que não passam, porém, da mais vulgar repetição das vulgaridades do vulgaríssimo e mediaticamente vulgarizado “pensamento dominante”. Pelo menos dos críticos portugueses, seria de esperar uma outra abordagem, mais informada, pois têm à disposição, na versão original, “O Banqueiro Anarquista”, de F. Pessoa, assaz útil para a abordagem deste filme. Mas a ausência de vocação para a cultura é também doença pandémica e incurável…
Na cena final do filme, o protagonista (notável Gad Elmaleh, que eu desconhecia), reeleito Presidente de um grande Banco francês que agentes do famigerado e tentacular grupo financeiro americano Goldman Sachs haviam tentado tomar – por métodos tão ilegais como os que todos os dias são cometidos dentro do “sistema”, com o consentimento dos governos ditos democráticos -, para o conduzir a uma plena integração na “filosofia” da Mafia financeira de que esse grupo é um dos principais “padrinhos” (senão o principal), dirige-se a uma assistência de banqueiros, accionistas e políticos e afirma “Sou o moderno Robin dos Bosques: tiro aos pobres para dar aos ricos”. A afirmação é acolhida com uma entusiástica salva de palmas (evidentemente metafórica: no mundo real, o aplauso existiria, mas silencioso, enquanto alguns beatíficos sorrisos sublinhariam a “blague”…), enquanto o protagonista, que derrotara as ilegalidades mas se mantém dentro do sistema (é aqui que eu remeto para Pessoa…), se vira para a câmara e comenta algo do género: “São crianças. Divertem-se. E vão continuar a divertir-se até que o Mundo rebente”.
Tudo isto já se sabe, está estudado, investigado academicamente por gente séria e atenta. A doença está diagnosticada e prescritos os tratamentos adequados ou, pelo menos, as vias para os encontrar.
Mas aqueles que poderiam desenvolvê-los e aplicá-los nunca ultrapassaram, afinal, a inconsciência da infância, como os que, no filme, aplaudem a tirada final: divertem-se, até que tudo rebente, que tudo se destrua, inscientes de que também eles serão destruídos…
Daniel Bessa não disse nada que já não se soubesse, como também nada disse sobre a essência da questão. Isto é, manteve-se no cerne do tumor maligno que invadiu o corpo social. Como seria de esperar, pois Bessa mais não é do que uma célula integrante desse tumor, nada reconhecendo que a ele seja estranho ou hostil, e trabalhando, como as suas congéneres, para expansão da doença e a destruição final do corpo de que se sustenta e com o qual morrerá.
Acabei de ver o excelente filme “Le Capital”, de Costa-Gavras, de 2012. Como se trata de uma obra complexa, de leitura não linear, como a maioria dos filmes deste notável realizador, a interpretação da parábola que constitui não é de fácil compreensão para o público em geral, como, naturalmente, para a generalidade dos “críticos” cinematográficos, pelo que me foi dado avaliar em breve busca “googlítica”. As apreciações minimamente inteligentes do filme são raríssimas e predomina, como é comum, a tentativa de simular capacidades intelectuais de finíssimo e singular recorte, que não passam, porém, da mais vulgar repetição das vulgaridades do vulgaríssimo e mediaticamente vulgarizado “pensamento dominante”. Pelo menos dos críticos portugueses, seria de esperar uma outra abordagem, mais informada, pois têm à disposição, na versão original, “O Banqueiro Anarquista”, de F. Pessoa, assaz útil para a abordagem deste filme. Mas a ausência de vocação para a cultura é também doença pandémica e incurável…
Na cena final do filme, o protagonista (notável Gad Elmaleh, que eu desconhecia), reeleito Presidente de um grande Banco francês que agentes do famigerado e tentacular grupo financeiro americano Goldman Sachs haviam tentado tomar – por métodos tão ilegais como os que todos os dias são cometidos dentro do “sistema”, com o consentimento dos governos ditos democráticos -, para o conduzir a uma plena integração na “filosofia” da Mafia financeira de que esse grupo é um dos principais “padrinhos” (senão o principal), dirige-se a uma assistência de banqueiros, accionistas e políticos e afirma “Sou o moderno Robin dos Bosques: tiro aos pobres para dar aos ricos”. A afirmação é acolhida com uma entusiástica salva de palmas (evidentemente metafórica: no mundo real, o aplauso existiria, mas silencioso, enquanto alguns beatíficos sorrisos sublinhariam a “blague”…), enquanto o protagonista, que derrotara as ilegalidades mas se mantém dentro do sistema (é aqui que eu remeto para Pessoa…), se vira para a câmara e comenta algo do género: “São crianças. Divertem-se. E vão continuar a divertir-se até que o Mundo rebente”.
Tudo isto já se sabe, está estudado, investigado academicamente por gente séria e atenta. A doença está diagnosticada e prescritos os tratamentos adequados ou, pelo menos, as vias para os encontrar.
Mas aqueles que poderiam desenvolvê-los e aplicá-los nunca ultrapassaram, afinal, a inconsciência da infância, como os que, no filme, aplaudem a tirada final: divertem-se, até que tudo rebente, que tudo se destrua, inscientes de que também eles serão destruídos…