RECONSTRUÇÃO DO CHIADO – Álvaro Siza Vieira – por Clara Castilho

 

 

Era então presidente da Câmara municipal de Lisboa o Eng. Krus Abecassis que “criou um gabinete de emergência para coordenar todos os trabalhos decorrentes do sinistro e avançar com outras situações de carácter excepcional tendo em vista a resolução do problema do Chiado”. Da revista “Guias de Arquitectura” podemos retirar: “ O plano de reconstrução foi entregue a Álvaro Siza. Entre a opção pela ruptura ou pela continuidade, o arquitecto demonstrou que era possível fazer uma cidade sem optar pela afirmação forçada do novo e diferente. O plano de reconstrução assentou na estratégia de revalorização do espaço público, através da criação de novos percursos urbanos utilizando os interiores dos logradouros. Foi integrada uma estação de metro e criou-se habitação como factor de revitalização e segurança da zona. Ao nível do desenho das fachadas, optou-se pela repetição modulada que retoma a concepção tipológica do plano pombalino de setecentos, de Eugénio dos Santos. A reconstrução conseguiu resgatar a memória do sítio. Actualmente, quando se percorre o Chiado, temos a percepção de uma cidade plena de vida que parece existir há já muito tempo.”

 

Numa entrevista para a ESSE de Setúbal, Siza Vieira declarou: “… o Chiado é uma zona da cidade tão viva como

 

era antes do incêndio. Já não era o centro do império, como foi noutros tempos. Mas, mesmo destruído pelo incêndio, é uma zona muito viva, todos os bordos do buraco da rua Nova de Almada mantêm aquela vida, há lojas, há cafés, e sobretudo há o fluxo de passagem igual ao que era, se não maior. E depois há um outro tipo de vida diferente, que são os operários da construção civil, os encarregados, gente que na maior parte é de fora de Lisboa, imigrantes. É um meio humanamente muito rico, tal como está, e nada o destruiu, não há um vazio”.

 

Noutra entrevista a “Saint-gobain-glass”, podemos retirar as seguintes declarações:

 

“A arquitectura é antes de mais um serviço. É um serviço orientado para o bem-estar. O objectivo, a primeira preocupação, da arquitectura é criar melhores condições, na cidade, na casa, nos equipamentos…

 

Na minha forma de projectar dou uma primordial importância à função do edifício, mas tendo sempre no espírito que por outro lado o processo de projectar significa também uma libertação desse cuidado, desse serviço, dessa função que não pode ser ignorada. A partir daí há uma espécie de libertação….. A arquitectura é utilizada pelo poder. A arquitectura faz-se ou não se faz, dependendo de quem a compra. No fundo, não é autónoma. Um pintor facialmente pega numa tela, faz a sua obra…um arquitecto depende de quem lhe encomenda. A sua expressão não é autónoma, como a pintura, a escultura…”

 

Quando por lá passeamos ainda podemos ver o anúncio dos “Armazéns do Chiado”. Visto daqui poderia ser antes do incêndio.

 

 

Mas será o actual Chiado o que o arquitecto projectou?

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