UM ENORME FUROR EM TORNO DA MANIPULAÇÃO SOBRE A LIBOR: ONDE É QUE HÁ AQUI ULTRAJE? por Yves Smith – I

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota 

Yves Smith

No caso em que a questão não lhe seja ainda evidente, o escândalo que se está a desenrolar sobre a manipulação de Libor e da sua contraparte a Euribor mostra que se trata de um grande negócio. Mesmo que neste momento, tenha sido apenas o Barclays, um banco do Reino Unido a ser acusado, sob a luz dos holofotes estão já pelo menos 16 outros jogadores financeiros importantes, o que significa claramente que muita gente está implicada.

Primeiro, a Libor é a base de preços de mais de $10 milhões de milhões de empréstimos. Como a CTFC sublinhou:

A Libor sobre o dólar americano é a base para o estabelecimento de contratos de futuros do Eurodólar a três meses negociado na Chicago Mercantile Exchange, o que se fez num volume de negócios em 2011 com um valor nocional, valor de referência dos contratos, superior a $564 milhões de milhões.

The Wall Street Journal calcula a soma total dos valores afectados em cerca de $800 milhões de milhões.

Em segundo lugar deve-se referir que a fixação de preços é uma violação criminal que está sob a lei antitrust Sherman. O Departamento da Justiça salientou que os Barclays tinham sido o primeiro banco a cooperar com a investigação e tinham sido extremamente útil e por essa razão não processado se cumprisse os termos do acordo por dois anos. A implicação é a de que o Departamento de Justiça americano não será tão generoso com os outros bancos envolvidos no esquema de fixação da Libor. Esta é uma visão geral que o Financial Times também apresenta sobre os erros do Barclays:

O banco admitiu que colocava como baixas as estimativas para os seus custos de empréstimos obtidos a partir de finais de 2007 a Maio de 2009, porque queria tranquilizar os investidores a propósito da sua capacidade financeira durante a crise e acredita-se que os outros bancos estavam a fazer o mesmo. O Barclays também admitiu que os seus traders influenciaram indevidamente as propostas para o fixing da Libor apresentadas entre 2005 a 2008 para ganharem muito dinheiro com os produtos derivados.

Note-se que, de acordo com o Barclays, havia dois escândalos: um, o primeiro, é a habitual classificação de “traders que são autênticos vigaristas”, que decorreu entre 2005 e 2007 (não é curioso ver como estes Presidentes executivos assumem os créditos no computo do seu desempenho global para fins de bónus e culpam inadequadamente os empregados sob a sua responsabilidade directa ou indirecta, sempre que surge um problema real?); o segundo, como discutiremos, é o facto de que o Barclays apresentava taxas mais baixas para a determinação da Libor do que seus custos de financiamento reais para se apresentar financeiramente com um aspecto mais saudável do que ela estava durante a crise. Ao ler-se os comentários da época, estes indicavam que a Libor publicada estava 30 a 40 pontos-base abaixo dos valores praticados pelos mercados. Uma vez que processos estão a ser lançados contra o Barclays, iremos provavelmente ver quais são as estimativas do impacto da manipulação.

Esta é a defesa de Diamond a explicar a manipulação da Libor no período de 2005-2007:

Os traders do Barclays tentaram influenciar as propostas enviadas pelo Barclays para tentarem beneficiar das posições especulativas por eles nas salas de mercado. Este é, naturalmente, um comportamento totalmente inadequado. As propostas enviadas pelo Barclays devem reflectir o custo dos empréstimos interbancários, em vez das posições dos seus operadores individuais nas salas de mercado. As intervenções em questão são tipicamente as taxas sobre operações a curto prazo de um e três meses, taxas estas relevantes para os mercados dos grandes operadores e não as taxas a longo prazo utilizadas para definir, por exemplo, as hipotecas feitas às famílias. Devemos também sublinhar que estes traders não tinham maneira de saber se sim ou não as suas acções, em última instância, beneficiariam ou prejudicariam globalmente o banco Barclays. Eles estavam a trabalhar apenas na base dos seus próprios benefícios.

Esta conduta inadequada limitou-se a um pequeno número relativamente às pessoas que trabalham no Barclays e face à dimensão das operações de trading do Barclays, e as autoridades não encontraram nenhuma evidência de que nenhum alto quadro imediatamente acima dos traders na escala de responsabilidades estivesse consciente das pretensões dos seus operadores nas salas de mercado, os traders, no momento em que estas eram por eles emitidas.

“Os elementos do banco imediatamente acima dos traders” aparecem como muito ingénuos para o público em geral, mas os responsáveis directos por cada tipo de operações são geralmente os directores. Será interessante ver se eles estão a um nível tão baixo como a posição assumida por Diamond implica.

Esta revelação levou a uma explosão de posições críticas feitas pela média no Reino Unido, bem como a fortes comentários pela parte dos reguladores e dos membros do Partido Trabalhista. Jonathan Weil chamou a esta explosão de críticas ” a idade de ouro do jornalismo financeiro, na sue versão britânica” e colocou em realce algumas das mais importantes posições críticas. O Guardian cita Mervyn King, governador do Banco da Inglaterra:

É hora de fazer alguma coisa sobre o sistema bancário, sobre a sua cultura…Muitas pessoas no sector bancário e financeiro são esforçados e sentem-se muito decepcionadas por alguns dos seus colegas e dos seus directores. Seria bom para a estrutura dos bancos e para a sua cultura, para as suas práticas: a compensação excessiva, o tratamento de má qualidade dos clientes, a manipulação enganosa de uma taxa de juro fundamental e hoje, a notícia de mais um escândalo, mais um aprova de que não nenhum respeito pelos clientes, por ninguém.

Pode-se imaginar Ben Bernanke a dizer isto? E considere-se ainda esta observação de um artigo do Guardian assinado por Will Hutton:

A banca de investimento é um embuste organizado disfarçando-se de um negócio. Ele é definido por endémicos conflitos de interesses, comportamento sistémico amoral e uma avareza extrema. Muitas das suas figuras mais responsáveis devem ser punidos com penas de prisão ou de desgraça – e teria sido assim se os reguladores britânicos tivessem sido muito antes desmamados da doutrina de “regulação mínima ” e se o orçamento de Serious Fraud Office’s não tivesse sido mutilado pelo ministro Osborne. Isto é um verdadeiro imposto sobre a criação de riqueza e é um ataque aos comportamentos honestos – isto é a besta que está a devorar o capitalismo britânico.

Tem sido extremamente difícil encontrar esse tipo de análise crítica nos nossos media, mesmo sabendo-se que os EUA foram o país incubador dos produtos financeiros de subprime RMBS e CDOs que levaram a economia global a colocar-se de joelhos.

(continua)

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