HOJE, A ITÁLIA. AMANHÃ SE VERÁ QUEM SE SEGUE – 1. ENTREVISTA A MATTEO RENZI: “ ISTO É UMA MANOBRA SOBRE ALGUNS BANCOS, MAS O SISTEMA É SÓLIDO” – conduzida por ROBERTO NAPOLITANO, director de “IL SOLE 24 ORE” – II.

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Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

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Hoje, A Itália. Amanhã se verá quem se segue

1. Entrevista a Matteo Renzi: “ Isto é uma manobra sobre alguns bancos, mas o sistema é sólido”, conduzida por Roberto Napolitano, director de Il Sole 24 Ore

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Roberto Napoletano, Intervista a Renzi: «C’è una manovra su alcune banche, ma il sistema è solido»

Il Sole 24 Ore, 21 de Janeiro de 2016

(conclusão)

Monte dei Paschi, em particular, está sob ataque: o banco perdeu mais de 40% em três dias. Os investidores e os aforradores estão preocupados. Existe uma solução à vista? Será que os pode tranquilizar e como?

Monte dei Paschi está agora a preços inacreditáveis. Eu acho que a melhor solução será a que o mercado irá decidir. Gostaria muito que fosse uma solução italiana, mas ninguém vai fazer um grande negócio.

Um analista de JP Morgan, retomado do Financial Times, disse: evitem a Itália. Há ou não há o risco de que se multiplique a posição assumida pelos grandes investidores de sugerirem que se evitem os títulos italianos, mesmo em confronto com a posição de Bruxelas?  

Os analistas com os quais todos nós falamos, os big, de JP Morgan e outros sabem perfeitamente que investir na Itália hoje é uma muito boa oportunidade. Hoje, investir na Itália é uma das escolhas mais vantajosas que se possam fazer: país estável, sistema sólido, tensões geopolíticas noutros lugares. Os investidores sabem-no.

Mas os italianos podem estão seguros com as suas poupanças?

Evidentemente sim. E de resto ter um das poupanças privadas mais elevadas em relação ao PIB é a grande força italiana. Não a dispersaremos nunca.

Sobre a questão dos quatro bancos (Banco Marche, CariFerrara, Banco Etruria, CariChieti) todas as instituições implicadas e as pessoas envolvidas fizeram o seu dever?

Na situação dada não tínhamos alternativas. É-me desagradável face aos obrigacionistas com títulos subordinadas e face a quem – de qualquer modo – confirmo o compromisso: quem foi enganado terá de novo o seu dinheiro graças ao trabalho excelente ao trabalho que está a ser realizado por ANA e o Mef. Mas com estas regras não tínhamos alternativas: salvamos um milhão de conta-correntes, milhares de salários, quatro bancos que pelo menos terão um futuro

É mérito deste governo ter feito a lei sobre os bancos populares e de ter forçado estes que estão em situação mais grave (incluindo Banco Etruria) a confrontarem-se com os seus próprios erros e com a nova realidade. No plano político, contudo, a atenção permanece concentrada sobre o Banco Etruria: o pai do ministro Boschi não está sob inquérito mas foi sancionado pelo Banco da Itália e sabe-se que houve encontros entre ele e uma figura discutível como Carbono. Sente-se a excluir qualquer tipo de conflito de interesse?

Não há nenhum conflito de interesses. O ministro Boschi explicou de forma impecável na Câmara e a Câmara rejeitou a moção de não-confiança. Compreendo as manipulações interessadas feitas pela oposição, mas a realidade é mais forte do que a instrumentalização.

Il Sole 24 Ore com o seu Manifesto propôs a introdução de prospectos simplificados, onde esteja indicado muito claramente o nível de risco dos produtos financeiros. Também apresentámos um fac-símile. O governo, tem ele a intenção de apoiar esta iniciativa?

Pessoalmente concordo totalmente com o princípio. Quanto ao fac-simile deixo a MEF, Consob, o Banco da Itália e Abi as avaliações técnicas. Mas o princípio que exprime é sacrossanto.

Falou-se no passado de um projecto de fusão entre o Banco Intesa e UniCredit. Alguma vez acreditou nesse projecto? E considera que ainda hoje é necessário?

Não é da minha responsabilidade entrar nessas dinâmicas.

Não acredita que a Itália tenha necessidade de mais bancos grandes em concorrência entre eles em vez de um grande banco e de numerosos anões em volta?

A Itália tem o sistema das pequenas e médias empresas como um ponto forte. Mas é necessário grandes actores em alguns sectores: alguns na banca, nos seguros, algumas  multinacionais na energia, no automóvel, no agro‑alimentar. Em suma, em todos os sectores chave. As modalidades contudo dependem dos accionistas, não do Governo

Outro tema de confronto com a Europa é o da flexibilidade sobre as contas públicas. Há um risco na primavera ter de corrigir o texto de base recentemente aprovado?

Não há nenhum risco. Estamos a falar de algumas décimas de diferença. Em contrapartida desta estabilidade permite que a Itália e os italianos ganhem muita confiança. Pela primeira vez não ouvi uma crítica: IMU, as super-amortizações, os impostos agrícolas, bem-estar público, pacto de estabilidade para o investimento das comunas, poderia continuar e continuar. Parece-me uma coisa enorme mas totalmente obscurecida pela controvérsia mais ou menos justificada sobre a banca. Mas a Itália está presente, novamente vai em frente. E sem falar dos que apostam na sua falência.

Olhemos para a próxima operação: com as cláusulas de salvaguarda e uma Europa que aparece muito pouco disponível para conceder uma nova flexibilidade poderia ser necessária uma via muito apertada o que muito prejudicaria a retoma. Como evitar este risco?

A flexibilidade europeia não é uma concessão, caro director. É uma regra da União Europeia, um bem preciso comprometimento de Juncker e dos seus. Não alterei a ideia. E ele também não.

Que sinais têm sobre a frente da retoma? São dados positivos, mas não unívocos, seja sobre a frente do emprego seja sobre o crescimento.

Os factores externos paradoxalmente não nos ajudam: a instabilidade, a queda a pique do preço do petróleo torna-se uma ratoeira geopolítica, a inflação não arranca novamente. Mas a Itália está finalmente a seguir em frente, veja-se desde o imobiliário ao consumo. Este é verdadeiramente um bom momento.

Cruciais serão ainda os investimentos externos… 

Os dados sobre investimentos estrangeiros nunca foram tão bons. Devo ainda acrescentar que não é apenas mérito das nossas reformas: a situação de instabilidade que se vive noutras regiões do mundo, e até mesmo em alguns países nossos amigos europeus, fazem da Itália um dos mais interessantes para o investimento. Mas temos de fazer mais no sentido de facilitar o investimento. A redução do tempo sobre as práticas administrativas que se aprovou ontem no Conselho de Ministros vai nesse sentido.

A reforma das negociações no mercado de trabalho irá intervir se as partes não chegarem a um acordo? E em que sentido?

A bola está nas mãos das partes sindicais. Mas o tempo está- se a esgotar. Se não chegarem a acordo, se não a propuserem, seremos nós que a realizamos. Não é uma ameaça, mas uma simples declaração de senso comum, deve concordar.

Ela é a favor de uma entrada da empresa pública CDP, Cassa Depositi e Prestiti,  no capital da Telecom em troca de participação em Metroweb? E que papel pode a Enel desempenhar neste quadro?

Decidam os líderes da CDP.

O caso Ilva: para além do confronto com a Europa que não augura nada de bom, vê uma saída? Pode dizer-nos como?

Nós nunca vamos aceitar que Ilva é morto pelo lobby dos industriais do aço de outros países. Agora abra-se o concurso, e vejamos se – como eu acredito – haverá um consórcio vencedor. Estou optimista. O choque europeu de Ilva me parece ser o menos grave.

Finalmente, o capítulo das reformas. O Governo tem cometido alguns erros, mas ele fez muito: ontem foi a vez do decreto de reforma da administração pública, a reforma mais esperada em Itália e fora de Itália, mas terá ainda que ser aprovada nas duas Câmaras.

A reforma mais esperada é sempre a próxima. A da Administração Pública marca um bom passo em frente. Nada é decisivo, tudo é importante: dos chico-espertos do relógio de ponto até à redução das forças policiais, das empresas participadas até aos dirigentes dos serviços de saúde e aos tempos das concessões e autorizações. Ontem falei no senado sobre a reforma constitucional da revisão da dupla câmara e do título V porque na minha opinião trata-se de uma reforma histórica.

Confirma e que o referendo constitucional será também um teste sobre o governo? Está tentado em ir a eleições em caso de vitória?

Se eu perder o referendo, deixarei a política. Não sou como os outros. Eu não permaneço no poder se não puder mudar as coisas. Se vencermos, por seu lado, concluímos a legislatura regularmente: finalmente na Itália se respeitarão as eleições sem as más práticas de eleições antecipadas. Mas para o referendo nós iremos de casa em casa: a escolha é entre a Itália que diz sempre não e que nunca quer mudar e a Itália daqueles que têm coragem e determinação.

Roberto Napoletano, Intervista a Renzi: «C’è una manovra su alcune banche, ma il sistema è solido» Texto editado por Il Sole 24 Ore, e disponível em:

http://www.ilsole24ore.com/art/notizie/2016-01-21/c-e-manovra-alcune-banche-ma-sistema-e-solido-070047.shtml?uuid=ACR64OEC

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