Assim vai o “autorregulado” mercado do gaz, ou a falência da política energética da UE – “Mercado do gás: a tempestade que ninguém viu chegar”. Por Martine Orange

 

Nota de editor:

Iremos publicar dois artigos de Martine Orange da Mediapart, que foram publicados sob o título comum “Gaz, Electricidade: a Europa da Energia em Bancarrota”. Diz a autora: “Ninguém viu esta crise chegar. Uma combinação de acontecimentos e de factores imprevistos provocou uma explosão nos preços do gás, que está agora a afectar todos os mercados energéticos e a revelar o fracasso da Europa nesta área. Construído apenas com base na concorrência, optou por expor toda a economia e as famílias à volatilidade do mercado. Sem mudanças profundas, é provável que seja impossível levar a cabo uma transição ecológica aceite por todas as populações”. De Martine Orange havíamos publicado no passado dia 23 de Setembro o artigo “Energia: a estratégia da escassez” (ver aqui), a propósito do disparo dos preços da electricidade. Nestes dois artigos que publicamos hoje e amanhã, é-nos explicado com detalhe como funcionam estes mercados e a falência da política energética implantada pela União Europeia, via Comissão Europeia.


Seleção e tradução de Francisco Tavares

 

Mercado do gás: a tempestade que ninguém viu chegar

 Por Martine Orange

Publicado por  em 30 de Setembro de 2021 (Marché gazier: la tempête que personne n’avait vue venir, ver aqui)

 

A combinação de más condições meteorológicas, uma recuperação brutal e desorganizada de uma oferta que não acompanha a procura provocou a explosão dos preços do gás. A crise está a alastrar a toda a economia, expondo as disfunções da construção do mercado europeu da energia.

 

Mais 10% em Julho, mais 5% em Agosto, mais 8,7% em Setembro, mais 12,6% a partir de 1 de Outubro… Desde o início do ano, os preços regulados do gás aumentaram 57% em França. Nos mercados à vista europeus, a explosão dos preços é ainda mais espectacular: quase quadruplicaram em nove meses. Por toda a Europa, os contadores estão a enlouquecer e os governos estão a entrar em pânico. Por quanto tempo continuará esta subida? Até onde vão os preços subir? Quais serão as consequências para a economia?

Porque a pouco e pouco, a explosão do gás está a contaminar tudo. Já as fábricas de fertilizantes, papel e amoníaco, grandes consumidoras de gás, decidiram suspender a produção, considerando que são incapazes de fazer face a tal aumento de custos. Grupos químicos, plásticos e agro-alimentares advertiram que terão inevitavelmente de repercutir este aumento nos seus preços de venda.

Evolução do preço do gás entre 2011 e 2021 (em euros por MWh). Instituto Bruegel

 

Porque o gás é agora um factor chave na determinação dos preços da electricidade na Europa, o preço de um megawatt-hora (MWh), que era de cerca de 40 euros no início do ano, é agora superior a 70 euros em média. Nenhum sector escapou a estes aumentos inflacionários. E a crise já está a começar a morder o poder de compra das famílias.

O espectro de uma crise de “coletes amarelos”, que foi inicialmente provocada por um aumento da tributação dos produtos energéticos, assombra muitas mentes. E os líderes políticos, mais no estrangeiro do que em França, estão à procura de formas de o evitar.

Em Julho, o governo espanhol anunciou uma redução do IVA sobre os preços da energia a fim de reduzir os encargos sobre os consumidores, e está a considerar aplicar uma sobretaxa sobre os lucros dos grupos energéticos espanhóis. A medida poderia trazer 2,6 mil milhões de euros, de acordo com estimativas iniciais.

Com mais de 40% da economia italiana dependente do gás, o primeiro-ministro italiano Mario Draghi prometeu também, a 23 de Setembro, reduzir os impostos sobre as contas de gás e electricidade para as famílias e pequenas empresas para o último trimestre de 2021, com um custo estimado de 3 mil milhões de euros. “Na ausência de intervenção governamental, os preços da electricidade poderiam aumentar 40% e os do gás 30% no próximo trimestre“, explicou Mario Draghi para justificar a sua decisão.

Em comparação, o cheque de 100 euros prometido pelo ministro das Finanças Bruno Le Maire aos seis milhões de famílias mais pobres parece bem pouco para compensar os aumentos súbitos e sucessivos dos preços do gás e da electricidade, quando a fratura energética já está a atingi-las duramente. Talvez sentindo que a medida é insuficiente, o Primeiro-Ministro Jean Castex anunciou na TF1, a 30 de Setembro, que o aumento das tarifas de gás regulamentadas seria o último, o que posteriormente levaria a um atraso nas “reduções esperadas a partir de Abril“. Como as tarifas de electricidade estão regulamentadas – e deveriam ter aumentado 12% em Fevereiro de 2021, como anunciou a Ministra da Transição Ecológica, Barbara Pompili – serão limitadas a 4,4%, tendo o Estado decidido baixar temporariamente os impostos (ver a nossa Caixa Negra).

Ninguém tinha visto chegar esta crise energética, que ameaça alastrar. Uma combinação de acontecimentos e factores imprevistos levou a uma ruptura que está agora a afectar todos os mercados energéticos – o preço de um barril de petróleo é superior a 80 dólares, o mais alto em três anos.

Mas é na Europa que os danos são mais graves: o sector energético da Europa está em vias de explodir diante dos nossos olhos. Se ouvirmos os especialistas do mundo da energia, as condições estruturais para este colapso estavam em gestação desde há muito, ainda que os elementos desencadeantes não fossem previsíveis.

O que me surpreende é que as pessoas fiquem surpreendidas com o que está a acontecer hoje. Não poderia ter tido um desenvolvimento diferente. A forma como a Europa liberalizou o sector energético nos últimos 20 anos [a desregulamentação do sector energético foi acordada na Cimeira de Barcelona em 2002 – nota do editor], a arquitectura e os métodos que impôs para afirmar o primado da concorrência neste sector só poderiam conduzir a esta situação“, analisa Jean-Pierre Hansen, antigo presidente dos grupos belgas Tractebel e Electrabel, que durante muito tempo leccionou cursos sobre os mercados energéticos na Polytechnique.

Esta análise é partilhada pelo economista Raphaël Boroumand, um especialista em mercados energéticos. “Há dez anos atrás, escrevi que a electricidade não era um bem adequado para ser liberalizado como nós o fizemos. Vemos isso hoje“, diz ele. “De certa forma, a Europa está a viver uma situação comparável à do Texas em Janeiro [após um estalido frio, os texanos viram chegar contas de electricidade de até 17.000 dólares – nota do editor]. Os preços da energia estão totalmente expostos à volatilidade do mercado“, acrescenta Philippe Chalmin, economista e autor do Cyclope, um trabalho anual de referência sobre matérias-primas.

Constatando bem tardiamente e muito parcialmente os disfuncionamentos e as dos mercados de energia na Europa, Bruno Le Maire [ministro das Finanças] apela a uma reforma do mercado de electricidade na Europa. Pelo menos para ter em conta a especificidade da produção francesa, 75% da qual é baseada na energia nuclear e hidroeléctrica. Mas é uma reforma muito mais ambiciosa, organizando tanto a segurança como um ambiente estável, de modo a permitir uma verdadeira transição ecológica, que deve ser levada a cabo, segundo muitos observadores.

Poderá haver um consenso europeu sobre esta transformação? Os líderes europeus concordarão em reconhecer o impasse e reformar os mercados da energia? Esta questão tem todos os ingredientes de uma crise social e económica, se nada for feito. Ao preparar-se para lançar o seu Acordo Verde, a Comissão Europeia levanta também toda a questão da aceitabilidade social da transição ecológica.

Operação de queima de gás num gasoduto na Alemanha © Hendrik Schmidt / dpa Picture-Alliance via AFP

 

O gás, energia de referência na Europa

Um Inverno mais longo e frio do que o esperado, um Verão sem vento no Norte da Europa, tudo no contexto de uma recuperação económica brutal e desordenada, onde a oferta já não acompanha a procura: tudo se somou em poucos meses para desencadear uma tempestade perfeita no mercado do gás na Europa. Desde o início do ano, todos os pontos de referência foram abalados e apagados. Um frenesim dominou o mundo da energia. Os preços do gás natural, que eram de 18,8 euros por MWh em Janeiro, são agora superiores a 90 euros. A especulação está em curso.

Considerado durante muito tempo como um actor secundário em relação aos mercados petrolíferos, o mercado do gás tem continuado a crescer em importância, uma vez que a transição ecológica se tornou essencial. “O gás natural é na sua essência a energia da transição ecológica. É a energia fóssil que emite menos CO2, é a mais flexível e dá conta da situação sem problemas durante os períodos intermitentes da energia renovável“, diz Philippe Chalmin.

Pelo menos para a Europa, é a energia de referência. Mas esta escolha coloca o continente numa situação de dependência que se pára de agravar-se. Com excepção da Noruega, o continente quase não produz gás. Os poços britânicos do Mar do Norte, que foram tão importantes na revolução Thatcher em geral, e na desregulamentação energética em particular, estão a esgotar-se, os da Holanda estão em vias de desaparecer, e os depósitos de Lacq não são mais do que uma memória.

A Europa tornou-se assim dependente de importações externas, quer através de gasodutos, quer comprando gás liquefeito (GNL). Argélia, Qatar, e Líbia – principalmente com a Itália e muito aleatoriamente desde a guerra de 2011 – estão entre os principais fornecedores da Europa. Mas é com a Rússia que o grau de dependência é mais forte. Gazprom, o braço armado do gás de Vladimir Putin, fornece em média 40% dos fornecimentos de gás europeus. Mas isto pode atingir os 80% no caso da Polónia e 67% no caso da Áustria.

As relações com estes grandes produtores de gás também evoluíram. Durante décadas, para garantir a segurança do aprovisionamento, os países europeus assinaram contratos a longo prazo com aqueles cujos preços evoluíram de acordo com um cabaz de referências petrolíferas. O advento do gás de xisto nos EUA mudou tudo isso. Os mercados de gás tornaram-se independentes dos mercados petrolíferos e avançaram na direcção oposta. Enquanto o preço de um barril de petróleo atingiu níveis recorde, os preços do gás, dada a abundância do abastecimento, entraram em colapso.

Então, porquê continuar a fechar-se em contratos vinculativos e dispendiosos a longo prazo? Um após outro, os produtores abandonaram as relações de longo prazo com os países produtores em favor dos mercados à vista [spot]. A plataforma holandesa para o mercado europeu do gás, a TTF (Title Transfer Facility), tornou-se o ponto de referência para a energia europeia. Mais uma vez, era suposto o mercado fornecer tudo.

 

Uma oferta que já não satisfaz a procura

Desde o fim da petrificação das economias europeias provocada pelo Covid-19, o despertar tem sido brutal. A actividade que tinha sido lenta durante meses entrou subitamente em excesso de velocidade. O consumo de energia, a começar pelo gás, disparou. E o tempo atrapalhou: a estação do Inverno foi mais longa do que o habitual. Tal como em outros sectores de matérias-primas, a oferta teve dificuldade para acompanhar a procura súbita e forte. Na Primavera, os preços do gás já tinham subido 30%.

Tal como os banqueiros centrais e os políticos, os atores do gás iludem-se a si mesmos. Todos eles nos asseguram que estas tensões são apenas temporárias. No Verão, tudo deveria acalmar e o mercado deveria voltar ao normal. Mas nada está a acontecer como se esperava. Mais uma vez, a meteorologia faz das suas. No Norte da Europa, não há vento. Países como a Dinamarca, Grã-Bretanha e Alemanha, que são agora fortemente dependentes das turbinas eólicas, encontram-se com uma produção de electricidade insuficiente. No Sul da Europa, as ondas de calor levam ao consumo excessivo de electricidade devido à utilização massiva de aparelhos de ar condicionado.

A fim de fornecer rapidamente a electricidade necessária, os produtores reiniciam as suas centrais eléctricas alimentadas a gás. Ao mesmo tempo, as grandes empresas de distribuição de gás, que tinham sido lentas a reabastecer as suas reservas após o Inverno na esperança de beneficiarem de preços mais baixos, começam a aperceber-se de que é mais do que tempo de as reabastecer. Todos se encontram a comprar gás ao mesmo tempo. E todos eles se apercebem que estão a ter dificuldades em encontrá-lo. As tensões que pensavam ser passageiras estão a arrastar-se.

Porque o mercado do gás mudou. Pela primeira vez, a China encontra-se em concorrência directa com a Europa para o abastecimento de gás. Isto não deveria ter sido uma surpresa: a China tem sido o maior importador mundial de gás há já algum tempo. Empenhado na luta contra o aquecimento global e a transição ecológica, que são imperativos categóricos para o governo chinês, embarcou numa grande transformação energética, encerrando as suas minas e centrais eléctricas a carvão excessivamente poluentes, a fim de desenvolver energias renováveis com o gás como complemento.

Terminal de GNL na província chinesa de Jiangsu. Foto Xu Congjun / Imaginechina via AFP

 

Quando a economia chinesa recuperou, bem antes do resto da economia mundial, no segundo semestre de 2020, a procura de gás explodiu. A China comprou cargas de GLN, por vezes a preço de ouro. Os países fornecedores tradicionais da Europa, que já não conseguiam encontrar aí uma saída, voltaram-se para a Ásia, para a China. E continuam a favorecer estes mercados, que lhes oferecem perspectivas e preços muito mais elevados do que no Velho Continente.

A segunda mudança é mais preocupante: já não existe um equilíbrio entre a oferta e a procura. Alguns países parecem ter problemas de produção. Após um grande incêndio numa das suas instalações de gás, a Noruega está a ter grande dificuldade em regressar aos níveis normais de produção.

Noutros países, as paragens causadas pela crise sanitária e as dificuldades em encontrar componentes e equipamentos estão também a atrasar a produção de gás. Finalmente, os planos de exploração foram suspensos devido à relutância dos investidores em financiar projectos de combustíveis fósseis.

Mas a verdadeira transformação parece estar ligada à nova política dos produtores. Muitos parecem ter optado pela estratégia da escassez. Esta é pelo menos a linha oficialmente reivindicada pelos produtores de gás de xisto americanos. Embora tivessem optado nos últimos anos por produzir tanto e mais para compensar a queda dos preços através de volumes de produção, e estivessem a pressionar fortemente a todos os níveis para exportar a sua produção para a Europa, desde o Covid, parece-lhes muito mais interessante restringir a sua produção, reduzir os seus investimentos e pagar solidamente aos seus accionistas.

Já advertiram que não se pode contar com eles para abastecer o mercado europeu. Mas os cortes de produção são tão grandes que começam a alarmar os actores americanos. Alguns interrogam-se se a crise do gás europeu se irá alastrar ao mercado dos EUA.

 

Há um desejo por parte de Putin, que não suportou a política europeia de sanções e o questionamento do Nord Stream 2, de fazer a Europa sentir o seu grau de dependência do gás russo.

Philippe Chalmin, economista

 

Mas é o caso da Rússia que é o mais preocupante. Há já alguns meses que parece estar por detrás do que se passa no mercado do gás. A Gazprom honra escrupulosamente os seus acordos contratuais, e em particular os contratos a longo prazo que mantém com certos grandes distribuidores, mas está a fazer o mínimo para abastecer o mercado à vista.

De tal forma que a Agência Internacional de Energia (AIE) acabou por se irritar. “A AIE acredita que a Rússia poderia fazer mais para aumentar a disponibilidade de gás na Europa e assegurar que o armazenamento está a níveis adequados para a próxima estação de aquecimento de Inverno. […] Esta é também uma oportunidade para a Rússia sublinhar o seu papel como fornecedor fiável do mercado europeu“, insistiu numa declaração emitida a 20 de Setembro.

Há interrogações sobre as capacidades de produção da Rússia. Será capaz de fornecer a Europa e a China ao mesmo tempo [uma rede de gasodutos para transportar o gás extraído da Sibéria directamente para o mercado chinês está a ser concluída na sequência de um importante acordo assinado entre Pequim e Moscovo em 2014 – nota da redação]. Mas é também inegável que existe um desejo por parte de Putin, que não suportou a política europeia de sanções e o questionamento do Nord Stream 2, [gasoduto que transportará gás russo para a Alemanha via mar Báltico evitando a passagem pela Ucrânia], de fazer a Europa sentir o seu grau de dependência do gás russo“, analisa Philippe Chalmin.

No local de construção do gasoduto Nord Stream 2 © Photo Ekaterina Solovyova / Sputnik via AFP

 

As dúvidas sobre os compromissos da Rússia são tão grandes que mesmo uma coisa de nada é suficiente para desencadear o pânico. A 27 de Setembro, por exemplo, os comerciantes souberam que a Gazprom reservou apenas 57% da capacidade disponível que lhe está reservada nas redes europeias de gasodutos para vender a sua produção de gás.

Ao mesmo tempo, ficaram atónitos ao descobrir que a China está a enfrentar uma verdadeira crise energética. Numa questão de dias, as paragens de produção, o racionamento de electricidade em algumas cidades e províncias, e mesmo os apagões impostos pelo governo chinês, multiplicaram-se em resposta à falta de electricidade.

Ninguém compreende exactamente o grau de dificuldade que a China defronta no seu mercado de electricidade neste momento, mas estas duas notícias em conjunto incendiaram o mercado do gás. Numa sessão, os preços subiram 11%. E a subida continua, incha. A 30 de Setembro, os preços aumentaram mais de 13%, aproximando-se dos 100 euros (98,23 euros para ser exacta) por MWh, na sequência de novas tensões sobre os fornecimentos russos. Caíram um terço desde o início da semana.

 

Mercado de gás em modo de pânico

Porque pretendem que o mercado do gás se comporte de forma diferente dos outros mercados? Reage exactamente da mesma forma“, diz Jean-Pierre Hansen. Oscilando entre “exuberância e depressão”, para usar a definição do economista André Orléan, o mercado do gás está actualmente em modo de pânico. Com medo de não terem gás suficiente, os compradores estão dispostos a comprar a qualquer preço. Estes comportamentos de rebanho estão a alastrar para o mercado da electricidade. Os fornecedores assinaram contratos a mais de 100 euros por MWh para 2022. Os especuladores estão inevitavelmente a envolver-se e a aumentar ainda mais o preço.

Alguns esperam que estes movimentos “irracionais” sejam apenas passageiros. “Os futuros (contratos a termo) de seis meses são negociados a preços muito mais baixos“, observa um observador do mercado. Os comentários de Mario Draghi, antecipando novos aumentos de 30% a 40% nos preços do gás e da electricidade no último trimestre, apelam, porém, a uma grande cautela.

A reacção da China à crise energética chinesa a 30 de Setembro confirma isto mesmo. O governo chinês parece pronto a mobilizar todos os recursos de gás disponíveis no mercado mundial para enfrentar a actual crise energética. De acordo com a Bloomberg, o vice-primeiro-ministro chinês responsável pela energia e indústria, Han Zheng, terá instruído todas as empresas estatais de energia a assegurarem o abastecimento para o Inverno “custe o que custar“.

Todos estão a virar-se para alternativas. “O aumento dos preços do gás levará à reabertura de centrais eléctricas alimentadas a carvão. Estas são as únicas capacidades disponíveis que são susceptíveis de aliviar a pressão sobre os preços da energia“, previu um estudo do Citigroup nas últimas semanas, apostando que todos os compromissos verdes seriam varridos por restrições de preços e de abastecimento. A previsão pode revelar-se correcta. Nas últimas semanas, os fornecedores europeus começaram a reiniciar centrais eléctricas alimentadas a carvão. Desde Julho, o preço do carvão mais do que duplicou.


 

Caixa Negra

Este artigo foi actualizado na noite de 30 de Setembro para relatar:

1) Os anúncios do Primeiro Ministro Jean Castex na TF1 sobre o congelamento dos aumentos das tarifas reguladas de gás a partir de 1 de Novembro e a limitação dos aumentos das tarifas de electricidade em Fevereiro.

2) A nova informação sobre o governo chinês, agarrado pela garganta pela crise energética que assola o país, e dando ordens para comprar todos os recursos energéticos disponíveis no mercado mundial para enfrentar o Inverno “a qualquer preço”.

Voltarei aos anúncios do governo em futuras parcelas da série.

 


A autora: Martine Orange [1958 -], jornalista da área economia social em Mediapart desde 2008, ex-jornalista do Usine Nouvelle, Le Monde, e La Tribune. Vários livros: Vivendi: A French Affair; Ces messieurs de chez Lazard, Rothschild, um banco no poder. Participação em obras colectivas: a história secreta da V República, a história secreta da associação patronal, Les jours heureux, informer n’est pas un délit. Recebeu o prémio de ética Anticor em 2019.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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