CAROS IRMÃOS ANIMAIS HUMANOS
por Adão Cruz
Pintura de Adão Cruz
Nunca fui pessimista, mas confesso que a minha desilusão é quase total. Não corram tanto e parem um pouco para pensar. A vida é curta, muito curta e feia em relação ao que dela esperávamos e ao que sobre ela sonhávamos. Que o digam os massacrados e chacinados por esse mundo fora. Que o digam todos os humilhados e ofendidos. Que o digam todos os que, como nós, sentimos diariamente a nossa consciência espezinhada e a verdade enforcada ao longo dos passos da nossa existência. Parem um pouco para pensar a sério e não como eles vos obrigam a pensar sobre o que se passa no mundo, onde impera a invasão, o assalto, o domínio e o roubo pelo mais forte. Uma boa parte da humanidade está podre, carcomida pelo poderoso cancro imperialista, metastisado por grande parte do planeta. Confrontado com as perversas provocações, as diabólicas agressões e massacres que a tantos holocaustos têm conduzido, temo verdadeiramente o holocausto final. Temo sobretudo a covarde, ingénua e ignorante aceitação dos crimes contra a humanidade como factos aceitáveis ou mesmo legítimos. Dói-me a insensibilidade de uma boa parte das pessoas que nos rodeiam, perante o espezinhamento do Direito Internacional. Todos sabemos que ninguém é santo neste mundo. Contudo, lamento sobremaneira o não reconhecimento do verdadeiro inimigo e a maldosa e irresponsável conclusão de que “são todos iguais”. Desiludem-me a submissão, a inoperância e as ambiguidades das instituições, de que a ONU é um claro exemplo, a colaboração consciente dos governos indignos e lacaios, o silêncio hipócrita da igreja, sabendo esta que o coração dos poderosos com quem ela tão bem se dá, não é mais do que um buraco negro atafulhado de dólares, que nada tem a ver com o Coração de Cristo. Grande parte da humanidade está apática, obtusa e alienada, o que faz com que tenha vindo a transformar-se numa massa amorfa, presa fácil de toda a mentira, de todo o mercantilismo sem valor e de todos os obscurantismos políticos e religiosos.


