Consta que em 1877, Gustave Flaubert publicou um pequeno volume intitulado Trois Contes, correspondendo a sua última obra acabada. O segundo conto chama-se “La Légende de Saint Julien l’Hospitalier”., tendo sido escrito entre 1875 e 1876.
Amadeo de Souza-Cardoso copiou a pincel e ilustrou este livro, na sua versão original, durante um período que passou na Bretanha no Verão de 1912.
É considerado um “exemplar único-original”. Quando o pintor expôs em 1916, no Porto e em Lisboa, ao referir-se aos seus últimos 20 Desenhos, Amadeo faz referência a este trabalho.
A Obra é apresentada pela professora Maria Filomena Molder, Professora Catedrática do Departamento de Filosofia, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, membro do Instituto de Filosofia da Linguagem, U.N.L., do Conselho Científico do Collège International de Philosophie, Paris. Diz a analista: “É preciso assinalar o notável trabalho de copista-calígrafo de Amadeo e tirar as devidas consequências. A sua familiaridade com o texto é demonstrada pela total ausência de hesitação na restituição das palavras e das frases, sem erros de acentuação ou pontuação, pela exactidão da sequência: não há uma palavra ou frase reduzida ou aumentada de tamanho para que o final de uma folha se prossiga para o início da outra, não há qualquer solução de continuidade ad hoc. Estes argumentos não esgotam, no entanto, o teor completo que Amadeo tem do conto de Flaubert. É que ele não segue sempre a regra de iniciar cada página com um parágrafo – o que teria sido possível, dado que a mancha do texto caligrafado não é homogénea -, escolhendo muitas vezes o segundo ou o terceiro, o penúltimo ou o último período de um parágrafo, e interrompendo mesmo no meio de um período, depois de um ponto e vírgula”.
“On vivait en paix depuis si longtemps que la herse ne s’abaissait plus; les fossés étaient pleins d’herbe; des hirondelles faisaient leur nid dans la fente des créneaux; et l’archer qui tout le long du jour se promenait sur la courtine, dès que le soleil brillait trop fort, rentrait dans l’échauguette, et s’endormait comme un moine. »
Reedição actual, pela Sistema Solar, em parceria com a Fundação Gulbenkian, a propósito da exposição dedicada a Amadeo de Souza Cardoso no Grand Palais, em Paris e que vai ficar patente até 18 de Julho.