“ROSA” DE MÁRIO CLÁUDIO por Clara Castilho

Aproveitando o dia de nascimento de Rosa Ramalho (1888), falemos do livro “Rosa” de Mário Cláudio.

Esta ceramista popular ou louceira, de São Martinho de Galegos (Barcelos), ficou conhecida pelas suas peças que traduziam o imaginário popular e fantástico: cristos, diabos, alminhas, sereias ou bichos ferozes transplantados de um bestiário recuperado do fundo dos tempos.Mário Cláudio dela nos fala através do romance “Rosa” (1988), inspirando-se na biografia da ceramista.

 

 

Da bibliografia em Wook:

O escritor é Formado em Direito, é  master of Arts em biblioteconomia e Ciências Documentais pelo University College de Londres. Revelou-se como poeta com o volume Ciclo de Cypris (1969). Foi tradutor de autores como William Beckford, Odysseus Elytis, Nikos Gatsos e Virginia Woolf.

Publicou com o nome próprio, uma vez que “Mário Cláudio” é pseudónimo, um Estudo do Analfabetismo em Portugal, obra que reúne a sua tese de mestrado e uma comunicação apresentada no 6.° Encontro de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas Portugueses, em 1978. Colaborador em várias publicações periódicas, como Loreto 13Colóquio/Letras, Diário de LisboaVérticeJornal de Letras Artes e IdeiasO Jornal, entre outros, foi considerado pela crítica, desde a publicação de obras como Um Verão Assim, um autor para quem o verso e a prosa constituem modalidades intercambiáveis, detendo características comuns como a opacidade, a musicalidade e a rutura sintática, subvertendo a linearidade da leitura por uma escrita construída como “labirinto em espiral”.

A obra de Mário Cláudio apresenta uma faceta de investigador e de bibliófilo que, encontrando continuidade na sua atividade profissional, inscreve eruditamente cada um dos livros numa herança cultural e literária, portuguesa ou universal. Dir-se-ia que a sua escrita, seja romanesca, seja em coletâneas de pequenas narrativas (Itinerários, 1993), funciona como um espelho que devolve a cada período a sua imagem, perspetivada através de um rosto ou de um local, em que o próprio autor se reflete, e isto sem a preocupação de qualquer tipo de realismo, mas num todo difuso e compósito, capaz de evocar o sentido ou o tom de uma época que concorre ainda para formar a época presente.
Mário Cláudio recebeu, em 1985, o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores por Amadeo (1984), o primeiro romance de um conjunto posteriormente intitulado Trilogia da Mão (1993), em 2001 recebeu o prémio novela da mesma associação pelo livro A Cidade no Bolso e, em dezembro de 2004, foi distinguido com o Prémio Pessoa. Para além das obras já mencionadas, são também da sua autoria Guilhermina (1986), A Quinta das Virtudes, (1991), Tocata para Dois Clarins (1992), O Pórtico da Glória (1997), Peregrinação de Barnabé das Índias(1998), Ursamaior (2000), Orion (2003), Amadeu (2003), Gémeos (2004) e Triunfo do Amor Português (2004). O autor tem também trabalhos publicados na área da poesia (como Ciclo de Cypris, 1969, Terra Sigillata, de 1982, e Dois Equinócios, de 1996), dos ensaios (Para o Estudo do Alfabetismo e da Relutância à Leitura em Portugal, de 1979, entre outros), do teatro (por exemplo, O Estranho Caso do Trapezista Azul, de 1999) e da literatura juvenil (A Bruxa, o Poeta e o Anjo, de 1996).

Mozahir Salomão Bruck (Doutorado em Literaturas de Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC- Minas. Pós-doutorado na Universidade Fernando Pessoa), analisa as biografias de Mário Cláudio, na revista Pós-Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 22-31, maio 2016, no artigo O fingimento na lida biográfica: Mario Claudio e a vida de Amadeo de Souza Cardoso.

E  escreve: “A incursão de Mário Cláudio pelas biografias iniciou-se na década de 1980, quando escreveu Amadeo, biografia do pintor futurista Amadeo de Souza-Cardoso – uma “psico-sócio-biografia”, nas palavras do autor. Foi com Amadeo, assim, que teve início a Trilogia da mão, na qual o escritor abordou a vida e obra de outras duas figuras artísticas portuguesas: a violoncelista Guilhermina Suggia (Guilhermina) e a barrista Rosa Ramalho (Rosa). Com os três artistas, tipificou distintos estratos sociais (aristocracia, burguesia, povo) e o “imaginário nacional”, entre o final do século 19 e meados do século 20. Nessa trilogia, o autor romanceia o próprio processo de biografar, por meio de uma escrita fragmentada – mais sensorial do que exatamente objetiva. Amadeo, Guilhermina e Rosa foram publicadas separadamente (1984 – a primeira edição, 1986 e 1988, respectivamente), mas depois reunidos em um único volume na Trilogia da mão (de 1993). A biografia Amadeo foi reeditada já por duas vezes e Guilhermina, relançada, pela primeira vez, em 2007. Ao construir a Trilogia da mão, Mário Cláudio se detém sobre aspectos da vida de três artistas portugueses – figuras que ganharam destaque na sociedade portuguesa por habilidades distintas em criar com as mãos a partir do nada, do vazio: um pintor futurista, uma violoncelista e uma ceramista. O biógrafo, no entanto, nem de longe parece colocar para si o objetivo de apresentar e ordenar detalhada e coerentemente fatos e circunstâncias das vidas dos biografados. Mário Cláudio, pelo contrário, opta por estruturar uma simbiose de estampas, fragmentos, insinuações e referências opacizadas a partir de uma linguagem que parece dedicada, prioritariamente, a cortejar o lírico, o poético. Mais que isso, talvez, uma narrativa que se institui a partir de uma linguagem cuja operacionalização estética parece revelar uma intencionalidade do autor em transformar sua obra em um pleno e assumido exercício de uma refinada escrita que se estabelece como um elemento a mais a ser percebido pelo leitor, tão vivo e instigante quanto qualquer uma das personagens – sejam elas biográficas ou ficcionais. Tal postura fica evidenciada a partir da própria forma como o escritor decide apresentar as biografias, ou seja, estabelecendo, paralelamente a elas, um texto narrativo ficcional.”

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