Temos dito com alguma frequência que as medidas que este governo está a tomar, provocam um genocídio silencioso – os velhos mais desfavorecidos socialmente, com carga fiscal a aumentar e as reformas, já de si de pequeno montante, a ser reduzidas, a deixar de tomar medicamentos essenciais à sua sobrevivência e a reduzir as despesas com alimentação, estão a morrer em suas casas ou nos lares da terceira idade. Em artigo do jornal Público, o médico psiquiatra Pedro Afonso explica o que está a acontcer com a saúde mental dos portugueses, referindo dados do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental: «Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas pertu0rbações durante a vida», diz o renomado psiquiatra no seu texto.
Todos sabemos que a idade traz consigo, além de uma sabedoria de experiência feita (que as mais das vezes, de pouco serve), doenças, debilidade, pessimismo. Se a este quadro juntarmos a redução drástica do rendimento a que os trabalhadores reformados têm direito, pois descontaram, eles e as entidades patronais, ao longo de carreiras contributivas de mais de 40 anos, o suficiente para receberem as pensões de reforma, percebe-se por que motivo a angústia alastra como uma mancha de óleo e as doenças psiquiátricas crescem exponencialmente. Porque nas outras faixas etárias a situação não é melhor – o desemprego tainge taxas nunca antes alcançadas e o acesso ao primeiro emprego torna-se quase tão difícil como ganhar a lotaria. Diz Pedro A>fonso: « Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem». Porque neste cenário de pesadelo que o executivo de Passos Coelho criou após o país de «faz de conta» em que Sócrates nos habituara a viver, a inércia do sistema permite que se prossiga a tentativa de vender tudo e mais alguma coisa – o consumismo não diminui – o que foi reduzida foi a capacidade financeira de consumir. A sociedade está como um indivíduo a quem amputaram as pernas – não as tem, mas sente-as e quer continuar a correr.
O desfasamento entre o sonho de telenovela e a realidade, provoca disfunções a todos os níveis – crises conjugais e os consequentes divórcios, dramas familiares, com velhos a ser retirados dos lares de terceira idade e a ser deixados morrer pelos filhos, adolescentes frustrados a enveredar pela marginalidade… Tudo coisas que já aconteciam antes, mas cujo aumento disparou de forma dramática. Voltamos ao Dr. Pedro Afonso: «Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social» .
E falando de quem, dando provas de zelo rafeiro perante os deuses do poder económico, provocaram este cenário, diz: «Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais»
Uma fotografia que nos acabam de enviar pode ajudar a perceber – Passos Coelho estuda as lições de Salazar. Estuda, mas não aprende – o velho «botas» era um mestre no ilusionismo de, numa realidade de repressão, miséria e ignorância, criar a ideia de que reinava a felicidade. Claro que só enganava quem queria ser enganado. As coisas mudaram, este Coelho que nos saiu da cartola de uma democracia formal, não dispõe dos instrumentos a que o seu mestre tinha acesso. E ao espírito tacanho de Salazar acrescenta uma notória falta de tacto e de inteligência. E deixamos a foto de abertura, chamandoa atenção para o pormenor – nele se vê que Pedro Passos Coelho anda a ler o livro “A diplomacia de Salazar”, em que Bernardo Futscher Pereira evoca a vertente externa da política de outro governante (entre a ascensão do Presidente do Conselho ao cargo, em 1932, e a adesão de Portugal à NATO, volvidos 17 anos).O instantâneo captado por Carregã em Coimbra, corresponde ao que aos manuais definem como autêntica obra de fotojornalismo, na medida em que comporta informação dificilmente alcançável por outra forma.A foto (que com a devida vénia reproduzimos) mostra Passos Coelho no interior da sua viatura, em cujo banco traseiro sobressai “A diplomacia de Salazar”.
* S quem tem memria de galinha anda neste mundo dos deuses do capitalismo econmico passa ao lado da tragdia que desaba sobre este Pas … Maria S *