A PROPÓSITO DO EDITORIAL DO DIA 24 – por Paulo Rato

Os idiotas que governam política e economicamente a maioria dos países do Mundo, incapazes de desenvolver a economia de modo inteligente, criativo e renovado, pelo que mantêm níveis de desemprego e empobrecimento que, como nos ensina a História, têm sido o detonador dos maiores cataclismos político-sociais (de revoluções – que, mesmo quando produzem alterações positivas, são sempre causa de grande violência e sofrimento – a guerras – de que nem vale a pena recordar as consequências…), acabam por dar com as tolas ocas contra o muro da sua própria estupidez e incompetência. Daí que ninguém procure enfrentar a questão (não o “problema”!) do envelhecimento das populações, aliás acompanhado pelo aumento de duração do pleno domínio das suas capacidades intelectuais, da única perspectiva inteligente: a de continuar a contar com a sua contribuição para a sociedade, incluindo o trabalho remunerado, com uma redução acentuada de carga horária, para que todos gozassem de um período em que pudessem ter uma “reforma activa”, conciliando o lazer a que ganharam direito após uma vida de trabalho, com o seu contributo produtivo (já o fazem, cada vez mais, com aumentos espúrios de impostos…) para a sociedade. Se a própria lei não mo impedisse, ainda hoje eu produziria, com muito gosto, um programa de rádio que fiz durante 14 anos na Antena 2 da RDP e que era dos mais apreciados pelos ouvintes da estação!… Quantos “velhos” não gostariam de se manter em actividade parcial e voluntária?

De facto, o grande problema reside na incapacidade de renovação de um sistema económico esgotado, pelos seus maiores beneficiários e pelos robôs “economistas” que os acolitam. E na estupidez de todos os seus actores (em português, “players”…), que encorajam as reformas antecipadas, chegam, como aconteceu comigo (no sector público), a proibir-lhes a manutenção de uma actividade – neste caso, mesmo se não remunerada! –, empurram para o desemprego pessoas que nem se podem reformar nem reentrar no mercado de trabalho e, depois, queixam-se das consequências das suas próprias inanidades!

Estamos, efectivamente, a atingir o cume da imbecilizarão das “elites” políticas e económicas (que – assim o referia, há já quase 60 anos, Gilo Dorfles – deixou completamente de coincidir com as elites culturais, como acontecera até meados do século XIX). Num sistema que já desaguou no beco sem saída previsto por Marx e Engels há mais de século e meio, onde o desenvolvimento assenta na hipótese absurda de cada “consumidor” adquirir um telemóvel novo de seis em seis meses, um computador ou “tabuleta” ou “aipóde” todos os anos, outro qualquer “gádejete” trimestralmente, um carro de dois em dois anos e por aí fora, com a consequência inevitável de, não sendo cumpridos tais “objectivos”, as empresas produtoras “terem de emagrecer”, isto é, de despedir trabalhadores, o que incrementa a redução do número de consumidores, num círculo vicioso completamente pateta, mas, curiosamente, indiscernível pelos génios da economia, das finanças e dos “mercados” que nos governam, não há soluções para ninguém, fora do reduto falsamente inexpugnável dos que conseguem aumentar as já desmesuradas fortunas, mesmo em tempo de crise (sem perceberem que, inevitavelmente, também isso terá um – mau! – fim).
Não sou um especialista nestas matérias. Mas penso.

E considero que, se for possível mudar de sistema ou, pelo menos, por mero instinto de sobrevivência, reorganizá-lo com a inteligência e o bom-senso que tem faltado aos seus “teóricos”, antes de se consumar a catástrofe para onde este se encaminha, mais rapidamente do que os ceguinhos ideológicos vislumbram nos seus piores pesadelos, então, uma perspectiva mais lúcida e criativa de equacionar as questões relacionadas com um tempo de vida mais prolongado emergirá, diria eu, quase espontaneamente.

Com o desenvolvimento económico finalmente subordinado ao interesse e à felicidade do ser humano, assente em pressupostos mais lógicos, saudáveis e sustentáveis, diversificando os bens e serviços transaccionáveis e mantendo a remuneração do investimento privado a um nível muito menos ambicioso (onde talvez não caibam “altas-costuras” e os variados “topo-de-gama” que hoje ornamentam a boçalidade dos possidentes, mas cuja aceitação representará a sua única esperança de adiar a derrocada do sistema), será possível a manutenção de percentagens baixíssimas e sempre transitórias de desemprego e a absorção da actividade remunerada de muitos “velhos” (eu arriscaria dizer da maioria) que mantêm as suas capacidades, pelo menos no plano intelectual, e lhes acrescentam a mais-valia da experiência e do saber acumulados. Em vez da torpe e ineficaz pseudo-solução de aumentar a idade da reforma, permitir-se-ia que estes trabalhadores continuassem, depois dela e se o desejassem, a exercer uma profissão (a que tiveram, ou outra), a tempo parcial, sem rigidez horária e – quando possível e também por eles desejado – de permanência num “local de trabalho”, eventualmente orientados pela definição do cumprimento de tarefas.

É algo que já acontece com quem exerce uma profissão liberal e gere a sua própria actividade, pelo que não é uma hipótese esotérica a extensão do princípio ao trabalho dependente: assim se queira agir, efectivamente, em prol da sociedade e não dos maravedis…

Retomo a questão que coloquei no primeiro parágrafo –  quantos “velhos”, que os patetas que ocupam actualmente os mais importantes cargos de decisão política e económica consideram como “excedentes” imprestáveis” não se voluntariariam para gozar uma reforma parcialmente ocupada e remunerada (o que contribuiria, também, para ir aumentando as respectivas pensões), coexistindo com uma disponibilidade para um usufruto efectivo do lazer e não apenas do só aparente “descanso” de uma total inactividade? E não me estou a esquecer dos que se transferem, com espírito de missão, para acções de voluntariado, algumas das quais, tendo em conta a sua utilidade e as necessidades económicas, avaliadas caso a caso, de quem as executa, poderiam ser remuneradas por um Estado que delas se aproveita: até porque, no caso do tipo de sociedade equacionada, seriam justamente assumidas como complementares.

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