POESIA AO AMANHECER – 146 – por Manuel Simões

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FRANCISCO RODRIGUES LOBO

( 1574?  – 1621 )

ÉGLOGA IV (fragmento)

Elegia

(…)

Já deste prado as flores se secaram,

já se secou a nossa primavera,

já nossas alegrias se acabaram.

Ah, doce pátria minha, quem pudera

resgatar com vida o teu sossego,

que, como Cúrcio fez, também fizera!

Tornou-se turvo o Tejo e o Mondego.

Envolvei vossas águas, Lis e Lena;

assombrai tristemente o fundo pego.

(…)

Ah, pastores do Lis mais venturosos,

que já gozais do céu claro e sereno,

e da vil morte estais pouco medrosos,

deste desterro, aonde agora peno,

aceitai por oferta este desejo

e estes suspiros tristes de Lereno,

que em quanto vos não sigo e vos não vejo,

não me fica que dar mais que dar ais

e lágrimas que cresçam mais que o Tejo,

‘té chegarem, pastores, aonde estais.

A” Égloga” é oferecida a um amigo que se refugiou no campo para fugir à peste. Segundo Ricardo Jorge, poderia tratar-se das epidemias de 1598 e 1602. Mas o conteúdo da écloga pode também referir-se à situação política de Portugal. De facto, um dos pastores refere que a elegia «é um canto que ouvi ao nosso Lereno, em que ele lamenta as desgraças da pátria vencida».

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