FRANCISCO MANUEL DE MELO
( 1611 – 1666 )
MEMÓRIAS E QUEIXAS
Esses mares que vejo, essas areias
rompi, pisei, beijei hoje há sete anos;
sete servi, sete perdi, tiranos
sempre os fados nas vozes das sereias.
Tantos há que, arrastando cruéis cadeias,
não guardo ovelhas, mas aguardo danos,
das fermosas Raquéis vendo os enganos,
sem a promessa ouvir das Lias feias.
Sofra Jacó fiel Labão mentindo,
que, se dobra o servir, da alta consorte
já não pode negar-lhe a mão devida.
Ai do que espera, quanto mais servindo!
Para um tão triste fim, tão leda a morte!
Para um tão largo amor, tão curta a vida!
(De “Obras Métricas”)