POESIA AO AMANHECER – 176 – por Manuel Simões

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SOARES DE PASSOS

(1826 – 1860)

CANTO DO LIVRE (FRAGMENTO)

Ao meu amigo Alexandre Braga

Gema embora a terra inteira

acurvada a iníquas leis:

esta fronte sobranceira

jamais de rojo a vereis.

Oh! ninguém, ninguém a esmaga,

que eu sou livre como a vaga,

que sacode sobre a plaga

o jugo d’altos baixéis.

Liberdade é o mote escrito

no céu, na terra, e no mar!

Di-lo a fera no seu grito,

e as aves cruzando o ar;

di-lo o vento da procela,

a vaga que se encapela,

e nos espaços a estrela

em seu contínuo girar.

Di-lo tudo! mas ainda

mais livre me criou Deus

que os astros da altura infinda,

os ventos, e os escarcéus.

Eu tenho mais liberdade

desta alma na imensidade,

pois tenho nela a vontade,

tenho a razão, luz dos céus.

(…)

(de “Poesias”)

Funda em 1851 a revista “Novo Trovador”. Reúne os seus poemas em “Poesias” (1ª ed. 1856). Mais conhecido pelo poema “O Noivado de sepulcro”, a mais célebre das composições do nosso ultra-romantismo, a sua obra alterna o pessimismo deletério com as exortações de luta pelo progresso e pela liberdade.

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