Prosseguia a reunião no gabinete de Filipe Marlove.
Os trabalhos foram interrompidos para um cofee break – Marília trouxe as chávenas num tabuleiro e começou a distribuí-las. Quando ia pôr uma em frente do Pato, o Professor disse:
– Alto! Para esse senhor traga antes uma infusão de milho painço!
Gargalhadas. Só o Pato não se riu. Tossiu e quando os risos acalmaram, disse:
– Muito obrigado, Professor. Tenho aqui uma prenda para o senhor…
– Uma prenda?
– Uma prenda, um presente, uma atenção… – e do bolso interior da gabardina tirou um sobrescrito. Em letras desalinhadas, tinha escrito
Kwa!
Deu-o ao Filipe Marlove que o entregou ao Professor. Este, abriu-o.
– O que é isto?
– Isto? – o Pato grasnou – São maneiras de tratar a ex-primeira dama de França?
O Professor, guardou o envelope. Parecia irritado:
– Onde encontraste isto?
– Na Biblioteca do Estado, em Berlim – Estava perto da foto da Dona Angela. E tinha mais…
O Professor estava zangado:
– Tenho a impressão de que hoje o almoço vai ser arroz de pato…
O inspector Pais sorveu ruidosamente o café. Mastigava o último pastel de bacalhau.
– Vamos então acabar a reunião.
O Pato grasnou de novo:
– Também trouxe uma prenda para o Inspector. Tirou outro envelope. Dizia –
Kwa
O inspector ficou siderado – Passou a foto a Filipe. Marília que, servidos os cafés, voltara ao seu lugar, verbalizou o espanto de Pais e de Filipe:
– A mecânica Celeste!
Os rostos viraram-se para o Pato.
– Onde arranjaste isto? – berrou o Pais.
– Em Berlim, na Biblioteca.
– Dass! – o Pais estava indignado. Voltou-se para Sérgio Madeira:
– Você não tem vergonha?
– De quê?
– Então é assim que você, escritor, jornalista, resolve as suas histórias?
– Assim como?
– Não se arme em esperto! – o Pais estava vermelho de ira – Não se arme em esperto comigo! – tossiu – Esta história, ou melhor, estas histórias, visto que há aqui duas histórias misturadas, são uma desgraça…
Bateram à porta. Era o Esteves:
– Desculpe interromper, senhor inspector.
– Diga lá!
– Está aqui o senhor ministro Vítor Gaspar…
O inspector acalmou:
– Diga para entrar – e acrescentou para os outros – Vamos lá ver se isto ganha algum rumo.
–