POESIA AO AMANHECER – 194 – por Manuel Simões

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ÂNGELO DE LIMA

(1872 – 1921)

“Pára-me de repente o pensamento…”

Pára-me de repente o pensamento…

Como que de repente refreado

Na doida correria, em que levado

Anda em busca da Paz… do Esquecimento.

Pára surpreso, escrutador, atento,

Como pára um cavalo alucinado,

Aos pés do abismo, súbito rasgado.

Pára, e fica e demora-se um momento!

Vem trazido na doida correria,

Pára à beira do abismo, e se demora

E mergulha na noite, escura e fria,

Um olhar de aço que essa noite explora,

Mas a espora da Dor seu flanco estria

E ele galga, e prossegue sob a espora.

(“O Portugal”, 12 de Junho de 1900)

De temática simbolista mas em transição evidente para o Modernismo (de resto, o autor foi acolhido pela geração de “Orpheu”), sobressai aqui a perda de um “eu” até ao limite de um lugar vazio, o que o aproxima de Fernando Pessoa. Também Ângelo de Lima parece usar o mistério como matéria preferencial. A sua poesia, dispersa por jornais e revistas, foi reunida em “Poesias Completas” (1971).

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