POESIA AO AMANHECER – 341 – por Manuel Simões

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                                   RUI NOGAR

                                   ( 1932 – 1993 )

            ELEGIA A MAMANA ISABEL

            que tinha 56 anos quando morreu António Caetano

 

            Os jornais o disseram

            morreu António Caetano

            velhíssimo velho colono.

            Lutou por Moçambique

            no tempo do Gungunhana.

            Lutou por Portugal

            durante a Grande Guerra.

            Lutou e venceu.

            Só agora foi vencido: morreu.

 

            Os jornais o disseram

            mas eu sei ah! dolorosamente eu sei

            quem morreu não foi ele

            foi mamana Isabel

 

             quarenta e dois anos à sombra

            da modesta reforma

            do velhíssimo velho colono

            esboroaram-se naquele dia

 

            quarenta e dois anos em que foram dois

            dormindo comendo esperando

            na frágil e velha cabana

            do velhíssimo velho colono

            senhor António Caetano

 

            quarenta e dois anos

            de luta  desespero  resignação

 

            quarenta e dois anos

            ah! quarenta e dois anos se foram

            quando morreu António Caetano

            velhíssimo velho colono.

            (de “Resistência Africana”)

Escritor moçambicano, pseudónimo de Francisco Rui Moniz Barreto. Colaborou em “Itinerário”, “Brado Africano”, “A Voz de Moçambique”, “Caliban” e “África”. Incluído em várias antologias: “Poetas Moçambicanos” (1960), “Resistência Africana” (1975) e “No Ritmo dos Tantãs” (1991). Da sua extensa obra poética sobressai “Silêncio Escancarado” (1982).

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