Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Cantigas do Sete-Estrelo”, Rádio Triunfo, 1985, reed. Movieplay, 1997)
(instrumental)
* Instrumentos: duas violas, duas violas braguesas, quatro cavaquinhos, violino, bombo, pandeireta, castanholas e palmas
Nota: «Um dos instrumentos de natureza mais notoriamente festiva é, sem dúvida, o cavaquinho, cuja sonoridade parece convidar de imediato à dança e à diversão. O seu ritmo saltitante alia-se ao timbre penetrante e quase impertinente que o caracteriza, o que se torna particularmente sugestivo num instrumento de tão reduzidas dimensões.
O Vira que compusemos para o cavaquinho fica como um apelo à euforia do movimento e da dança e à alegria contagiante que ressuma de uma caneca de vinho novo.» (Vítor Reino / Ronda dos Quatro Caminhos)
Batuque
Letra e música: Popular (Açores / Trás-os-Montes)
Recolha: Artur Santos
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Cantigas do Sete-Estrelo”, Rádio Triunfo, 1985, reed. Movieplay, 1997)
[instrumental]
Batuque, batuque,
Batuque, meu bem!
Quem me dera ter
O que o batuque tem…
Batuque, batuque,
Torna a batucar!
Meninas bonitas
Vão p’ra o seu lugar.
[instrumental]
Batuque, batuque,
Por trás do frontal;
Perdi uma agulha,
Achei um dedal.
Batuque, batuque,
De noite ao serão…
Ouvem-se violas,
Que lindas que são!
[instrumental]
* Instrumentos: três violas braguesas, guitarra portuguesa, quatro cavaquinhos, baixo acústico, duas ponteiras, duas gaitas-de-foles, dois pandeiros, pandeireta e quatro bombos
Nota: «No calor de uma noite de festa e convívio, esta bela moda de baile surge como manifestação plena de juventude e vitalidade, no seu ritmo quase sensual e no exotismo da sua melodia. A fascinação e o encantamento que podem existir numa simples cantiga encontram-se aqui bem patentes, não deixando de ser curiosas as estranhas similitudes relativamente a padrões musicais africanos.
A fusão que efectuámos entre a beleza melancólica da música dos Açores e a força quase primitiva do folclore transmontano (aqui representado pela sonoridade vibrante das gaitas-de-foles que acompanham a canção e a encerram com um típico toque de alvorada) aponta para o carácter universalista da música tradicional como expressão dos sentimentos mais profundamente significativos da pessoa humana.
“Batuque, batuque, / Batuque, meu bem!…”
E no auditório cruzam-se os olhares furtivos, as promessas adivinhadas por detrás das palavras…» (Vítor Reino / Ronda dos Quatro Caminhos)
Quedos, Quedos, Cavaleiros!
Letra: Popular (Trás-os-Montes)
Música: Vítor Reino
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Cantigas do Sete-Estrelo”, Rádio Triunfo, 1985, reed. Movieplay, 1997)
[instrumental]
«Quedos, quedos, cavaleiros,
Que el-rei vos manda contar!»
Contaram e recontaram,
Só um lhes vinha a faltar.
Era esse Dom Beltrão,
Tão forte no batalhar;
Nunca o acharam de menos
Senão naquele contar.
Senão ao passar do rio
Nos portos do mal passar!
Sete vezes deitam sortes
A quem no há-de ir buscar;
Todas setes lhe caíram
Ao bom velho de seu pai.
Triste e só se foi andando,
Sempre, sempre a cavalgar…
Aos pastores perguntando
Se viram ali passar
Cavaleiro de armas brancas,
Seu cavalo tremedal.
«Cavaleiro de armas brancas,
Seu cavalo tremedal,
Por essa ribeira fora
Ninguém no viu passar.»
Vai andando, vai andando,
Dom Beltrão não pôde achar.
Vê andar um perro moiro
Em um adarve a velar:
– Por Deus, te rogo, bom moiro,
Me digas sem me enganar,
Cavaleiro de armas brancas
Se o viste por aqui passar?
Ontem à noite seria,
Horas de o galo cantar;
Se entre vós está cativo,
A oiro o hei-de pesar.
– Esse cavaleiro, amigo,
Morto está nesse pragal,
Com sete feridas no peito,
Qual delas a mais mortal?!
Por três vezes seu cavalo
Desviou, para o salvar,
Mas a sanha era tanta
Que por terra veio tombar…
[instrumental]
* Instrumentos: duas violas dedilhadas, dois bandolins, violino, fole, duas flautas, dois adufes e bombo
Nota: «”Ouvi, agora, senhores, a história do bravo cavaleiro Dom Beltrão e mais do nobre seu pai, que por montes e vales o procurou! Vede como o desvairado velho o foi encontrar no campo de batalha, trespassado pelas lanças muçulmanas! Reparai bem como tudo isto se passou e até que ponto o destemido cavaleiro quis levar a sua ousadia…”
Com este pregão de tipo medieval se anuncia uma história fantástica como muitas que persistem na nossa memória colectiva: são os antigos romances vindos do fundo dos tempos, de tempos tão longínquos que já não é a realidade que importa mas o mundo encantatório do “era uma vez…”, onde tudo é possível e aceitável.
“Ouvi, agora, senhores, a história do bravo cavaleiro Dom Beltrão, herói lendário da lendária luta entre Mouros e Cristãos, antes mesmo da fundação de Portugal como nação independente… e descobri por vós próprios que força oculta existirá nesta história, para assim atravessar, de boca em boca, mil anos de gerações sucessivas!…”» (Vítor Reino / Ronda dos Quatro Caminhos)