FRATERNIZAR – E A ONU BATEU NOS PAPAS E NOS BISPOS – por Mário de Oliveira

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Ainda a pedofilia do clero católico

Os últimos papas e os bispos católicos em geral ficam muito mal na fotografia tirada pela ONU. Perante a realidade da pedofilia do clero católico – só se conhece a ponta do iceberg, não o iceberg! – fazem ainda pior do que a avestruz. Não se limitam, como ela, a enterrar a cabeça na areia, para poderem dizer que não sabem de nada, não vêem nada de anormal nos seus clérigos, todos obrigados ao celibato eclesiástico. Vão mais longe em perversão pastoral, e protegem /encobrem os praticantes de pedofilia. No máximo, chamam-nos a capítulo, tudo muito às escondidas, escutam a sua versão dos factos, acreditam no que os potenciais prevaricadores lhes dizem e mandam-nos passar a rezar mais, daí em diante, e a recorrer à confissão semanal desses pecados e outros na mesma área da sexualidade criminosamente reprimida, que a tanto estão obrigados pela Lei do celibato eclesiástico, apresentada ao longo dos séculos, como a “jóia” da instituição católica romana do Ocidente, já que, graças a ela, nunca o seu incontável património espalhado por todo o mundo corre o risco de ser repartido por herdeiras, herdeiros, que os não há, pelo menos, oficialmente. Depois e para cúmulo, têm como “menores” – não são menores, os abusados, abusadas por eles? – os actos de pedofilia dos clérigos. Confessem-se sucessivamente desses abusos e não se fala mais nisso. Num caso ou noutro, onde já há escândalo na paróquia, o clérigo pedófilo é removido e promovido para uma outra paróquia maior e financeiramente mais rendosa, para que não fique sequer a suspeita de que foi castigado pelo bispo residencial. E tudo isto, para que o bom-nome da instituição não seja conspurcado e permaneça acima de toda a suspeita.

Felizmente, o Relatório da ONU sobre o assunto, não alinhou pela mesma perversa prática dos Bispos residenciais e dos papas de Roma, com destaque, no que respeita a papas, para Bento XVI, que se viu obrigado a resignar e a residir, o resto da vida, no Vaticano como prisioneiro, e para o seu imediato predecessor, João Paulo II, canonizado às pressas, pouco tempo depois da sua mediatizada morte – o que o desgraçado teve de penar, nos últimos anos, para poder ser logo aclamado Santo, ainda o seu cadáver estava insepulto! – e, desse modo, tentar silenciar e descredibilizar os testemunhos das inúmeras vítimas de pedofilia que, finalmente, se dispuseram a contar os infernos que tiveram de suportar, quando meninas, meninos de coro e de catequese para o crisma, ou internadas, internados em instituições católicas de “protecção de menores”, confiadas a clérigos (!!!).

O Relatório da ONU põe o dedo na ferida e bate nos papas e na Cúria romana, a máfia das máfias em todo o mundo, o pecado global organizado e sacralizado. E que faz a Cúria, perante o Relatório? A Cúria, qual virgem pudica, reage com um inócuo comunicado, só para não ficar calada. Mas não refuta nenhuma das acusações da ONU. Deste modo, a ONU sai-se bem na fotografia e a igreja católica sai-se mal. Mas não se pense que o Relatório da ONU vem mudar alguma coisa nas práticas da Cúria romana, dos papas e dos bispos residenciais. Tudo vai continuar como até aqui e a ONU que, agora, gritou, voltará a silenciar-se e a acobardar-se, porque também tem telhados de vidro, e que telhados!!! Todos bem conhecidos da diplomacia vaticana, a mais eficaz do planeta!

Basta a Cúria romana levantar um dedo, do seu despótico Poder monárquico e absoluto, para a ONU se pôr logo de joelhos perante ela, a confessar os seus pecados que, entretanto, não deixará de continuar a cometer, tal e qual como os clérigos pedófilos que podem confessar-se e dizer-se arrependidos uma vez por semana, mas continuarão as práticas pedófilas, porventura, apenas com um pouco mais de discrição. Até porque se se deixarem dessas práticas, que outros pecados terão para continuar a confessar todas as semanas?

Os crimes da pedofilia do clero são gravíssimos e é para eles que os grandes media e a própria ONU apontam os seus potentes holofotes. O que ninguém diz, nem quer ver, é o porquê destes crimes ocorrerem em tamanha quantidade e tanta frequência. Ora, se não se retiram as causas dos crimes de pedofilia, como impedir a sua continuação? Ainda está para nascer quem tenha a lucidez e audácia de apontar como grave crime, causante de outros crimes, como os da pedofilia do clero, o desgraçado viver quotidiano de um jovem clérigo, celibatário à força, ele próprio internado com crianças e adolescentes à sua guarda, ou de milhares de outros clérigos condenados a ter de viver estupidamente sozinhos em paróquias, que lhes pagam as côngruas ou as obradas anuais e as missas pelos mortos e os casamentos e os baptizados, mas tudo feito ritualmente, sem afectos, sem proximidade, num vazio de partir a alma, a que se junta a auto-repressão diária da própria sexualidade. De repente, os desgraçados clérigos vêem-se sozinhos com as, os adolescentes que os rodeiam no altar, vestidos com aquelas roupas efeminadas e aqueles rostos de olhos brilhantes e o pior acontece, primeiro, de forma platónica, depois, progressivamente física, em que aliciador e aliciada, aliciado, perdem o auto-controlo e é o que se sabe.

Pois bem. Mesmo que a ONU fosse acusada de ingerência no Estado do Vaticano, deveria ter posto neste seu Relatório que a Lei do celibato dos padres, em nome da qual, todos os clérigos são impedidos de casar e de constituir família, pelo menos, reconhecida pela igreja católica romana, é uma Lei contra a própria natureza humana, por isso, uma das maiores aberrações da Humanidade e, como tal, enquanto não for abolida, o Estado do Vaticano terá de ser excluído da organização. Enquanto o não fizer, por mais exaustivos Relatórios, como o que acaba de divulgar, a ONU é tão cúmplice dos crimes de pedofilia do clero, quanto os papas e os bispos residenciais. Porque fala do assunto, mas não mexe, nem com um dedo, na estrutura que, enquanto existir, produzirá inevitavelmente os mesmos crimes! Porque celibato, só o que resulta de uma opção pessoal, amadurecida e livre. Nunca, duma Lei. Semelhante Lei é o crime dos crimes. E quem a cria e mantém auto-exclui-se da própria Humanidade!

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