Usar algumas palavras que ainda não tenham idioma.
[…]
VII
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: «Eu escuto a cor dos passarinhos».
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira. E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos-
O verbo tem que pegar delírio.
(de “O Livro das Ignorãças”)
Poeta só revelado a partir dos anos 80 graças ao filme “O inviável anonimato do caramujo flor”, de Joel Pizzini, e à revista espanhola “El Paseante”. A sua voz poética está de perto ligada ao Pantanal: “Gramática expositiva do chão” (1969), “Matéria de Poesia” (1970), “Livro de pré-coisas” (1985), “O Livro das Ignorãças” (1993), “Livro sobre nada” (1996).